França

Greves se espalham pela França, enquanto adversários de Macron pressionam por 'confronto'

Revoltas no país provocam reações em diversos setores

Presidente da França: Emmanuel Macron - Ludovic Marin/AFP

Trabalhadores do setor ferroviário francês e funcionários públicos aprovaram nesta quinta-feira (13) a adesão à paralisação de funcionários de refinarias, despertando temores de que a revolta com o aumento crescente do custo de vida possa resultar em uma série de bloqueios.

Funcionários do setor ferroviário e servidores públicos civis, representados pelo sindicato CGT, o maior do setor público, irão paralisar suas atividades na próxima terça-feira, enquanto alguns grupos de trabalhadores convocam um dia de greve geral.

O CGT informou que está pressionando por aumentos mais altos para os trabalhadores ferroviários, mas também quer protestar contra os esforços governamentais para suspender uma greve de trabalhadores de reginarias que causou escassez nacional de combustíveis.

"Os trabalhadores ferroviários querem pressionar novamente por melhorias salariais e denunciar a repressão e o ataque ao direito de greve", informou o sindicato em um comunicado.

O governo recorreu a poderes emergenciais para forçar alguns trabalhadores de refinarias a voltar a seus postos de trabalho com vistas a liberar estoques de combustíveis armazenados dentro de instalações, alvos de bloqueios.

Seis em sete refinarias foram afetadas por greves que agora estão na terceira semana, provocando enormes engarrafamentos em frente a postos de gasolina e uma frustração crescente entre os motoristas.

"Chegou o momento de confronto (com o governo)", disse nesta quinta-feira à emissora France 2 a parlamentar Clementine Autain, do partido França Insubmissa (esquerda).

Sandrine Rousseau, uma líder dos Verdes na Assembleia Nacional, disse na quarta-feira esperar que o impasse nas refinarias seja "a faísca que dê início a uma greve geral".

Contudo, nem todos os sindicatos aderiram à convocação de greves na próxima terça-feira. O CFDT, o maior do país, ficou de fora.

Espera-se que partidos de esquerda realizem uma marcha de protesto contra as políticas do presidente Emmanuel Macron e o aumento do custo de vida no domingo.

Simpatia e revolta
Até a terça-feira, o governo estava relutante em alimentar o desacordo salarial no grupo francês de energia TotalEnergies e na gigante americana Esso-ExxonMobil, cujas refinarias foram afetadas.

A TotalEnergies obteve lucro líquido de 5,7 bilhões de dólares entre abril e junho e está distribuindo bilhões a acionistas, gerando alguma simpatia aos funcionários que pressionam por maiores salários.

Mas com 30% dos postos de gasolina na França com pouco ou nenhum combustível, particularmente na região de Paris e no norte da França, o governo começou a requisitar a volta de alguns trabalhadores de depósitos de combustível na terça, sob o risco de serem processados caso se neguem a retornar ao trabalho.

Depois de um depósito da ExxonMobil na terça, uma instalação da TotalEnergies no norte da França foi requisitada nesta quinta e os primeiros caminhões-tanque escoltados pela polícia foram vistos saindo do local durante a tarde.

O gabinete da primeira-ministra, Elisabeth Borne, informou que as medidas emergenciais se justificavam pela "ameaça econômica real" para o norte da França, que depende fortemente da agricultura, da pesca e da indústria.

Mas os sindicatos reagiram furiosamente à intervenção do governo.
"O que estamos vendo aqui é a ditadura de Macron", disse à AFP Benjamin Tange, do CGT. A atual ação industrial, afirmou, despertou "a raiva de vários meses, vários amos de uma ruptura do diálogo social".

Trabalhadores em greve na refinaria da Esso-ExxonMobil em Fos-sur-Mer, nos arredores de Marselha, no sul da França, votaram nesta quinta-feira pela suspensão do bloqueio depois de alcançarem um acordo salarial com a administração.

A TotalEnergies também anunciou que manteria conversações com representantes de sindicatos pela primeira vez desde o início das paralisações, gerando esperanças de um avanço.

O grupo propôs um aumento de 6% no próximo ano, abaixo da demanda do CGT de uma alta imediata de 10%, retroativa a 1º de janeiro.

A companhia tem estado sob pressão crescente do governo para chegar a um acordo.

O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, disse à rádio RTL que em vista dos enormes lucros deste ano, a empresa tinha "a capacidade e, portanto, uma obrigação"