Equipe de transição da saúde prioriza recuperação de R$ 22 bilhões e aumento da cobertura vacinal
A equipe de Lula trabalha para iniciar o próximo ano com uma super campanha de vacinação, batizada, até o momento, de "Dia V da Vacinação"
O senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da equipe de transição responsável pela área de saúde, afirmou que uma das prioridades é buscar meios de se fazer uma composição orçamentária para bancar as políticas públicas do setor. De acordo com o grupo, há uma defasagem de R$ 22 bilhões para a saúde, além de R$ 10 bilhões já comprometidos por demandas do orçamento secreto, instrumento por meio do qual parlamentares destinam verbas da União sem serem identificados.
As perdas consideradas pela equipe passam pelo teto de gastos, a regra que impede que contas públicas sejam reajustadas para além da inflação do ano anterior. Nos cálculos do grupo, desde que a trava passou a valer, em 2016, a saúde deixou de contar com R$ 22 bilhões. Os integrantes da transição dizem ainda ter mapeado R$ 10 bilhões que já teriam sido reservados para bancar destinações feitas com o orçamento secreto.
– A demanda para recompor o orçamento já foi feita e está sendo analisada. O presidente já deixou claro que a questão da saúde, além de ser prioridade, é um investimento. Eu acredito que, se houver necessidade, nós teremos o canal aberto para pedir recursos — disse Costa, sem adiantar qual será a estratégia para buscar o incremento financeiro.
O senador e ex-ministro da saúde de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi oficializado como membro da equipe de transição para cuidar da área da saúde nesta terça-feira. Junto com ele, também trabalharão o médico David Uip, assim como os também ex-ministros da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP), hoje deputado federal, José Gomes Temporão e Arthur Chioro. Os cinco devem fazer uma primeira reunião nesta quinta-feira para alinhar os trabalhos.
Vacinação
Como o Globo mostrou, a equipe de Lula trabalha para iniciar o próximo ano com uma super campanha de vacinação, batizada, até o momento, de “Dia V da Vacinação”. A melhora dos índices de cobertura vacinal está entre as primeiras metas de trabalho da equipe da Saúde. O objetivo é avançar, principalmente, na prevenção de doenças como a poliomielite.
Ainda não há detalhes de quando poderá ser feito o “Dia V da Vacinação”. Dependerá dos detalhes do diagnóstico que será feito pela equipe durante a transição. Para colocar o plano em prática, o grupo trabalhará em um mapeamento do atual cenário ao longo dos 45 dias úteis que terão para realizar a transição.
A avaliação de interlocutores próximos a Lula é de que o cenário na pasta é de "terra arrasada". O governo Bolsonaro foi marcado pela negação da eficácia dos imunizantes. Além disso, atualmente, a cobertura vacinal contra poliomielite é de 72, 57% das crianças da faixa etária elegível, segundo dados do Ministério da Saúde. O percentual está abaixo da meta estabelecida pela própria pasta, que é de 95%.
Humberto Costa afirmou nesta quarta-feira que uma das suas ideias para melhorar os índices de vacinação poderia ser premiar estados e municípios que conseguirem atingir as metas de imunização. Outra possibilidade em estudo é voltar a vincular uma carteira de vacinação atualizada a continuidade do Bolsa Família.
– Hoje, doenças erradicadas, como a poliomielite, têm uma cobertura vacinal tão baixa que há risco de votar a ter casos. Temos desabastecimento de medicamentos, insumos e vacinas — criticou Costa
A equipe de Lula pretende estimular os responsáveis a levar seus filhos para se vacinar. A avaliação é de que parte dos brasileiros foi impactado por notícias falsas que colocavam em dúvida a eficácia dos imunizantes, principalmente durante a pandemia da Covid-19.
Outro foco da equipe de transição será dimensionar o desabastecimento do SUS em relação à disponibilidade de medicamentos. Após o diagnóstico, o grupo pretende acionar fornecedores nacionais e internacionais para enfrentar o problema. Entre os pontos de preocupação está o fornecimento de medicamentos para pacientes com HIV.
Como o Globo mostrou, a equipe da Saúde também fará um pente-fino nas normas e protocolos editados na área durante o governo Bolsonaro. Entre as medidas que devem ser revogadas está o protocolo que indica o uso da cloroquina no tratamento inicial da Covid-19. A droga é comprovadamente ineficaz no combate à doença, mas foi amplamente defendida por Bolsonaro.
Novo Mais Médicos
Costa também afirmou que a equipe da saúde pretende botar de pé um programa no molde do Mais Médicos, que estimulou a vinda de profissionais de saúde estrangeiros, sobretudo de Cuba, para trabalhar no interior do país. O objetivo era melhorar a assistência à população nos lugares em que havia déficit de médicos.
— Nós queremos um projeto, um programa que tenha os princípios do Mais Médicos para garantir que esses vazios assistenciais de médicos possam ser cobertos. Agora, o desenho que vamos fazer ainda vai ser construído, porque hoje há um número de médicos significativo, houve crescimento. Não seria necessário em tese trazer médicos do exterior. Poderíamos fazer um programa parecido, porém com o predomínio de médicos brasileiros.