Descontentamento

Aliado de Lula, Renan critica PEC da Transição e "aliança com Centrão"

Senador defende alternativa para abrir espaço no orçamento do próximo ano e alfineta Arthur Lira, presidente da Câmara e adversário político em Alagoas

Renan Calheiros - Jane de Araújo/Agência Senado

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) criticou a escolha do PT por apresentar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) com o objetivo de tirar do papel promessas de campanha, como o pagamento do Bolsa Família de R$ 600, e condenou a “aliança com o Centrão” costurada por petistas para aprovar a medidas.

Aliado do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o senador vem demonstrando descontentamento com a aproximação do novo governo e o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. O parlamentar é adversário político de Renan em Alagoas.

Indicado pelo partido para compor o conselho político do governo de transição, Renan não quer que o PT apoie Lira na reeleição para a presidência da Câmara no ano que vem. Ele também defende que o novo governo escolha uma alternativa à PEC para cumprir a promessa de ampliar os benefícios do Auxílio Brasil. Ele insiste em uma alternativa via medida provisória, com abertura de crédito extraordinário. Essa solução é considerada juridicamente mais fraca, mas tira eventual poder de barganha de Lira com o novo governo.

“Gestos são sagrados na política. É prudente cortar na raiz fricções com mercado, militares e a política. Aliança com o Centrão apavora porque sinaliza descompromisso na política fiscal, imprevisibilidade e vai na contramão das urnas”, escreveu o senador em uma rede social. Após tecer outras críticas, Renan disse que seria prudente que Lula indicasse “coordenadores” para Economia, Política e Defesa.

Ele seguiu dizendo que a PEC constitucionalizaria o orçamento secreto e abriria espaço fiscal de R$ 1 trilhão, além de liberar recursos atualmente bloqueados das emendas de relator. “O Congresso entrega previamente a responsabilidade de fiscalizar o reequilíbrio fiscal”, alegou. Por isso, ele voltou a insistir em caminhos alternativos, como as medidas provisórias, créditos extraordinários e a modificação do próprio orçamento.

“Sem falar na eleição para presidência da CD (Câmara dos Deputados) que impedirá a punição dos criminosos”, escreveu para alfinetar o rival, que vai tentar a reeleição.

Apesar de ter apoiado a candidatura de Lula desde o princípio – Renan foi contrário ao MDB lançar a Simone Tebet como candidata própria –, o senador vem sinalizando insatisfação com o aliado desde o início da transição. O que mais pesa é um possível apoio a Lira na eleição da Câmara. Lula, no entanto, já afirmou que ficará neutro nas disputas pelo comando do Congresso, o que não foi suficiente para aplacar o incômodo de Renan.