Paladar Infantil: comportamento alimentar atinge crianças e adultos
Preferências alimentares que remetem à infância explicam o assunto, que não necessariamente chega a ser um problema
Há quem chame de “frescura” ou “pantim” - usando um termo tipicamente nordestino - mas ter preferências alimentares, digamos, mais particulares, pode ir além do que comumente é exclamado como “que pessoa chata (o) para comer”!
Trata-se aqui de ter ou não o chamado ‘paladar infantil’ e que apesar do “infantil” não é incomum em jovens e adultos que dispensam a experimentação de novos sabores ou que se pautam em alimentos afetivos da infância, culminando em um paladar seletivo.
Comportamento que nem sempre deve ser considerado um distúrbio ou transtorno alimentar, mas por se tratar quase sempre de predileções por comidas pobres em nutrientes, pode exigir atenção de especialistas que possam promover mudanças alimentares.
“Podemos considerar que ter paladar infantil é ter preferências alimentares pautadas principalmente em alimentos que fizeram parte da infância. Normalmente esses alimentos são mais palatáveis, têm excesso de açúcares e realçadores de sabor”, explica a nutricionista Renata Beserra que ressalta, ainda, sobre a prática não caracterizar por si só um distúrbio.
“Pode se tratar apenas de uma pessoa que não se abriu para outras experiências alimentares ou que utiliza esses alimentos como bengala emocional para gerar uma sensação de conforto”, complementou.
Mas afinal, ter o paladar infantil é tido como um problema quando? De acordo com Renata, “não necessariamente” o comportamento torna-se um problema, haja vista que a mudança só deve ser pensada “se identificarmos que existe um excesso do consumo desses alimentos trazendo danos para a saúde ou levando a um ganho de peso indesejado”, destaca ela. Um bom exemplo é o consumo em demasia dos alimentos ultraprocessados ou dos “queridinhos” fast-foods.
“Não existe alimento saudável e não-saudável. O que existe é um contexto alimentar que é saudável ou não. Por exemplo, se a gente pegar um chocolate tradicional, ao leite, com muito açúcar, comê-lo de forma equilibrada e consciente provavelmente não vai trazer dano à saúde e peso extra. Mas se esse mesmo alimento tiver dentro de um contexto desorganizado, com excesso e grande frequência, aí sim pode haver prejuízo a longo prazo”, reforça Renata Beserra que adiciona às preferências palatáveis dos que têm paladar infantil, as sobremesas tradicionais.
Paladar infantil como limitador social
Para o psicólogo e psicanalista Elvis Antônio, a ação de alimentar-se vai além de uma ingestão bioquímica e, portanto, é preciso atenção dos pais, no caso do paladar infantil nos pequenos, com um ideal que deve ser pensado: construir relações também com a comida.
“No campo sensorial, ao comer temos cheiros, texturas, sabores, efeitos no corpo, o jeito que a comida nos é apresentada, ou seja, uma complexa relação que vai construindo uma experiência em nós”, atesta Elvis que direciona o assunto, ainda, para o viés sociopolítico, quando se trata do oferecimento de alimentos ultraprocessados e supervalorizados nos meios de consumo.
E no caso de se considerar o paladar infantil como problema, a exemplo de eventuais limitações que podem ser causadas no convívio social de uma festa ou de uma reunião entre amigos com comes e bebes, Elvis pontua que se há indícios de sofrimentos, vale a indicação de procurar ajuda de um profissional.
“Se há muitas restrições, isso pode ser um índice de sofrimento no adulto e na criança para sua abertura às coisas que o mundo tem. Vale procurar ajuda de um profissional que esteja atento à complexidade do processo de se alimentar”, concluiu.