Turnê

Música preta de Pernambuco ocupa a África sob o comando de Isaar e Afonjah

Projeto "Afonjah e Isaar na África" circula em turnê com grupo de artistas por Moçambique e África do Sul

Parceria ligada pela ancestralidade - Foto: Ricardo Fernandes/Divulgação

Uma ida a Moçambique somada a uma residência artística em Olinda remeteu o produtor cultural Afonso Oliveira às memórias deixadas outrora no país africano. Guardadas pela pandemia, tão logo as amenidades voltaram a aflorar, a urgência (necessária) de colocar em prática o que havia percebido em suas andanças veio à tona e foi compartilhada, culminando no projeto “Afonjah e Isaar na África” – movimento que além de levar a sonoridade dos dois artistas pernambucanos, Valdi Afonjah e Isaar, para um (re)encontro com suas ancestralidades, embarcou também um grupo de músicos, produtores e pesquisadores que durante vinte dias estarão entregues às possibilidades do solo africano. 
 



“Estávamos Afonjah e eu no estúdio de Buguinha Dub, lá no Carmo (Olinda) e logo depois de escutar com ele ‘Oxumarévocê’, Isaar chegou e os dois começaram a cantá-la. Foi o suficiente para visualizar os dois, e com aquelas vozes, em Maputo, capital de Moçambique. Era 2019... E foi ali que nossa viagem foi iniciada”, contou Afonso, em conversa com a Folha de Pernambuco. 

Música preta pernambucana
Ele, autor da música em parceria com Afonjah, e que foi lançada recentemente nas plataformas digitais, está em solo africano desde a última terça-feira (25), com um grupo de doze pessoas, além da dupla que dá nome ao projeto e que até este domingo (30) atuam em um clipe que será gravado em Soweto, cidade onde morou o casal Mandela e o bispo Desmom Tuto, arcebispo da Igreja Anglicana e ganhador do Nobel da Paz por imprimir, ao lado do líder africano, a luta contra o Apartheid. “Vamos fortalecer a música preta pernambucana”, exalta Afonso, que dirige o trabalho ao lado da cineasta Erlânia Nascimento.

Sob fomento do Funcultura, “Afonjah e Isaar na África” segue em viagem até 10 de novembro. Além do clipe, atividades no Museu Mafalala – espaço dedicado à memória e a cultura local – incluindo oficina ministrada pelo percussionista Felipe França, também integra a programação que pretende mesclar ritmos pernambucanos e moçambicanos. Para Isaar, que assim como Valdi Afonjah vai pisar pela primeira vez na África, os dias vão se tornar um divisor de águas. 

Ancestralidade pulsante
“Estamos felizes, muito felizes, porque é uma equipe que vai aprender, entender, ver esse continente... Isso tudo traz uma ancestralidade que não é só nossa, mas da humanidade. Ver isso de perto, entender o que é isso, vai ser emocionante. Essa viagem vai encher a gente”, contou Isaar. Sentimento semelhante de Afonjah, experiente em vivências mundo afora, mas até então, nunca na África. “A música é o meu passaporte para o mundo e mais uma vez estou indo, através dela, conhecer e fazer essa conexão, agora com a África, com a origem. E ao mesmo tempo vou levando minha experiência de afrobrasileiro, que é uma soma de tudo. Vamos ver o que vai acontecer”, comenta Afonjah.

Pensado para ir além dos palcos e funcionar também como um intercâmbio artístico, a turnê vai empreender na gravação de um documentário no Museu Mafalala. Por lá, haverá encontro com o Tufo da Mafalala – grupo formado por mulheres africanas. A identidade local também vai ser explorada com o rapper Kloro e com ritmos urbanos, entre eles o jazz, o soul e o reggae, levado pela cantora Rodhalia Silvestre.

Vale destacar, ainda, que na agenda do grupo ainda vai rolar gravações de músicas inéditas por Isaar e Afonjah, pesquisas voltadas à temática afro e participação no 13º Festival Mafalala. “A turnê poderá ser acompanhada por quem quiser, via Instagram do projeto (@afonjaheisaarnaafrica)”, adianta Afonso que também lembrou que a agenda de shows em terras pernambucanas começa no dia seguinte do retorno ao Brasil. “Voltamos dia 11 e dia 13 já tem o Festival Tipoia (Tracunhaém), no dia 22 estaremos no Pátio de São Pedro, na programação do Dia da Consciência Negra e dia 26 em Itambé, no Festival Canavial”.