Economia

BC trabalha com cenário de volta de impostos federais sobre combustíveis em 2023

Retorno dos tributos no governo Lula elevaria valor do diesel e da gasolina. Instituição também vê com preocupação inflação dos serviços

Fachada do Banco Central do Brasil - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Banco Central trabalha com um cenário de reversão de corte de impostos para 2023, o que pode dificultar o cumprimento da meta de inflação em 2023. A meta de inflação fixada para o ano que vem é de 3,25%, mas o mercado estima que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano em 4,94%, ainda acima do teto de 4,75%.

"Ainda temos algum risco de aumento de imposto no ano que vem. O cenário base do Banco Central ainda é de reversão, e volta do imposto para 2023 sobre combustíveis no caso do imposto federal", disse Bruno Serra, diretor de política econômica do BC, durante o Fórum de Investimentos promovido pela Bradesco Asset, gestora de recursos do Bradesco, nesta sexta-feira.

O governo do presidente Jair Bolsonaro promoveu uma redução de impostos federais que incidiam sobre combustíveis, como gasolina e diesel, reduzindo a zero as alíquotas da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e PIS/Cofins sobre esses produtos até 31 de dezembro de 2022.

A medida foi considerada eleitoreira por analistas, já que o preço da gasolina é atrelado ao mercado internacional e vinha subindo nos últimos meses com a alta da commodity no mercado externo. Com a redução dos impostos, o valor dos combustíveis caiu nas bombas. A Câmara dos Deputados também aprovou,  e Bolsonaro sancionou, a aplicação de alíquotas de ICMS pelo piso para produtos e serviços essenciais, incluindo os combustíveis. Essas reduções se refletiram em queda de preço nas bombas.

Além da volta dos impostos federais, o BC também está preocupado com a inflação de serviços. Embora o IPCA tenha apresentado deflação nos últimos três meses, chegando a 4,09% no ano e 7,17% nos últimos 12 meses, até setembro, a inflação de serviços ainda está em 8,5% nos últimos 12 meses. Mesmo tendo interrompido a alta de juros, a autoridade monetária tem mostrado em seus comunicados que "está vigilante".

"A inflação de serviços está em 8,5%, nos últimos 12 meses, e não é compatível com a meta de inflação de 3% para o ano que vem. O desafio para a desinflação ainda é grande a gente precisa trazer serviços de volta para o que era no pré-pandemia", disse Serra.

Serra disse que o aumento do preço dos serviços aconteceu de forma inercial, ou seja, acompanhou a inflação cheia, que agora está caindo, respondendo ao ciclo de aumento da Selic, a taxa básica de juros, que subiu por doze vezes seguida de 2% para 13,75%. Agora, com o recuo da inflação cheia a expectativa é ver como vai se comportar o preço dos serviços.

Em setembro, a inflação de serviços subiu 0,4%, frente a uma alta de 0,28% em agosto. O que mais contribuiu para essa subida foi o aumento de 8,22% nos preços das passagens aéreas.

Também pressionaram essa alta, itens como hospedagem (2,88%) e pacotes turísticos (2,3%). A elevação de 6,14% nas tarifas de transporte por aplicativo também contribuiu para a elevação.

Serviços de estética como manicure (1,03%), cabeleireiro e barbeiro (0,97%) e depilação (1,31%) também apresentaram alta de preços em setembro. E as tarifas bancárias subiram 1,56% no período.

Já entre os serviços que apresentaram queda de preços em setembro estão: internet (-10,55%); combo de telefonia, internet e TV por assinatura (-2,70%); e aluguel de veículos (-2,02%).

A inflação de serviços subiu com o fim das restrições de mobilidade após a vacinação contra Covid-19 ter avançado. Durante o isolamento social, as pessoas gastaram o dinheiro em bens duráveis para melhorar o conforto de casa.

A melhora do mercado de trabalho, melhorando a renda das famílias, também ajudou a inflar o preço dos serviços. Para Bruno Serra, mesmo com a recuperação do mercado de trabalho, a taxa de desemprego estrutural (decorrente das transformações com a reforma trabalhista) é mais baixa e não tende a ser inflacionária.

No relatório trimestral de inflação, o BC destacou em setembro que a inflação de serviços permanecia resistente, em meio a resultados "surpreendentemente positivos" da atividade econômica e do mercado de trabalho.

O boletim Focus publicado na última segunda-feira voltou a elevar a previsão para o IPCA de 2022 após 17 quedas consecutivas, para 5,61%, ante os 5,60% previstos na pesquisa anterior.

A pesquisa do BC feita junto ao mercado manteve um crescimento de 2,76% para o PIB brasileiro deste ano, mesma previsão da semana passada.

Os economistas da Bradesco Asset avaliam que a inflação de serviços deve arrefecer nos próximos meses, mas só no ano que vem a inflação deverá dar sinais de que começará a se aproximar da meta. por isso, eles acreditam que a Selic só deverá cair em meados do ano que vem.

"Nossa previsão para a Selic de 2023 é de 10%. A política monetária está fazendo efeito e em meados de 2023 vamos começar a ver taxas de juros mais baixas", disse Philipe Biolchini, CIO da Bradesco Asset.