SAÚDE

Estudo mostra que dependência de energias fósseis põe em risco a saúde humana

Esse estudo anual foi feito por 99 especialistas de 51 instituições

Fumaça de carro - Pixabay

Especialistas médicos denunciam nesta quarta-feira (26) que o excesso de dependência global em energias fósseis, causadoras das mudanças climática, tem efeitos nocivos para a saúde.

"O mundo está em um ponto de inflexão (...) Devemos mudar. Caso contrário, nossos filhos vão enfrentar uma mudança climática acelerada que vai ameaçar sua sobrevivência", advertiu Anthony Costello, professor e copresidente da Lancet Countdown [contagem regressiva da revista Lancet, em inglês].

Este estudo anual foi feito por 99 especialistas de 51 instituições, entre elas a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), sob a supervisão do University College London.

A pesquisa, publicada dias antes do início da Conferência da ONU sobre o Clima (COP27) em Sharm el Sheikh, revela que a maioria dos países continua destinando centenas de bilhões de dólares em subvenções aos combustíveis fósseis.

Estas quantidades são compartilhadas ou inclusive superiores a seus orçamentos sanitários, diz o estudo.

No entanto, "a dependência excessiva e persistente nos combustíveis fósseis agrava rapidamente as mudanças climáticas" e "traz consequências perigosas para a saúde", adverte.
 

Aumentam as mortes relacionadas com o calor
A elevação das temperaturas e o aumento de fenômenos meteorológicos extremos - que se intensificam com as mudanças climáticas - deixaram quase 100 milhões de pessoas a mais em situação de insegurança alimentar grave do que no período 1981-2020, destaca Elizabeth Robinson, diretora do Instituto de Pesquisa Grantham da London School of Economics, uma das principais coautoras do estudo.

Além disso, as mortes relacionadas com o calor aumentaram 68% entre 2017 e 2021 em relação ao período 2000-2004. Por outro lado, a exposição humana a dias de risco alto de incêndio aumentou 61% com relação a períodos similares.

As mudanças climáticas também têm consequências na propagação de doenças infecciosas, diz o estudo.

O período propício para a transmissão da malária aumentou em quase um terço (32,1%) em algumas partes do continente americano e em 14% na África durante a última década, em comparação com o período 1951-1960.

Em nível mundial, o risco de transmissão de dengue aumentou 12% nesse período.

"A crise climática nos mata. Não só prejudica a saúde do nosso planeta, como também a de todos os seus habitantes (...), enquanto a dependência de combustíveis fósseis se torna incontrolável", reagiu o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Há um ano, a OMS tinha calculado que entre 2030 e 2050, cerca de 250.000 mortes adicionais ao ano poderiam ser relacionadas às mudanças climáticas.

Descarbonizar a energia
Os países contribuem eles próprios com esta crise sanitária que as energias fósseis já subvencionam, reforça o estudo.

Dos 86 governos analisados, 69 subvencionaram a produção e o consumo de combustíveis fósseis em um total líquido de 400 bilhões de dólares em 2019.

É por isso que "a intensidade de carbono do sistema energético mundial (o setor que mais contribui para as emissões de gases de efeito estufa) diminuiu menos de 1% em comparação a 1992".

"No ritmo atual, a descarbonização completa do nosso sistema  energético levaria 150 anos", destaca o informe.

Paul Ekins, professor de Recursos e Política na Bartlett School do University College de Londres, acredita que as "estratégias atuais de muitos governos e empresas vão confinar o mundo em um futuro fatalmente mais quente" e fortalecerão ainda mais o uso de combustíveis fósseis.

Estes, avalia, "estão encerrando rapidamente as perspectivas de um mundo habitável".

Diante desta perspectiva, os autores do estudo pedem uma "resposta centrada na saúde".

A melhora da qualidade do ar evitaria até 1,3 milhão de mortes por exposição aos combustíveis fósseis só em 2020.

E acelerar a mudança para dietas baseadas em plantas poderia reduzir as emissões da agricultura em 55% e evitar até 11,5 milhões de mortes ao ano, relacionadas com a alimentação.