Tragédia

Repressão a protestos no Irã deixa ao menos oito mortos em 24 horas, segundo AI

Movimentos no país perduram há seis semanas

Protestos no irã - OLIVIER DOULIERY / AFP

 

Milhares de pessoas continuaram os protestos no Irã nesta quinta-feira (27), apesar da repressão sangrenta que deixou oito manifestantes mortos por disparos das forças de segurança nas últimas 24 horas, segundo uma ONG.

Além disso, o país foi sacudido na véspera por um atentado contra um mausoléu xiita que deixou 15 vítimas fatais. O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, prometeu "punir" os responsáveis.

Embora o atentado tenha sido reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico, Raisi pareceu vinculá-lo aos protestos, ao afirmar que estes abrem a via para ataques "terroristas".

"As forças de segurança do Irã mataram pelo menos oito pessoas desde a noite passada, quando abriram fogo contra pessoas em luto e manifestantes" nas províncias do Curdistão, Azerbaijão Ocidental, Kermanshah e Lorestão, informou a Anistia Internacional.

Na quarta-feira foram realizadas comemorações importantes para marcar os 40 dias da morte sob custódia policial de Mahsa Amini, uma curda iraniana de 22 anos, que foi o estopim dos protestos.

O relator especial da ONU sobre os direitos humanos no Irã, Javaid Rehman, denunciou nesta quinta-feira a "brutalidade" do regime iraniano e pediu a criação de um "mecanismo internacional" para investigar a morte de "pelo menos 250 pessoas" desde meados de setembro na repressão aos protestos.

Quase seis semanas depois da morte de Amini, a mobilização, alimentada pela indignação pública após a repressão que custou a vida de outras mulheres jovens e meninas, não dá sinais de perder força.

A França também condenou a repressão e informou que trabalhava com seus parceiros europeus em novas sanções contra autoridades iranianas.

Conspiração
O presidente iraniano afirmou nesta quinta que os "distúrbios" provocados pela morte de Mahsa Amini abriram a via para ataques "terroristas", após o atentado reivindicado pelo EI contra um mausoléu da cidade de Shiraz (sul).

"A intenção do inimigo é interromper o progresso do país e estes distúrbios abrem o caminho para atos terroristas", disse, em declarações transmitidas pela televisão.

Nesta quarta, ele prometeu "castigar" os autores do ataque em Shiraz.

O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, pediu nesta quinta-feira unidade ao país para combater a "conspiração" alimentada pelos "inimigos do Irã".

O Ministério das Relações Exteriores iraniano também convocou o embaixador alemão, Hans-Udo Muzel, nesta quinta para protestar contra os comentários de funcionários alemães, que "incitam distúrbios" no Irã, reportou a agência Irna.

Berlim havia dito na véspera que queria endurecer ainda mais suas relações com Teerã por causa da repressão.

Manifestações noturnas
O Irã vive a maior onda de protestos em anos, liderados por mulheres jovens que desafiam as forças de segurança saindo diariamente para se manifestar, não hesitando em repetir palavras de ordem contra as autoridades e exigindo mais liberdade.

Milhares de pessoas - 10.000, segundo a agência ISNA - foram nesta quarta-feira à cidade natal de Amini, Saqqez, na província do Curdistão, para homenageá-la em sua tumba no fim do período de luto tradicional no Irã.

"Não deveríamos chorar nossos jovens, deveríamos vingá-los", gritavam os manifestantes, segundo o grupo de direitos humanos Hengaw, com sede na Noruega.

Segundo vídeos publicados por esta ONG, as forças de segurança abriram fogo contra pessoas na praça Zindan em Saqqez e em Marivan, província do Curdistão.

Os manifestantes também cercaram uma base da milícia Basij em Sanandaj, na província do Curdistão, provocando incêndios e fazendo as forças de segurança recuarem, acrescentou Hengaw.

Houve cenas similares na cidade de Ilam, perto da fronteira ocidental do Irã com o Iraque.

Nesta quinta, os protestos prosseguiram com uma concentração em frente à tumba de Nika Shahkarami, de 16 anos, perto da cidade ocidental de Jorramabad, 40 dias depois de ela ter sido morta pelas forças de segurança, segundo o grupo de defesa dos direitos humanos HRANA, com sede nos Estados Unidos.

O site de monitoramento online NetBlocks informou mais tarde sobre uma "importante interrupção da Internet" na província do Azerbaijão Ocidental "com um grande impacto em Mahabad".

Os jovens também se reuniram nas universidades de Teerã e Karaj, a oeste da capital, segundo outras imagens compartilhadas nas redes.

A repressão aos protestos em todo o Irã deixou ao menos 141 mortos, entre eles crianças, segundo um balanço atualizado da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega.

Também houve uma campanha de detenções em massa de manifestantes e simpatizantes, incluindo professores universitários, jornalistas e celebridades.