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"Brutal" repressão dos protestos alimenta novas manifestações no Irã

ONGs de direitos humanos temem um aumento da repressão após o fim do luto de 40 dias pelos primeiros mortos, assassinados no início do movimento

"Brutal" repressão dos protestos alimenta novas manifestações no Irã - AFP

Os iranianos saíram às ruas em todo país pela segunda noite consecutiva para protestar contra a morte de manifestantes na repressão contra as mobilizações pelo caso da jovem Mahsa Amini.

Desde a morte desta curda iraniana de 22 anos, seis semanas atrás, os protestos, liderados principalmente por mulheres, não perderam força.

Mahsa Amini morreu em 16 de setembro, três dias depois de ser presa pela polícia da moralidade por supostamente violar o código de vestimenta imposto às mulheres.

Ao lema inicial "Mulheres, Vida, Liberdade" foram adicionadas - durante as manifestações duramente reprimidas - palavras de ordem dirigidas contra a República Islâmica fundada em 1979.

"2022 é o ano do sangue", "Seyed Ali será derrubado", gritaram os manifestantes, na quinta-feira (27), em um bairro do oeste de Teerã contra o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, segundo um vídeo verificado pela AFP.

O movimento é alimentado pela indignação com o número de pessoas mortas pelas forças policiais que não conseguem acabar com os protestos. São "pelo menos 250 vítimas fatais" desde meados de setembro, segundo o relator especial da ONU sobre os direitos humanos no Irã, Javaid Rehman.

Na quinta-feira (27), ele denunciou a "brutalidade" do regime iraniano e pediu a criação de um "mecanismo internacional" de investigação.

As ONGs temem um aumento da repressão após o fim do luto de 40 dias pelos primeiros mortos, assassinados no início do movimento.

Na quarta (26), milhares de pessoas se reuniram em Saghez, cidade natal de Mahsa Amini na província do Curdistão, para marcar o fim do luto. No dia seguinte, também houve incidentes perto de Khoramabad (oeste), onde uma multidão se reuniu no túmulo de Nika Shahkarami, de 16 anos, que morreu 40 dias antes, de acordo com vídeos verificados.

Repressão mais violenta?
Dezenas de jovens foram vistos lançando projéteis contra as forças de segurança perto do local do enterro de Shahkarami, segundo imagens de vídeo verificadas pela AFP.

Outros incidentes ocorreram na quinta-feira após o funeral de um manifestante de 35 anos, Ismail Mauludi, em Mahabad (oeste), onde as forças de ordem abriram fogo e mataram três pessoas, segundo o grupo de direitos humanos Hengaw.

"Morte ao ditador", gritavam os manifestantes, apontando para o aiatolá Ali Khamenei, enquanto os escritórios do governador de Mahabad queimavam, de acordo com imagens de vídeo verificadas compartilhadas nas redes sociais.

Outros dois manifestantes foram mortos em Baneh, também no oeste, perto da fronteira com o Iraque, ainda conforme o Hengaw.

No total, oito manifestantes em quatro províncias - Curdistão, Azerbaijão Ocidental, Kermanshah e Lorestão - foram mortos entre a noite de quarta e quinta-feira, disse a Anistia Internacional.

A ONG advertiu contra a "inação" do Conselho de Direitos Humanos da ONU, "que encorajaria as autoridades iranianas a continuarem a repressão contra os enlutados e os manifestantes".

Analistas observam que as autoridades iranianas estão tentando reprimir os protestos por outros meios que não a repressão violenta, de modo a evitar a ira popular.

"No momento, parecem estar tentando outras técnicas - como prisões e intimidações, cortes na Internet, ou até mesmo abatendo alguns manifestantes", disse à AFP Henry Rome, especialista em Irã do Washington Institute.

"Mas duvido que as forças de segurança tenham descartado a possibilidade de uma repressão muito mais violenta", estimou.

Neste contexto, as autoridades iranianas demitiram duas autoridades de segurança em Zahedan, incluindo o chefe de polícia, após a violência mortal que deixou dezenas de mortos no final de setembro, informou a imprensa estatal nesta sexta-feira (28).

Zahedan, capital da província do Sistão-Baluchistão, uma das mais pobres do Irã, foi afetada pela violência em 30 de setembro, durante a qual seis membros das forças de segurança foram mortos, segundo as autoridades.

Já organizações de direitos humanos fora do Irã citam um número de mais de 90 mortos.

Centenas de pessoas foram às ruas em Zahedan em 21 de outubro. As autoridades relataram a prisão de dezenas de "agitadores" à margem dos protestos.

Fazendo fronteira com o Paquistão e o Afeganistão, a província do Sistão-Baluchistão é palco frequente de ataques, ou de confrontos entre forças da lei e grupos armados. É o lar da minoria baluchi, que adere principalmente ao islamismo sunita, e não ao xiismo dominante no Irã.