Investigação

Polícia prende grupo acusado de fraudar concursos da PMPE e da Polícia Civil realizados em 2016

A organização criminosa atuava com pontos eletrônicos e falsificação de diplomas

Delegada Viviane Santa Cruz, delegado Ramon Teixeira e delegado Diogo Melo - Júnior Soares/Folha de Pernambuco

A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) deu detalhes, nesta quinta-feira (20), sobre duas operações de combate ao crime organizado e à corrupção realizadas contra suspeitos de fraudar concursos públicos. O grupo é suspeito de ter atuado nos concursos da Polícia Civil e da Polícia Militar de Pernambuco, ambos realizados no ano de 2016.

“Trata-se de uma organização criminosa com expertise na fraude de concurso público. Professores especialistas em determinadas matérias faziam a prova e em seguida saiam [da sala onde ocorria o exame]. Então, mediante micro ponto auricular, eram repassados esses gabaritos para que os candidatos pudessem marcar a prova”, explicou o delegado Diogo Melo. 

De acordo com as investigações, o grupo atuava em todo o Brasil. Nas duas operações deflagradas nesta quinta pela PCPE, foram cumpridos, além de em Pernambuco, mandados de prisão e de busca e apreensão domiciliar na Paraíba, Alagoas, Espírito Santo e no Distrito Federal.

“Cabe ressaltar que é uma organização criminosa que é contumaz nessa prática. O município de Alagoas já prendeu alvo em comum. A polícia da Paraíba também já prendeu alvos em comum. E há informações de outros concursos que eles puderam fraudar em âmbito nacional e regional, aqui no Nordeste”, comentou Melo. 

Como explicou a delegada Viviane Santa Cruz, titular da 1ª Delegacia de Combate à Corrupção, a quadrilha também falsificava diplomas de ensino superior e chegou a agir, ainda, com falsidade ideológica.

“A gente observou que o grupo criminoso atuava até mesmo na aquisição de diplomas de ensino superior e de fichas 19 [comprovante de conclusão do ensino médio] para que a pessoa pudesse ter o requisito para ingressar no concurso público.  Algumas vezes, algumas pessoas chegavam a ir no lugar desses candidatos”, disse. 

Segundo a delegada, entre as pessoas presas nas duas operações estão servidores públicos, incluindo policiais e bombeiros militares, que fariam parte da organização criminosa. “Temos um total de 10 prisões cumpridas e 30 mandados de busca e apreensão cumpridos decorrentes das duas operações, denominadas Múltipla Escolha e Pitonisa, ambas referentes a fraudes em concurso público”. 

A investigação também identificou policiais civis e militares que teriam ingressado nas carreiras mediante a fraude nos concursos realizados em 2016. De acordo com a delegada, os nomes desses servidores serão encaminhados para a corregedoria a fim de que eles percam o cargo e sejam retirados do serviço público.

 “O que a gente pretende, o resultado final, é compartilhar esse material com a corregedoria para que se possa fazer o procedimento administrativo para que assim a pessoa saia do serviço público, para que ela possa ser retirada do serviço público, mas precisa de todo o processamento administrativo necessário", pontuou. 

"Já foram identificadas algumas pessoas, mas a gente pretende ver se com o resultado desse trabalho, a gente identifica outras pessoas que possam ter utilizado essa organização criminosa. [...] Elas ainda estão atuando e a gente vai informar isso para a corregedoria, pedir essa questão do afastamento se for necessário", acrescentou.

De acordo com a delegada, o concurso não corre o risco de ser anulado. “Não houve a identificação de participação da banca organizadora com relação a isso. Então, a gente não verificou nenhuma participação,  muito pelo contrário, a banca foi bastante cooperativa na investigação", disse. 

A delega destacou, ainda, que o grupo treinava os candidatos para que ingressassem no local de prova sem que os aparelhos utilizados fossem descobertos. 

"A gente verifica realmente que eles utilizam de técnicas, treinamento inclusive, para entrar [no local do concurso] com o ponto eletrônico sem ser identificado pelo detector de mentais. Treinam as pessoas para que elas não sejam identificadas, para que a pessoa entre e não consiga ser detectada. Então, realmente, a gente verificou que a organização criminosa não tinha relação nenhuma com as bancas examinadoras e que o processo era feito todo sem o conhecimento das organizações ou mesmo dos órgãos operativos”, concluiu.