Lula avança por apoio do MDB e tenta driblar focos de resistência no partido
Acordo é iminente, mas aproximação entre PT e Lira desagrada ao grupo de Renan. PSD se junta à transição
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avançou ontem pelo apoio do MDB ao futuro governo, mas ainda tenta driblar focos de resistência na legenda.
Uma ala, liderada pelo senador Renan Calheiros (AL), vem reagindo à possibilidade de acordo em torno da reeleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao comando da Casa — Renan e Lira são adversários.
Além disso, há expectativa na sigla por mais espaço na Esplanada dos Ministérios, já que a provável indicação da senadora Simone Tebet (MS) para uma pasta na área social é considerada da “cota pessoal” de Lula.
Na corrida pela sucessão de Lira, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), emedebistas já vocalizaram que gostariam de lançar uma candidatura concorrente. São cotados para a disputa o deputado eleito Eunício Oliveira (CE) e o atual líder do partido na Casa, Isnaldo Bulhões (AL).
Há preocupação entre petistas, no entanto, da reedição da estratégia de 2015, quando o partido enfrentou Eduardo Cunha, foi derrotado e arcou com um custo político alto na gestão de Dilma Rousseff.
O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), se reuniu ontem com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann para debater a adesão da sigla. Ele consultaria líderes do partido após o encontro sobre possíveis sugestões para o grupo de transição.
Não necessariamente será o mesmo nome que ocupará um ministério depois, mas a indicação já servirá para mostrar a participação almejada no governo. Com os 12 partidos que já estão compondo o núcleo político da transição, Lula reuniu 181 deputados para a próxima Legislatura — caso MDB e União Brasil, outro alvo, também integrem a base, o número saltará para 282.
É por meio do União Brasil, aliás, que Renan defende a construção do caminho no Congresso, lançando candidaturas para as presidências de Câmara e Senado e travando a aproximação entre Lira e o PT — Lula e o presidente da Câmara se reúnem hoje; ontem, Lira esteve com Bolsonaro.
— Vamos ter uma conversa de setores do MDB com setores do União Brasil. Esse modelo de frente é fácil de implementar. Já tem essa base toda do PT, União Brasil e MDB. Nós tínhamos que ter uma contrapartida (do governo eleito) de todo mundo na Câmara, e não partir nesse primeiro momento para cortejar o Centrão, essa gente que flertou com o fascismo — disse Renan ao GLOBO.
A construção esbarra também no PSD, que deve integrar a base aliada e tem como projeto prioritário a recondução de Rodrigo Pacheco (MG) à presidência do Senado. Na Câmara, a sigla de Gilberto Kassab já sinalizou que pode caminhar com Lira.
Questionado ontem se espera ter o apoio de Lula , Lira desconversou:
— É melhor perguntar para ele (Lula).
Integrantes do MDB também aguardam gestos mais assertivos do governo eleito sobre a participação de cada um dos partidos na futura gestão.
— Estamos em um momento embrionário de formação da base do governo, e cabe ao presidente eleito definir como ela será montada — resume Bulhões.
Mesmo ainda no início do processo, a transição já gerou outro desgaste com setores do MDB. O grupo de Renan criticou a iniciativa, anunciada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), de abrir espaço fiscal por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição, a PEC da Transição. Para o senador, o modelo, que fortaleceria Lira, já que haveria necessidade de votação ainda em 2022, é uma “barbeiragem”. A alternativa seria pavimentar o caminho para os gastos extras por meio de ações do próprio governo, com o aval do Tribunal de Contas da União (TCU).
PSD na transição
Em outro movimento da articulação política, o PSD foi integrado oficialmente à transição e indicou para o conselho político o deputado federal Antonio Brito (BA). É na Bahia que PT e PSD mantêm sua relação mais próxima — na última eleição, a aliança elegeu o governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), e o senador Otto Alencar (PSD). O núcleo político está sob o comando de Gleisi Hoffmann. Na campanha, o PSD ficou neutro. Lideranças, no entanto, fizeram campanha para Lula, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil.