rio de janeiro

Sem habilitação, Bruno Krupp acreditava ter condições de dirigir moto por frequentar motoclube

Advogados alegam que modelo tinha plena confiança na sua habilidade por ter treinado com o pai no condomínio em que morava

Bruno Krupp - Reprodução / Redes sociais

Apesar de não possuir Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ao atropelar o estudante João Gabriel Cardim Guimarães, o modelo Bruno Fernandes Moreira Krupp “acreditava veementemente que tinha plenas condições de dirigir a moto naquela velocidade, sem causar nenhum acidente”. Na resposta a acusação no processo em que responde pelo homicídio, seus advogados alegam que ele tinha “total confiança na sua habilidade para direção”, também por ter frequentado, desde a adolescência, os encontros de um grupo de motoclube com o pai.

“Bruno jamais assumiu o risco de sequer lesionar alguém, quiçá causar-lhe a morte. Ele acreditava veementemente que tinha plenas condições de conduzir a moto naquela velocidade, sem causar nenhum acidente, pois tinha total confiança na sua habilidade para direção. Afinal, desde que nasceu, o defendente se relacionava com motocicletas, visto que seu pai era membro de um motoclube e o levava para os encontros do grupo. Por ter crescido nesse meio, o acusado treinou, por anos, no condomínio em que costumava residir com seu pai, em Araruama, tendo, portanto, plena confiança em sua capacitação para dirigir”, escrevem Ary Bergher, Rachel Glatt e Daniela Senna. A defesa do modelo anexou ao processo uma foto que mostra Bruno, ainda criança, no motoclube.

No documento, encaminhado ao juiz Gustavo Gomes Kalil, do IV Tribunal do Júri e ao qual o GLOBO teve acesso, os advogados afirmam que João Gabriel e sua mãe, a assessora jurídica Mariana Cardim de Lima, não atravessavam a Avenida Lúcio Costa, na orla da Barra da Tijuca, na faixa de pedestres. No momento do acidente, por volta de 20h do dia 30 de julho, eles também afirmam que o sinal estava aberto para motoristas:

“Ademais, como se constata dos vídeos referidos (e como é de notório conhecimento dos moradores do Rio), a Avenida Lúcio Costa, à noite, na pista mais próxima à praia, não é movimentada. Pelo contrário, essa via é bastante vazia e com alta incidência de roubos, sobretudo a motociclistas, o que faz com que os motoristas habitualmente ultrapassem a velocidade permitida para garantir a própria segurança. O denunciado, inclusive, já foi alvo de diversas tentativas de assalto em locais próximos daquele, tendo ultrapassado o (baixíssimo) limite de velocidade permitido na via justamente por este motivo – o que é feito, na realidade, pela grande maioria das pessoas que por ali trafegam neste horário”.

"Incontestável a gravidade do fato"
Os advogados afirmam ser “incontestável a gravidade do fato de ter sido ceifada uma vida de maneira prematura e tão trágica, fardo este com que todos os envolvidos, inclusive Bruno, terão que conviver para sempre”. “Entretanto, por mais lastimosa que seja a situação, não se pode violar aquilo que preveem as leis aplicáveis ao caso. No que diz respeito à afirmação acusatória de que Bruno dirigia em alta velocidade e sem habilitação, tais circunstâncias, por si só, não permitem inferir que ele tenha aceitado o risco de atropelar alguém, causando-lhe a morte. Ademais, o fato de o respondente ter sido parado anteriormente em uma blitz não reflete descaso com a possibilidade de causar um acidente, tampouco significa que o mesmo não tenha efetiva habilidade prática de dirigir a moto”, dizem.

Entre os pedidos feitos pela defesa de Bruno Krupp está a desclassificação do caso para homicídio culposo no trânsito, crime previsto no Código de Trânsito Brasileiro e que é julgado em vara criminal comum.

“Como já exposto, o acusado foi criado, desde a infância, em ambiente de motociclismo, treinando a direção no condomínio de seu pai, de modo que acreditava plenamente em sua perícia, e, consequentemente, em sua capacidade de evitar qualquer acidente. Tanto assim que, no momento do acidente, fez a manobra adequada para a situação, qual seja, tentou realizar um desvio para a direita, o qual só não foi bem-sucedido porque a vítima (possivelmente acreditando que daria tempo de efetuar a travessia) correu para a mesma direção para a qual Bruno virou a motocicleta”, alegam.

De acordo com as investigações da 16ª DP (Barra da Tijuca), Bruno estaria em alta velocidade no momento do acidente. Na delegacia, uma das testemunhas afirmou que ele dirigia a pelo menos 150 quilômetros por hora, acima dos 60 quilômetros por hora permitidos na via. Segundo familiares, o modelo havia saído de casa, um flat também na orla da Barra, para jantar com a namorada, e nega ter ingerido bebida alcoólica. Assim como João Gabriel, o modelo foi levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge e depois encaminhado a uma unidade de saúde particular. Desde 6 de setembro, está preso no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.