Guerra na Ucrânia

Ucrânia retoma exportações de grãos após Rússia voltar a acordo

Acordo estabelece um corredor marítimo seguro no Mar Negro

Plantação de grãos na Ucrânia - Oleksandr Gimanov/AFP

As exportações de grãos ucranianos foram retomadas, nesta quarta-feira (2), depois que a Rússia voltou ao acordo mediado pela ONU e pela Turquia para estabelecer um corredor marítimo seguro no Mar Negro.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ao Parlamento que "os embarques de grãos continuarão a partir das 12h de hoje, conforme planejado", depois de um telefonema entre os ministros da Defesa turco e russo.

O ministério da Defesa russo confirmou seu retorno ao acordo após receber "garantias por escrito" da Ucrânia sobre a desmilitarização do corredor usado para o transporte de grãos.

"A Rússia considera que as garantias que recebeu até agora parecem suficientes e retoma a aplicação do acordo", declarou o ministério em comunicado.

O coordenador da ONU para a iniciativa, Amir Abdulla, saudou no Twitter "o retorno da Rússia" ao acordo.

Desde que o pacto foi estabelecido, cerca de 10 milhões de toneladas de grãos ucranianos foram exportados pelo Mar Negro.

O acordo permitiu aliviar a crise alimentar global desencadeada após a invasão da Ucrânia pela Rússia no final de fevereiro.

Sob os termos do acordo, os navios que entram e saem da Ucrânia são inspecionados por uma equipe conjunta de funcionários turcos, da ONU, ucranianos e russos.

Mas Moscou anunciou no sábado a suspensão de sua participação por tempo indefinido depois de acusar a Ucrânia de um ataque "massivo" à sua frota do Mar Negro ancorada na Crimeia.

Uma série de telefonemas nos últimos dias entre autoridades russas e turcas, incluindo um na terça-feira entre Erdogan e o presidente russo Vladimir Putin, e a mediação da ONU, parecem ter convencido Moscou a reconsiderar sua posição.

"Perigoso sem a Rússia"
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, declarou que uma "defesa confiável e de longo prazo" do corredor era necessária, enquanto seu colega russo exigiu "garantias reais" de respeito ao acordo.

Em conversa com Zelensky na terça, o presidente francês Emmanuel Macron denunciou a decisão da Rússia de deixar o acordo, dizendo que "prejudicava a segurança alimentar global".

A Ucrânia rejeitou as acusações da Rússia como um "falso pretexto" para se retirar do acordo.

Já o Kremlin criticou o pacto, alegando que a maioria dos carregamentos foi para a Europa, e não para países pobres onde os grãos são mais necessários.

As autoridades ucranianas rejeitaram tais denúncias, e os dados coletados por um grupo de monitoramento como parte do acordo desmentem a alegação russa.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse na segunda-feira que seria "perigoso" continuar as exportações sem o envolvimento da Rússia.

O ministério da Defesa russo explicou hoje que obteve garantias de que Kiev "não utilizará o corredor humanitário e os portos ucranianos destinados à exportação de produtos agrícolas para realizar operações militares contra a Federação da Rússia".

Restrições de eletricidade
A Rússia respondeu ao suposto ataque à sua frota em Crimeia na segunda-feira com uma série de bombardeios maciços contra infraestruturas essenciais da Ucrânia, causando cortes de energia e água, especialmente na capital Kiev.

A operadora ucraniana Ukrenergo anunciou novas restrições de eletricidade nesta quarta, e o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, prometeu implantar mil pontos de aquecimento para que os habitantes enfrentem o inverno.

Zelensky informou que os ataques russos danificaram 40% das instalações de energia da Ucrânia, levando o país a interromper as exportações para a UE, onde os preços estão subindo.

No front, o Estado-Maior ucraniano relatou combates, principalmente no leste, e bombardeios de 25 cidades no leste, centro e sul.

O governador da região leste de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, reportou a morte de quatro civis nas últimas 24 horas.

As autoridades russas de ocupação na região de Kherson anunciaram na terça-feira a retirada de milhares de pessoas da área, depois de mover quase 70.000 pessoas na semana passada.

A Ucrânia denunciou as "deportações" de sua população pela Rússia.