BRASIL

Às vésperas da COP27, os dilemas de Lula sobre Marina Silva no Meio Ambiente

Indicação do novo ministro da área deve ser feita até a próxima quarta-feira, quando presidente embarcará para o Egito

Lula e Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente - Reprodução/Twitter

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar até a próxima quarta-feira, quando desembarca no Egito para participar da COP27, o nome do seu futuro ministro do Meio Ambiente.

Pelo menos dois aliados próximos entendem que o petista não tem como escapar da indicação da deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), que comandou a pasta entre 2003 e 2008. A ex-ministra Izabella Teixeira e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também são cotados.

Lula, porém, dizem aliados, ainda avalia os contras da nomeação de Marina, com quem se reconciliou ao longo da campanha eleitoral deste ano. Reconhecida como principal referência da causa ambiental do país e com grande prestígio internacional, a ex-ministra acumulou conflitos com o petista durante a sua passagem pelo governo.

O entendimento em parte do entorno de Lula é que Marina travava projetos e entrava em conflitos com outras áreas, o que culminou com a sua saída do cargo em 2008. Os aliados do presidente eleito ainda acreditam que a ex-ministra carrega o ônus de ser praticamente indemissível uma vez nomeada.

Todos, porém, reconhecem que na gestão de Marina o Ministério do Meio Ambiente implantou um bem-sucedido plano de combate ao desmatamento, que fez a derrubada de árvores na Amazônia cair 70% (índice atingido depois que Marina deixou a pasta).
 

Justamente por causa de seu prestígio no exterior, uma eventual saída de Marina do novo governo Lula provocaria uma grande crise dentro do governo. O fenômeno já aconteceu em 2008 e seria amplificado agora, já que a questão climática se transformou no principal foco de interesse das nações estrangeiras em relação ao país.

Oportunidade diante do mundo
Lula não chegou a anunciar que apresentará o seu ministro do Meio Ambiente na conferência do clima organizada pela ONU, mas aliados entendem que não faria sentido o novo presidente perder essa oportunidade, já que os olhos de ambientalistas de todo o mundo estarão voltados para o Egito.

O petista tem o plano de recuperar o prestígio do país no exterior com uma gestão preocupada em combater as mudanças climáticas. Seria uma forma de se contrapor ao presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo governo foi marcado por aumentos dos índices de derrubada da Amazônia.

Uma opção considerada no entorno de Lula é que Marina seja nomeada para Autoridade Climática, instituição que irá coordenar a ação de vários ministérios na questão ambiental. A criação da autoridade foi uma das propostas apresentadas pela líder da Rede a Lula como condicionante para que ela declarasse apoio ao petista ainda no primeiro turno.

Os dois se reconciliaram três semanas antes do primeiro turno. Eles estavam afastados desde que Marina deixou o Ministério do Meio Ambiente, em 2008. A distância se intensificou em 2014, quando Marina, que liderava a disputa presidencial, tornou-se o principal alvo de ataques da campanha de Dilma Rousseff.

Deus, Marina e Lula
Ainda durante a disputa de 2014, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou que Lula relatava em conversas reservadas que convenceu Marina a ficar no governo em 2006, quando ela apresentou pela primeira vez a intenção de deixar o ministério, ao dizer que sonhou que Deus pedia que ela permanecesse no posto.

Dias antes, a então ministra teria pedido demissão, na versão de Lula, com o argumento de que havia conversado com Deus sobre sua saída do governo. Marina ficou muito irritada com a divulgação do episódio. Questionado, na época, Lula afirmou que “só Deus poderia esclarecer” a conversa.

Já Marina relatou que ao conversar com Lula sobre o seu desejo de sair do governo em 2006 afirmou “ter pedido a Deus que confirmasse em seu coração aquele seu desejo”. Pessoas próximas de Marina consideram que Lula zombou da fé da ex-ministra, pela forma como tratou do caso. Marina ficou no governo até maio de 2008.

Lula, por sua vez, ficou magoado com o apoio dado por Marina ao impeachment de Dilma e à Operação Lava-Jato, que o mandou para a cadeia. A ex-ministra chegou a dizer, quando o petista estava preso, que o considerava corrupto.

Antes disso, Lula e Marina mantiveram uma relação de proximidade por duas décadas. A primeira filha da ex-senadora, Moara, recebeu um nome que, em tupi-guarani, significa liberdade. Foi uma homenagem a Lula, que disputava, quando Moara nasceu, em 1989, sua primeira eleição presidencial. Marina começou na política como aliada do ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988.

Caso descarte Marina, são opções para o comando do Ministério do Meio Ambiente o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e a ex-ministra Izabella Teixeira. O senador não tem muito prestígio com o presidente eleito, que se incomodava com a sua postura durante a campanha. Mesmo sem integrar o núcleo central de coordenação, ele insistia em acompanhar o então candidato do PT em viagens pelo país e frequentar o escritório político da campanha. Sua indicação, por outro lado, contemplaria um colega de partido de Marina.

Já Izabella, apesar de não ter a mesma visibilidade de Marina, tem prestígio na comunidade ambiental internacional. Ela foi ministra do Meio Ambiente entre março de 2010, no governo Lula, e o fim do governo Dilma Rousseff e sua gestão é bem avaliada.