Itália instaura novo Parlamento dominado pela extrema-direita
Ultradireitista Ignazio La Russa foi eleito presidente do Senado
O novo Parlamento da Itália foi instalado nesta quinta-feira (13) após a vitória da extrema-direita nas eleições legislativas de setembro, em um dia marcado pelas divisões internas diante da formação do Executivo que provavelmente será liderado pela pós-fascista Giorgia Meloni.
O ultradireitista Ignazio La Russa foi eleito presidente do Senado, votação marcada pela ausência dos senadores do partido do magnata Silvio Berlusconi, o Forza Italia, uma das legendas da coligação vencedora.
Depois de nove anos afastado do Senado, expulso por problemas judiciais, o bilionário das Comunicações está de volta, causando barulho e reações.
Em um comunicado à imprensa, publicado após a votação, o magnata de 86 anos, cujo partido obteve 8% dos votos, expressou "grande desconforto com os vetos nos últimos dias antes da formação do novo governo".
O desconforto também foi capturado pelas câmeras de televisão que filmaram a discussão acalorada entre Berlusconi e La Russa pouco antes da votação. O novo presidente do Senado, um dos fundadores do partido pós-fascista Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), recebeu 116 votos a favor (eram necessários 104), enquanto 65 ficaram em branco.
"Escolheram um patriota", reagiu Meloni.
O presidente da Câmara dos Deputados será eleito na sexta-feira (14), após complexas negociações entre as forças da coalizão vencedora. Ela é formada pelo Fratelli d'Italia, de Meloni, que conquistou 26% dos votos; pela Liga Anti-Imigração, de Matteo Salvini; e pela conservadora Forza Italia. Embora tenham obtido menos de 10% cada, Liga e Forza são fundamentais para garantir a maioria.
A senadora vitalícia Liliana Segre, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz (Polônia), foi a encarregada de presidir a sessão do Senado. Com um discurso comovente, pronunciou-se contra a guerra, lembrou que teve de deixar a escola em 1938 por causa das leis contra os judeus durante o fascismo e enviou saudações ao papa Francisco.
"É impossível não sentir uma espécie de vertigem ao lembrar daquela menina que, em outubro de 1938, foi forçada a deixar sua carteira vazia na escola. E que hoje se encontra, por um estranho destino, na mesa mais prestigiosa do Senado", disse ela depois de ser aplaudida de pé.
Como gesto simbólico, La Russa, cujo pai era secretário na Sicília do partido fascista fundado pelo ditador Benito Mussolini, presenteou-a com um buquê de rosas brancas no final da sessão.
A eleição do presidente do Senado, o segundo cargo mais importante na Itália depois do presidente da República, foi o "primeiro teste" para Meloni, alvo de pressões internas pela distribuição dos ministérios.
"Não podemos nos dar o luxo de perder tempo, a situação na Itália não é fácil", admitiu na quarta-feira Meloni, que deve enfrentar inúmeros desafios, particularmente a crise energética provocada pela guerra na Ucrânia e a alta inflação que afeta famílias e empresas.
Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado se reunirão, sucessivamente, com o presidente da República, Sergio Mattarella, iniciando as consultas para nomear um novo chefe de governo, segundo as regras desta república parlamentar.
Ao final das consultas, Mattarella deve pedir a Meloni para formar um Executivo, com o qual ela se tornará a primeira mulher na história da Itália a ocupar o cargo de primeira-ministra.
Giorgia Meloni, de 45 anos, fez poucas aparições públicas desde sua vitória eleitoral, comunicando-se apenas pelas redes sociais. A líder pós-fascista, que não tem muita experiência de governo, tem tentado tranquilizar os mercados sobre sua capacidade de gestão.
No entanto, permanece uma incógnita o nome do futuro ministro da Economia, responsável pela terceira maior economia da zona do euro, com uma dívida que chega a 150% do Produto Interno Bruto (PIB).
Esta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que a Itália deverá entrar em recessão em 2023 e que seu PIB encolherá 0,2%.