Ano de 2022 baterá recorde de emissões de CO2 de origem fóssil, prevê estudo
Isso significa que neste ritmo, restam apenas 50% de chances de evitar que o aquecimento global supere 1,5º C nos próximos nove anos
As emissões de CO2 resultantes do consumo de energias fósseis - petróleo, gás e carvão - vão bater um novo recorde em 2022, segundo um novo estudo que será publicano nesta sexta-feira (23) durante a COP27, no Egito.
As emissões totais deste gás de efeito estufa, o principal causador do aquecimento global, inclusive as procedentes do desmatamento e uso do solo, vão alcançar 40,6 bilhões de toneladas, um pouco abaixo do nível recorde de 2019, segundo as primeiras projeções para 2022, feitas pelos cientistas do projeto Global Carbon.
Isso significa que neste ritmo, restam apenas 50% de chances de evitar que o aquecimento global supere 1,5º C nos próximos nove anos, segundo o estudo.
Já as emissões de CO2 exclusivamente de origem fóssil "aumentarão 1% em relação a 2021, chegando a 36,6 bilhões de toneladas, um pouco acima dos níveis de 2019, antes da covid-19", asseguram os cálculos do Global Carbon project.
O aumento é motivado principalmente pelo consumo de petróleo (+2,2%) e de carvão (+1%), e a recuperação do tráfego aéreo.
Conjunção de fatores
"Dois fatores se somam, a continuação da recuperação pós-covid e a crise energética" resultante da invasão da Ucrânia pela Rússia, explicou à AFP Glen Peters, um dos autores do estudo, publicado na revista Earth Systems Science Data, por ocasião da COP27, em Sharm el-Sheikh.
A equipe do Global Carbon Project, que reúne mais de cem cientistas de 80 instituições, calcula a cada ano as emissões de CO2, principal gás causador do aquecimento global.
Segundo as projeções, as emissões de gases estufa devem diminuir 45% até 2030 para cumprir o principal objetivo do Acordo de Paris de 2015: limitar a elevação da temperatura a 1,5 ºC com relação à era pré-industrial.
Mas com o aquecimento que já ocorreu (+1,2°C), as catástrofes climáticas estão se multiplicando em todo o mundo, como se evidenciou este ano com as ondas de calor, as secas, as inundações e os incêndios.
"Fizemos certos avanços", relativiza a climatologista Corinne Le Quéré, outra autora do informe, destacando que a trajetória de aumento das emissões produzidas pelas energias fósseis passou de 3% ao ano nos anos 2000 a 0,5% ao ano na última década.
Inverter a curva
"Demonstramos que a política climática funciona. Mas só uma ação concertada no nível da que foi feita frente à covid pode inverter a curva", insistiu.
Entre os maiores poluentes mundiais, o maior aumento de emissões de origem fóssil em 2022 ocorrerá na Índia, com um aumento de 6%, devido ao consumo de carvão. Nos Estados Unidos, o aumento será de 1,5%.
Na China, espera-se que estas emissões diminuam 0,9%, após a forte queda do começo do ano, devido aos confinamentos para conter a covid-19 e à crise do setor imobiliário.
A União Europeia, afetada pela crise energética resultante da guerra de Ucrânia, terá uma queda de 0,8%.
No restante do mundo, haverá um aumento de 1,7%, principalmente alimentado pela recuperação do tráfego aéreo.
Além disso, o aquecimento está impactando os sumidouros naturais de carbono, que têm um papel fundamental para atenuá-lo.
A absorção do CO2 nestes sumidouros terrestres diminuiu 17% e pelos oceanos, 4%, na década 2012-21.
Por causa das múltiplas crises, 2022 não será um ano típico do qual será possível tirar lições claras, afirmam os cientistas.
O aumento de 1% não é talvez "uma tendência de longo prazo", avalia Corinne Le Quéré. Mas, "as emissões não caem como deveriam".