eleições 2022

Bolsolândia ou as cidades que mais votam no presidente do Brasil

Nova Santa Rosa, no Paraná, foi a segunda cidade que mais votou em Bolsonaro no primeiro turno

Jair Bolsonaro, candidato a presidência - JL ROSA/AFP

Na Avenida Santo Cristo, junto à Praça da Bíblia, Gilberto Klais desembarca de seu carro, decorado com um adesivo gigante de Jair Bolsonaro. Vestindo uma camisa jeans, o comerciante sorri e prevê: "A cidade de Nova Santa Rosa vai ser a mais bolsonarista do Brasil."

Por enquanto, essa pequena localidade do estado do Paraná, formada por fileiras de casas baixas em meio a uma extensão infinita de lavouras de soja e milho, foi a segunda que mais votou no presidente de extrema direita no primeiro turno, em 2 de outubro (82%), contra o esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva.

Não se trata de um caso isolado nessa região, habitada por uma maioria branca e cristã descendente de colonos europeus. Os municípios vizinhos de Quatro Pontes (80%) e Mercedes (78%) ficaram em terceiro e quinto lugares, respectivamente, um pódio celebrado com festa, ao contrário de outros locais do Brasil, onde o bolsonarismo é mais discreto.

"O Bolsonaro acendeu essa chama pelo nosso Brasil", diz Klais, 39 anos, presidente da associação de comerciantes local. Prova desse despertar patriótico que o ex-capitão do Exército insuflou: o mar de bandeiras nacionais que desponta dos edifícios e sua efígie com as cores verde e amarela incorporada à paisagem urbana.

Encontrar um pôster de Lula é uma missão impossível. O agronegócio, dedicado principalmente à exportação para a Ásia, é dono e senhor dessa região fronteiriça com o Paraguai, próxima às Cataratas do Iguaçu, onde se dirige em picapes por estradas quase desertas.

Bolsonaro, um aliado próximo desse setor, “nos deu certeza para investir”, defende “uma economia forte” e a família e Deus “como o bem melhor”, enumera Klais, padeiro de profissão. "É como nós", resume.

Aqui, as críticas pelas 687 mil mortes causadas pela Covid-19, o aumento da fome ou o desmatamento na Amazônia são inaudíveis.

Visita de Bolsonaro?
Na fazenda de seu pai, onde um caminhão-tanque se transformou em um painel gigante com o slogan de Bolsonaro "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", Ricardo Lorenzatto, 35, quer converter pelo menos 200 dos 800 habitantes que votaram em Lula até a data do segundo turno, 30 de outubro.

O presidente "falou que iria visitar a cidade com mais votos. O coração dispara", diz esse engenheiro agrônomo de olhos azuis, que está bastante envolvido em grupos de WhatsApp para organizar atos proselitistas, como o desfile sobre rodas que promoveu no feriado nacional de 7 de setembro.

“Formamos 4 km de fila” bolsonarista, diz Lorenzatto, com orgulho, sobre um presidente que "será ainda melhor" com o fim da pandemia, embora sem dar detalhes sobre o que espera. Já com Lula, que a extrema direita associa ao comunismo, ele só vê perigos para "o futuro" de seus dois filhos: "É um medo a invasão das terras pelos indígenas sim."

Medos
"Nós nos sentiríamos muito inseguros se o Lula ganhasse", diz Clarice Randoll, 60, que segura o neto de 1 ano nos braços, na varanda de sua casa sem portão, na entrada de Mercedes. Na fachada, ela pendurou uma foto de Bolsonaro para "dar força” ao candidato, que obteve 43% dos votos no primeiro turno, contra 48% para Lula.

Evangélica em uma cidade de 6 mil habitantes com uma dúzia de igrejas, Clarice repete o discurso de alguns pastores para desencorajar o voto em Lula: que o seu retorno ao poder significaria "uma desmoralização humana" para os mais jovens. "É o medo que toda mãe e todo pai brasileiro tem de ter os filhos nas mãos do PT", diz, apesar de o partido esquerdista continuar defendendo posições conservadoras, como o não ao aborto.

Interesses fora
André Fiedler não quer ser "hipócrita". "O agronegócio não deixou de ser atendido durante o governo de Lula, pelo contrário", ressalta o produtor agrícola em um de seus galpões em Mercedes, onde cria frangos para exportação.

O governo Bolsonaro, no entanto, defende como ninguém o comércio exterior do Brasil, abrindo “novos mercados para os nossos produtos”, defende esse engenheiro de formação, que se instalou em sua terra natal há três anos, após uma carreira no exterior.

"O Bolsonaro está produzindo uma imagem feia do Brasil para fora? Não sei como. É um jogo de comércio muitas vezes. O protecionismo na França e na Alemanha é muito forte. Nos Estados Unidos também. E hoje quem é o maior produtor de grãos de soja do mundo? O Brasil. O maior exportador de frango? O Brasil. Existe um interesse muito grande em não deixar o país avançar", resume Fiedler.