Dia do trigo: conheça a origem e propriedades nutricionais desse grão e seus derivados
Conheça a origem e os aspectos nutricionais de um dos alimentos mais antigos e presentes na cultura dos cinco continentes
Seja no pão, na pizza, ou em receitas de bolo, o trigo é um dos alimentos mais consumidos do mundo e sua origem remete a um período remoto da civilização. Por ser fonte de glúten - uma proteína encontrada em diversos cereais – é considerado por muitos um vilão da dieta e ainda há muita desinformação a respeito desse grão. Para lembrar do Dia do Trigo (10 de novembro), a editoria Sabores convida a conhecer melhor e desmistificar o ingrediente, desde sua origem, tipos e formas de refino e as orientações nutricionais.
Origem longínqua
O trigo está presente na cultura alimentar do planeta Terra há milênios. Durante o período neolítico, há 4 mil anos a.C, seu cultivo se originou na Mesopotâmia, em uma região chamada pelos historiadores de Crescente Fértil - área que compreende o território que vai do Egito ao Iraque. No início, os grãos de trigo eram consumidos em uma espécie de papa, misturados com peixes e frutas. A criação do pão como conhecemos é atribuída aos egípcios, após a descoberta do processo de fermentação.
Os egípcios moldavam o pão em formas humanas e de animais e ofereciam aos deuses. Mais tarde, esse alimento ganharia status de símbolo religioso na religião católica: pão e vinho representam a Eucaristia, enquanto na Páscoa judaica, o pão ázimo, sem fermento, faz parte da liturgia. Além de símbolo sagrado, o trigo foi fundamental para a invenção da escrita, criada pelos sumérios como forma de registrar e controlar o comércio dos excedentes de alimentos, tendo esse grão como protagonista da produção agrícola.
O trigo no mundo e no Brasil
Com a expansão agrícola, o trigo se espalhou da Mesopotâmia para todo o mundo. Os chineses já conheciam o grão há cerca de 2 mil anos a.C e o usavam para fazer farinha, macarrões e pastéis. No século XIII, há registros da visita de Marco Pólo a China, de onde trouxe o macarrão para a Itália, onde seria base daquela cultura gastronômica e de outros países da Europa, sobretudo os mais frios. E foi através das navegações dos europeus, no século XV, o trigo finalmente chegou às Américas.
No Brasil, a cultura do trigo teve início em 1534, introduzida por Martim Afonso de Souza, que desembarcou com a novidade na capitania de São Vicente. O clima quente e tropical foi um obstáculo para o cultivo desse grão, que costumava ser substituído pelo refino da mandioca.
Na segunda metade do século XVIII, o cultivo do trigo começou a se desenvolver no Rio Grande do Sul, que viria a ser o principal produtor do País, ao lado do Paraná, a partir da década de 40 do século XX. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o Brasil produz atualmente cerca de 6 milhões de toneladas, importando mais 4 milhões para atender ao consumo.
Vilão da dieta?
Segunda maior cultura de cereais do mundo - ficando atrás apenas do milho -, o trigo (Triticum aestivum L, Triticale sp, Triticum durum) é uma gramínea pertencente à família Poaceae. Seu grão é utilizado na produção de farinha e até na fabricação de cervejas. Além disso, também é utilizado na alimentação animal. Hoje, o trigo ocupa 20% da área cultivada no mundo, com produção de 500 milhões de toneladas por ano, 8,1 milhões de toneladas apenas no Brasil, segundo estimativa da Conab para a safra 2021/2022.
Fonte de energia (carboidrato), composto por amido (70% - 75%) e proteínas (8% - 16% ), o grão do trigo também possui vitaminas e minerais como o complexo B, potássio, magnésio e fósforo. “É um cereal fonte de carboidratos podendo fazer parte da dieta desde que haja rodízio entre os diferentes tipos de carboidratos, ou seja, que o trigo não seja a fonte principal de carboidratos de um plano alimentar”, aconselha a nutricionista Flávia Monteiro.
“O mais nutritivo para o consumo sempre é aquele menos refinado, ou seja, a farinha de trigo integral, farelo de trigo, gérmen de trigo”, indica. Farinhas com menos refino têm o número (T150) no rótulo. Além disso, a classificada como “Tipo 2”, geralmente mais amarelada, é produzida com a parte mais externa do grão de trigo, por isso tem maior carga nutricional.
Como melhor consumir
É possível incluir o trigo na dieta, com parcimônia e desde que bem acompanhados, diz a nutricionista. “Seu consumo deve ser feito de forma equilibrada com os outros alimentos consumidos diariamente”, sugere a nutricionista. “Há pessoas que substituem a farinha de trigo por outros tipos de farinhas de fontes diferentes. Isso pode e deve ocorrer em uma prescrição dietética a partir do momento que o paciente tem algum sintoma ao consumir o trigo ou por alguma estratégia nutricional”, detalha.
Segundo Flávia Monteiro, há aspectos positivos e negativos no trigo. “É uma fonte de energia como qualquer outro carboidrato, muitos alimentos que contêm o trigo trazem memórias afetivas, são acessíveis e podem ser utilizados de diversas formas na culinária”, pondera.
No entanto, adverte que o trigo não deve ser a única fonte de alimentos em detrimento a outros nutrientes e que o seu consumo, para alguns, pode trazer desconfortos em razão de alguma patologia. “Busque um nutricionista para prescrever um plano alimentar personalizado e te orientar em relação ao consumo equilibrado e saudável do trigo”, indica.