Ex-aliado de Bolsonaro, deputado chama presidente de incompetente, traidor e inábil politicamente
Em entrevista ao Podcast Cast Arretado, Julian Lemos ataca também os filhos do presidente
Ex-aliado do presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e coordenador de sua campanha no Nordeste, em 2018, o deputado federal pela Paraíba Julian Lemos (União Brasil) atacou o candidato derrotado à reeleição e seus filhos - Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro-, durante entrevista ao Podcast Cast Arretado, no último dia 3.
Ao lado de Bolsonaro desde antes da consolidação de sua primeira candidatura ao Palácio do Planalto, Julian Lemos não poupou adjetivos ao presidente: traidor, incompetente, desleal, inábil politicamente. "Eu tenho o direito de falar porque eu só apanhei", disparou.
O começo de tudo
"As primeiras visitas de Jair foram ao Ceará, a Pernambuco e depois à Paraíba, quando comecei a caminhar com ele. Ninguém queria escutar nem entrevistar. É uma pessoa que a gente chama de candidato caricato Quem tinha dez pontos na intenção de voto em 2015 era Sérgio Moro. Bolsonaro ficava com dois, três. E era alguém a quem ninguém dava crédito que ele chegasse à presidência. Eu acredito que eleição executiva é destino. Se não, Dilma (Rousseff) não teria sido presidente e o avião de Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco) não teria caído. Eu não acredito em uma pessoa sem habilidade política (na Presidência da República). E eu tenho o direito de falar porque eu só apanhei."
Porque só falar agora
"Você me pergunta: E por que você não disse logo? E tu acreditarias? Alguém iria acreditar? Iriam dizer que cuspi no prato que comi. Postei um vídeo em minhas redes sociais e narrei um fato. Uma mulher entrou e disse: "é sua palavra contra a dele". Lógico. Então, as pessoas não dão credibilidade. Não porque você não tenha credibilidade. Mas você tira pelas ruas, pelo resultado da eleição."
Sem citar nomes
"Vi tudo desde 2015. E por que não disse antes? Eu não conhecia na época a capacidade de várias pessoas que enganam, roubam, são capazes de tudo por causa do poder. Não quero, não vou citar nomes. não tenho medo de confronto, mas estou buscando minha paz, e quem está em paz não quer guerra com ninguém. Mas se um dia, um desses citar meu nome, eu rasgo de cima abaixo, porque eu sei o que foi falado. Eu sei os acertos que houve."
Ausência de liderança
"Bolsonaro não se comportou como um líder, ficou acuado, botou o rabo entre as pernas, e em todo o momento a tropa dele - alguns mal intencionados e outros, ingênuos - muitas senhoras na rua, alguns desesperados, orando como se ele fosse um messias. Mas ele não tem nada de messias.Essas pessoas passaram a ficar como se você pegasse a abelha rainha, as outras abelhas ficam todas desesperadas."
Danos nas igrejas evangélicas
"Inventaram artigo 147 (sobre perseguição), depois veio a história da prisão de Alexandre de Moraes (ministro do STF), uma questão de (ameaça) de estado de sítio. Acho que era um cara só, fazendo muita trollagem. Eles (apoiadores de Bolsonaro) acreditam nisso. Ainda estão acreditando. Recebi vários áudios hoje e tive compaixão, tem que ter misericórdia dessas pessoas. O dano que Jair Bolsonaro fez nas igrejas evangélicas é muito grande. Onde ficam as profecias dos homens de Deus e das mulheres de Deus? "
Indicações para o STF
"O primeiro nome a ser indicado para o STF (Supremo Tribunal Federal) seria o do (juiz) Sérgio Moro, depois o de André Mendonça. Isso era algo que tinha sido combinado. Não era troca, era uma coisa justa. Moro foi o primeiro nome a dar total aporte e credibilidade a Bolsonaro politicamente. Primeiro foi Paulo Guedes e depois Sérgio Moro. Mas Jair arrebentou com todo mundo. E Kassio Nunes foi indicado. Em total acordo com o centrão. Foi indicação de Ciro Nogueira, e Jair foi pedir a bênção de Gilmar Mendes. Pediu a bênção e fez, com isso, um gesto para o supremo. A indicação foi de um jurista já do meio deles. Jair Bolsonaro se achava, mas nunca mandou em nada."
Perseguição
"Eu fui extremamente perseguido, por uma questão pessoal. Eu fui o zero um. Por que era traidor? Não. Porque não me submeti. Eu tenho muito caráter e dignidade. Permaneci com meus princípios. Se eles (os filhos de Bolsonaro) fossem empresários e precisassem contratar dez mulheres, só um exemplo, "passariam o rodo" em tudinho. Teve cara (deputado) que deixou quase 99% do gabinete nas mãos de Carlos Bolsonaro. Gabinete do ódio era mais ou menos isso. E controlava as redes sociais de alguns deputados. É um psicopata a nível extremo."
Desmantelo
"Fui vítima de uma desconstrução moral, fizeram fakes, foi um desmantelo grande. Eduardo Bolsonaro é um cara canalha, calculista, frio, escroto ao extremo. É um sociopata. Jair se vê representado em cada uma das personalidades dos filhos. Carlos é perverso, Eduardo é o dono da bola. Fui escolhido pelos dois para ser destruído. e a Paraíba perdeu muito."
Decepção
"Fui avisado pelos meus amigos deputados que investir em segurança pública não dava retorno eleitoral nenhum. Por isso, ninguém nunca investiu. Não me arrependo, mas fico triste. decepcionado, mas passa. Decepção não mata. (O deputado diz ter apresentado emendas ao orçamento para liberar recursos para a segurança). Não fui derrotado. perdi uma eleição. Jair foi derrotado e não volta mais. Jair foi derrotado pelo PT."
Dependência de droga
"Bolsonaro tem uma dependência de Carlos, como se fosse uma dependência de droga. 50% ou mais das decisões do Brasil, Carlos teve influência. Ele desgovernou o país. Indicou o ministro das Relações Exteriores (Ernesto Araújo), dois ministros da Educação; o líder do governo (na Câmara dos Deputados), (o major) Vítor Hugo, um líder pífio. O cargo seria meu, mas os dois (Carlos e Eduardo) vetaram. Eles não conseguiam lidar com qualquer pessoa que tivesse algum tipo de brilho. Como vão governar o Brasil assim? Bebiano deveria ser ministro e Carlos não deixou. É um sociopata, capaz de matar o pai, de matar a mãe. Carlos é esquizofrênico. Ficava em casa de colete e uma pistola na cintura, mesmo sem ninguém."
Sentimento de pena
"Sobre a derrota dele meu sentimento é de pena. Bolsonaro perdeu a oportunidade de criar uma força conservadora equilibrada no Brasil. Era muito bom que ficássemos entre conservadores e liberais. Bolsonaro não é presidente de direita. Ele tem discurso conservador com práticas populistas. Foi um desastre administrativo. Tem a petulância de dizer que resolveu o problema da pandemia, quando, na verdade, lutou do início até o fim para ser do jeito dele. Prefeitos e governadores fizeram o que podiam e não o que queriam."
Inabilidades
"Moro estava bem intencionado. Mas no dia em que Bolsonaro ganhou a eleição a casa dele parecia um velório. O clima era pesado. A Globo queria falar com ele ninguém queria deixar. Bebiano (o advogado Gustavo Bebiano, que ajudou na campanha, inclusive conseguindo apoio financeiro, segundo Julian Lemos), estava angustiado. No dia da posse, em Brasília, se não fosse Ônix (ex-deputado federal Ônyx Lorenzoni), Bebiano não teria nem assistido à posse. Bolsonaro deu convite à empregada doméstica de Paulo Marinho e não deu a ele. Depois da facada, Paulo Marinho emprestou a Bolsonaro a empregada que estava com ele há mais de 30 anos. No dia da posse, ela estava lá, mas ele não. Nada contra a empregada, mas é uma coisa que não tem lógica."
Magno Malta escanteado
"O deputado Magno Malta foi escanteado porque era casado com uma cantora evangélica, separou-se e a mulher de Bolsonaro cismou com isso. Ela é puritana. Não tem nada daquilo que aparenta ser. Na campanha de 2018, Carlos botou ele para fora da casa do pai. Deu uma esculhambação nele na frente da filha dele. Uma parada dessas eu não aceitava. Esse foi o motivo de ele ser preterido. Agora Magno foi homem, viu? Chegou junto dele (de Bolsonaro) para apoiar de novo, e pagar o mal com o bem. Em 2018 ele (Magno) pediu voto para mim. Não tenho nada o que dizer dele, Ele está no papel dele. Eu só não tenho estômago para ser aquilo.!
Derrota
"Bolsonaro perdeu a eleição por culpa dele. Ele não foi político. É o presidente da República do país mais importante da América Latina, tem na caneta dele 30 mil cargos. Conseguiu fazer várias lideranças e não se reelegeu Passei quatro anos na Câmara e meu trabalho foi melhor que o dele e o do filho dele. Eu não fui eleito por causa de perseguição mesmo, e não por ter sido incompetente ou por ter traído Bolsonaro. Fui um excelente deputado, dito pelo Congresso em Foco. Bolsonaro nunca foi o mais bem avaliado no Estado dele. Eu fui duas vezes. Para me derrotar ele teve que me destruir durante quatro anos."
Presidente e o Congresso
"Os tempos mudaram. O Congresso mudou, ficou em outro formato. O decreto malfeito de Bolsonaro sobre as armas Lula derruba em uma canetada, Mas o Congresso pode regulamentar se quiser. A bancada do PL (partido do presidente) é muito forte. Lula não vai voltar como "cavalo do cão". Nem Bolsonaro conseguia com as doidices dele. Presidente não tem base. A base da Câmara (dos Deputados) é ela mesma. A Câmara governa com o presidente. Ninguém se movimenta sem ela."
Sobre o governador eleito
"Eu não sei que João (Azevedo, governador reeleito na Paraíba) é corrupto, nunca o vi roubando (disse em resposta a uma seguidora que acompanhava o Podcast). Eu vejo seriedade nele. O João que eu conheço é um cara simples. Eu não tenho nada a ver com ele. Não troquei apoio por cargo. Sempre fui bem tratado por ele, tratado com respeito politicamente, e vi a seriedade dele."