Rússia ajudará na retirada de habitantes da região ucraniana de Kherson
Moradores serão levados para outras regiões do país
A Rússia vai ajudar a organizar a retirada dos moradores da região de Kherson, no sul da Ucrânia, anunciou a administração regional de ocupação russa nesta quinta-feira (13).
"Após o pedido do chefe da região de Kherson da Federação Russa, Vladimir Saldo, o governo decidiu organizar ajuda para a retirada dos habitantes da região para outras regiões do país", declarou o vice-primeiro-ministro russo, Marat Jusnulin, à televisão russa. "Proporcionaremos a todos uma habitação gratuita e tudo o que necessitem", acrescentou, sem dar detalhes sobre quantas pessoas poderiam ser evacuadas.
Previamente, as autoridades de ocupação russas de Kherson haviam pedido a Moscou que retirasse os civis desse território anexado pela Rússia no fim de setembro e alvo de uma contraofensiva do exército ucraniano.
"Pedimos que todos os moradores da província de Kherson, que queiram se proteger dos mísseis [ucranianos], possam ir para outras regiões" russas, disse no Telegram o chefe da administração regional de ocupação, Vladimir Saldo.
"Peguem seus filhos e vão", exortou, em discurso difundido nas redes sociais.
Saldo pediu à Rússia a "ajuda" necessária "para organizar uma tarefa deste porte", e afirmou que havia proposto, "em primeiro lugar", a evacuação dos habitantes das localidades situadas às margens do rio Dnipro, mais próximas da linha de frente.
Esses moradores serão levados às regiões russas mais próximas de Kherson, indicou, citando a península da Crimeia, anexada em 2014 por Moscou, e as províncias de Rostov, Krasnodar e Stavropol, no sul da Rússia.
O anúncio acontece um dia depois que a Ucrânia reivindicou ter recuperado cinco localidades da província de Kherson.
Há várias semanas, o exército ucraniano está realizando uma contraofensiva nesse território do sul da Ucrânia, anexado por Moscou e onde as tropas de Kiev garantem ter recuperado mais de 400 quilômetros quadrados em menos de uma semana.
Kherson, localizada perto da fronteira da Crimea, foi a primeira grande metrópole ucraniana conquistada pelas forças russas desde o começo da guerra, em 24 de fevereiro.
Consequências graves
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, enviou uma forte mensagem ao Kremlin após ameaças veladas do presidente russo, Vladimir Putin, de recorrer a armas nucleares na Ucrânia. "Qualquer ataque nuclear contra a Ucrânia vai gerar uma resposta; não será uma resposta nuclear, mas será tão forte do ponto de vista militar que o Exército russo ficará aniquilado", disse o líder espanhol.
Para Borrell, o presidente Putin "garante que não está mentindo. E não pode se dar ao luxo de blefar agora". Mas "aqueles que apoiam a Ucrânia - a UE e seus Estados-membros, os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - também não estão blefando", apontou.
Depois que o governo russo decidiu anexar quatro territórios da Ucrânia, Putin alertou que a Rússia terá o direito de usar todos os recursos à sua disposição para se defender, em uma clara referência às armas atômicas. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alertou que tal cenário, mesmo que com o uso de armas atômicas pequenas, teria "consequências graves".
A Otan ainda não ameaçou formalmente usar seu arsenal nuclear para responder à Rússia, já que a Ucrânia não é membro da aliança militar e não está coberta por sua cláusula de autodefesa.
Turquia não se oferece para mediar
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, defendeu os laços econômicos de seu país com Moscou durante reunião com Putin no Cazaquistão. Mas Erdogan não se ofereceu para mediar o conflito entre Moscou e Kiev, algo que o Kremlin esperava.
No mesmo encontro, Putin propôs ao colega turco a criação de um "centro de gás" na Turquia para exportar gás para a Europa. O fornecimento de gás russo para a União Europeia está abalado como resultado das sanções do bloco contra Moscou e da falha do gasoduto Nord Stream.
A Turquia - que é membro da Otan - mantém um papel neutro e boas relações com seus dois vizinhos do Mar Negro. Erdogan se absteve de comentar sobre os ataques em massa lançados pela Rússia contra a Ucrânia no começo da semana, que visaram principalmente à infraestrutura de energia ucraniana e que deixaram ao menos 20 mortos.
Bombardeios
Autoridades da região russa de Belgorod, fronteira com a Ucrânia, disseram que um bombardeio ucraniano causou a explosão de um depósito de munição em uma vila. Também relataram que um bombardeio ucraniano atingiu um prédio residencial na cidade de Belgorod, sem relatos de vítimas.
O Exército ucraniano afirma ter repelido ataques russos perto das cidades de Bakhmutske, Ozaryanivka, Ivangrad, Marinka e Bakhmut. As forças pró-Rússia, por sua parte, alegaram ter tomado o controle das cidades de Opytne e Ivangrad, ao sul de Bakhmut.
Mais ao norte, houve disparos de artilharia em Yampil, perto do entroncamento ferroviário estratégico de Liman, reconquistado recentemente por Kiev.
Retornando da linha de frente, um soldado ucraniano afirmou que a cidade de Torske estava sob bombardeio russo.
No sul, Mikolaiv também sofreu ataques. Segundo seu prefeito, Oleksandr Sienkevych, um prédio residencial de cinco andares foi destruído. "Um menino de 11 anos foi retirado dos escombros e outras sete pessoas ainda podem estar presas."