Economia

Por que, apesar da queda nas ações, os gestores estão otimistas com o Brasil?

A existência de um Congresso de centro-direita tende a frear gastos sociais excessivos. Mercado está na expectativa de escolha da equipe econômica

Investimento - Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Ativos brasileiros, como ações e fundos atrelados a empresas nacionais, tiveram forte desvalorização nesta manhã, dia seguinte à vitória de Lula no segundo turno das eleições. Mas responsáveis por grandes gestoras internacionais mantêm o otimismo e ponderam que, com a definição do plano econômico e a escolha de sua equipe, o mercado tende a ficar menos volátil.

No pré-mercado da Bolsa de Nova York, as ações da Petrobras despencaram 11%. O ETF iShares MSCI Brazil, que reúne US$ 5,5 bilhões em papéis de empresas brasileiras, caiu cerca de 5%.

"Eu seria cauteloso com as estatais. Se Lula se cercar das pessoas corretas e dizer as coisas corretas, o mercado poderá 'comprar' uma queda inicial e continuará sua trajetória", disse Malcolm Dorson, gerente da Mirae Asset Global Investments, em Nova York.

Embora a vitória de Lula fosse esperada pelo mercado, o impacto de um terceiro mandato do candidato do PT vai depender dos sinais que ele der e de quem ele vai escolher para substituir o ministro da economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, avalia o RBC Capital Markets.

"Será difícil para Lula se afastar de um multipartido e uma aliança mais centrista que ele construir para a sua campanha", escreveu em relatório Elsa Lignos, da RBC Capital Markets.

A possibilidade de contestação das eleições vinham deixando analistas e investidores preocupados. Alguns analistas viam uma possível turbulência na transição como um dos principais riscos após o resultado da votação.

 "O mercado não gosta de incerteza e falta de visibilidade - disse Stephane Ekolo, estrategista do TFS Derivatives, em Londres. - E até agora Lula não fez nada para aliviar uma ou outra.

Congresso autônomo
Ela se refere à ausência de indicações de quem vai compor a equipe econômica do futuro presidente. No entanto, Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs, frisou em relatório que Lula vai ter de lidar com um Congresso mais autônomo e independente em décadas.

Os partidos de centro e centro direita, diz, devem impor certos limites às políticas do novo presidente, como o alcance de um eventual aumento de impostos ou expansão de gastos para compromissos permanentes. Da mesma forma, os parlamentares eleitos tendem a mostrar apetite limitado por grandes reformas.

Portanto, uma coalização será chave para o próximo presidente, em particular devido a uma base de apoio ampla e multipartidária no Congresso, que pode ser tornar instável.

Ações de empresas de educação e varejo

A vitória de Lula deve colocar as ações das empresas do setor de educação sob holofotes, com a expectativa de um programa que providencie crédito barato para estudantes. Varejistas também podem se beneficiar, com perspectiva de mais ajuda econômica e, assim, crescimento do consumo.

Ações da Sabesp, empresa de saneamento de São Paulo, também podem subir com a vitória de Tarcísio de Freitas para o governo de São Paulo, disse o Bradesco BBI. Ele era ministro de Infraestrutura de Bolsoanaro e chegou a mencionar apoio a uma possível privatização da empresa.

"Assumindo que uma transição ordenada acongteça, o efeito deve ser a queda do risco político sobre os ativos brasileiros, que estão desvalorizados", disse Udith Sikand, analista sênior de mercado emergentes na Gavekal Research.