"Adão Negro", com Dwayne Johnson, é mais um grande fiasco da DC nos cinemas
Filme tem roteiro confuso e com soluções equivocadas, focando mais na pancadaria do que na elaboração dos personagens
Já se passaram 15 anos desde que Dwayne Johnson, o The Rock, anunciou pela primeira vez seu desejo de dar vida nos cinemas ao personagem Adão Negro, anti-herói dos quadrinhos da DC Comics. Apesar de todo o esforço do astro - uma das figuras mais carismáticas de Hollywood - para tirar o projeto do papel, o resultado que chega nesta quinta-feira (20) aos cinemas brasileiros é um fiasco proporcional ao porte físico do seu protagonista.
O próprio Dwayne Johnson, que também assina como produtor do filme, já afirmou em diversas entrevistas que a produção iria “mudar a hierarquia do poder no Universo DC”. O que quer que isso queira dizer, a verdade é que “Adão Negro” faz jus às piores adaptações das obras da editora para o cinema, ao lado de experiências vergonhosas, como “Batman vs Superman” (2016) e “Esquadrão Suicida” (2016).
Dirigido por Jaume Collet-Serra (“A Orfã” e “Jungle Cruise”), o longa-metragem começa com um prólogo que se passa há 5 mil anos. Na fictícia nação de Kahndaq, surge o poderoso Teth-Adam (Johnson), um escravo agraciado com os poderes dos deuses antigos. Milênios depois, ele ressurge de sua tumba graças a Adrianna (Sarah Shahi), uma ativista que busca libertar seu país das forças estrangeiras.
A iniciativa de introduzir ao universo cinematográfico da DC a Sociedade da Justiça, grupo de heróis surgidos nos quadrinhos ainda nos anos 1940, é totalmente frustrada. Convocados por Amanda Waller (Viola Davis) para deter os impulsos vingativos do meta-humano milenar, Gavião Negro (Aldis Hodge), Esmaga-Átomo (Noah Centineo), Ciclone (Quintessa Swindell) e Senhor Destino (Pierce Brosnan) disperdiçam tempo em tela, servindo apenas de “escada” para o protagonista, sem que os personagens sejam verdadeiramente trabalhados.
“Adão Negro” parece ter sido feito para agradar a uma parcela do público de filmes de super-herói que se contenta em ver um grandalhão vestindo collant “descer a porrada” em todo mundo durante mais de duas horas. Esse tipo de espectador - o mesmo que costuma torcer o nariz para produções com protagonistas femininas - pode até vibrar com The Rock quebrando paredes e arremessando os inimigos, mas não deve passar ileso ao roteiro completamente confuso e às escolhas equivocadas da obra.
Diálogos sofríveis, piadas previsíveis e um empenho descomunal em oferecer repetitivas cenas de pancadaria em câmera lenta dão ao longa uma cara de filme genérico de super-herói. É inevitável a comparação com outra produção da DC: “Shazam!” (2019). A diferença é que, enquanto o filme David F. Sandberg se apropria dos clichês para fazer rir com eles, “Adão Negro” busca ser encarado como um filme sério e sombrio, mas acaba soando apenas cafona.
Em alguns momentos, a trama parece querer tocar em temas relevantes de forma simbólica. A presença da Sociedade da Justiça no conflito em Kahndaq remete ao intervencionismo norte-americano no Oriente Médio. Já a história verdadeira de Teth-Adam, revelada próximo ao final do filme, esboça uma reflexão sobre os problemas na criação de mitos e heróis. Um curto debate sobre diferentes conceitos de justiça também chega a ser levantado, mas assim como os demais temas, é trabalhado de forma superficial.
Nem mesmo a presença de The Rock consegue aliviar os vários tropeços do filme. Diante de um roteiro que não consegue explorar bem toda a complexidade do seu personagem, o ator se limita a fazer cara de mau e a empostar uma voz grave na maior parte do tempo. É por esse e outros motivos que “Adão Negro” pouco acrescenta ao universo expandido da DC no cinema, servindo muito mais por sua cena pós-crédito, que confirma o retorno de Henry Cavill ao papel do Superman.