Bivar diz que União Brasil pode integrar base de Lula no Congresso: "Temos dívida com a esquerda"
Deputado pernambucano diz que quer manter sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados no ano que vem, e que partido não será da oposição
O presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), que controla uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, com 59 parlamentares em 2023, diz que está disposto a conversar com o PT para integrar a base aliada do governo Lula, e garante que não estará na oposição. Apesar de aceno a Lula, maioria da bancada eleita do União Brasil apoiou Bolsonaro.
Bivar, que, há quatro anos, cedeu o PSL para que Bolsonaro fosse eleito presidente, hoje diz que é um "radical do Estado de direito" e quer concorrer à presidência da Câmara dos Deputados no ano que vem.
O senhor ainda quer concorrer à presidência da Câmara dos Deputados?
Sim. O União Brasil vai ter um candidato, mas o nome não está definido. Quando eu retornar ao Brasil, vou conversar com a bancada.
Qual postura o partido terá no novo governo?
Nós estamos preocupados agora mais com a Câmara dos Deputados. Essa é toda nossa preocupação agora. A bancada quer ter os seus espaços e o União Brasil nasceu para a gente fortalecer a democracia, as instituições. A gente não pode ter um país cheio de turbulência. é hora de voltarmos a ter paz, tranquilidade, não fustigar as instituições, o Estado de direito. Essa é a razão precípua para o surgimento do União Brasil.
Alguém do PT já o procurou pra conversar?
Ainda não, mas esses dias todos eu estava sempre viajando para fora do país. Devo estar voltando na quarta-feira (dia 9 de novembro).
O União é a favor da reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD) no Senado?
Isso passa pela (disputa da presidência) na Câmara. Todos os partidos que brigavam pelas instituições, pela democracia, enxergam o governo (eleito) com um sinal de grande simpatia. A esquerda foi quem mais resistiu às fustigações antidemocráticas desse país, isso a gente não pode negar. Temos uma dívida com a esquerda em relação a isso.
O União Brasil é mais liberal que o PT na pauta econômica?
O liberalismo econômico que nós defendemos não é você se apropriar dos bens de Estados. A própria Petrobras é um bem do estado. E acho que, nessas empresas estatais, o importante é que sejam rentáveis. Não é por ser estatal que tem que privatizar. É preciso de uma razão precípua. Nós somos contra monopólio. Quer seja privado, quer seja estadual. O objetivo nosso é (favorecer) o consumidor.
O senhor é contra a reeleição de Arthur Lira (presidente da Câmara)?
O Lira tem todo o direito de se candidatar à reeleição. Isso é estatutário.
Dos 59 deputados federais do União Brasil, quantos estão dispostos a integrar a base do governo?
Isso é uma discussão que não levei ainda para a bancada. Temos cerca de 40% de deputados de nossa bancada que são novos, então precisamos conversar um a uma para saber quais são os interesses.
O partido integraria uma frente parlamentar governista, oficialmente?
Isso é uma discussão que vai além da presidência (do partido). Tenho que discutir com a bancada, mas eu não faço nenhuma objeção. Tudo é uma questão de conversar com o governo. Mas não existe, por conta disso, uma aliança dogmática. Nós temos os princípios do União Brasil.
O governo vai ter que negociar pauta a pauta?
O que eu posso te dizer é o seguinte. Nós não seremos oposição ao governo. Mas somos independentes. Podemos integrar a base, sim. Estamos sempre dispostos. Se tivermos uma representação significativa como a que temos na Câmara dos Deputados, queremos conversar com o governo diariamente. É o maior partido independente do Brasil. Fizemos 60 federais sem caneta de nenhum governador nem do presidente.
O que achou da derrota de ACM Neto, de seu partido, na Bahia?
Incidente político. Mas Neto é um político jovem e inteligente e essas coisas são absolutamente compreensíveis dentro da normalidade democrática.
Teve uso da máquina do governo (hoje nas mãos do PT)?
O uso da máquina, desde que de forma correta, é importante.
O que acha dos protestos questionando o resultado da eleição?
Essa minoria que causa esse radicalismo nas ruas é que levou o Bolsonaro a perder a eleição. Porque isso é uma insanidade. Quem tem um mínimo de formação constitucional, de Estado de direito, só pode caracterizar como insanidade. Mas paciência. Se a gente for internar os loucos do Brasil, vai faltar manicômio.
O senhor continua fazendo um mea culpa por ter abrigado o Bolsonaro?
Até no casamento católico apostólico romano, ninguém mais segue os preceitos. Pode desquitar, divorciar. Você se divorcia e passa a ver que a pessoa tem outras evoluções, ou involuções. Não desembarcamos de última hora, desembarcamos no primeiro ano do governo dele. Eu fui quem mais briguei pelas instituições desse país. Tudo eu fiz pela nossa democracia e vou continuar fazendo. Sou um radical do Estado de direito.