Diplomacia

Israel e Líbano assinarão acordo para delimitação da fronteira marítima

Negociações foram mediadas pelo governo dos Estados Unidos

Bandeira do Líbano, país no Médio Oriente - Pixabay

Israel e Líbano, países vizinhos oficialmente em guerra, assinaram nesta quinta-feira (27) um acordo para a delimitação da fronteira marítima, após meses de negociações mediadas pelo governo dos Estados Unidos.

O acordo foi assinado pelo premiê israelense, Yair Lapid, e pelo presidente libanês, Michel Aoun, antes de uma troca de cartas que marcará sua conclusão formal.

O primeiro-ministro Lapid disse que o acordo é um "reconhecimento", de fato, de Israel por parte de Líbano. Já o presidente Aoun, aliado do pró-iraniano Hezbollah, ressaltou que o texto não tem qualquer "dimensão política".

"Esta é uma conquista política. Não é todo o dia que um Estado inimigo reconhece o Estado de Israel em um acordo escrito, e isto acontece diante de toda comunidade internacional", celebrou Lapid.

Em um tuíte, o presidente Aoun respondeu que se trata de um acordo puramente "técnico", sem qualquer "dimensão política", ou "consequências que contradigam a política externa do Líbano".

O Líbano não quer que sua delegação tenha qualquer contato oficial com a de Israel, por isso exigiu a realização da cerimônia em duas salas separadas.

Como resultado prático, o chefe do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, anunciou hoje o fim da mobilização militar "excepcional" do grupo contra Israel.

Nasrallah, que chegou a afirmar que atacaria Israel em caso de exploração do campo de gás de Karish sem um acordo prévio, afirmou que o tratado limítrofe representa "uma grande vitória" para o Líbano.

"Todas as medidas excepcionais e especiais de mobilização realizadas pela resistência por vários meses foram declaradas encerradas", disse Nasrallah em um comunicado televisionado.

"Nossa missão está concluída", disse ele, acrescentando que o acordo "não é um tratado internacional e não é um reconhecimento de Israel".

O presidente americano, Joe Biden, celebrou hoje a assinatura desse acordo "histórico".

A imprensa não tem acesso ao local, protegido pelas forças de paz e pelo Exército libanês.

Para o Líbano, mergulhado em uma profunda crise econômica, este acordo chega poucos dias antes do fim do mandato do presidente Aoun, sem que seu sucessor esteja definido. Também acontece pouco antes das eleições legislativas de 1º de novembro em Israel, para as quais Lapid está fazendo campanha.

Troca de cartas 
"O acordo sobre os limites marítimos terá o formato de duas trocas de notas, uma entre Líbano e Estados Unidos, e outra, entre Israel e Estados Unidos", declarou o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric.

Segundo as autoridades israelenses, este gás não apenas reduzirá os custos energéticos do país, como também impulsionará as exportações para a Europa. O continente busca diversificar seus fornecedores, devido à invasão russa da Ucrânia.

O acordo, que permitirá aos dois países explorar as reservas de gás no leste do Mediterrâneo, foi alcançado após anos de mediação americana. Prevê deixar sob controle de Israel o campo de Karish e conceder ao Líbano o campo de gás de Qana, mais ao nordeste.

Uma parte desta última reserva ultrapassará, no entanto, a linha de fronteira entre os dois países e, desta maneira, Israel ficará com parte do lucro de exploração, segundo o acordo.