Caso Flordelis: veja perguntas e respostas em interrogatório de pastora em sexto dia de julgamento
A pastora e ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza está no banco dos réus ao lado de três filhos e de uma neta pela morte do pastor Anderson do Carmo. Julgamento chega ao quinta dia com depoimento de testemunhas de defesa
A ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza foi a segunda acusada a ser interrogada neste sábado (12) — sexto dia de julgamento pela morte do pastor Anderson do Carmo. A pastora respondeu a perguntas por cerca de 40 minutos. Ela falou sobre casos de abuso sexual que o marido teria cometido contra filhas e netas e da relação que teve com ele durante os anos de casamento. Em alguns momentos, respondendo com voz trêmula, Flordelis foi perguntada por um jurado se o choro era real. Ela disse que sim.
Flordelis seguiu a estratégia da defesa e respondeu apenas aos questionamentos de seus advogados e dos jurados. Os membros do Ministério Público e o assistente de acusação não puderam fazer questionamentos à acusada. Além da pastora, são julgados André Luiz Oliveira, filho afetivo que foi o primeiro interrogado do dia; Marzy Teixeira, filha afetiva; Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da pastora; e a neta Rayane Oliveira, que começou a ser ouvida às 12h30.
Abaixo, veja algumas das perguntas feitas à pastora e as respostas
Advogada de defesa, Janira Rocha: Quem matou seu marido?
Flordelis: Eu não posso acusar ninguém. Não estava presente no local, não vi. Não posso afirmar
Advogada de defesa, Janira Rocha: Qual foi o motivo do crime?
Flordelis: É muito difícil pra mim falar, mas foi a ciência, os abusos. Os abusos na minha casa. Eu não tinha conhecimento. Eu amava meu marido. Ele era tudo para mim, era minha vida. Houve desconfiança uma única vez, com minha filha Kelly.
Advogada de defesa, Janira Rocha: Ele abusou de você?
Flordelis: Sim, senhora.
Advogada de defesa, Janira Rocha: Ele abusou de você, mas não sabia que abusava de outras mulheres? Pode falar dos abusos dele contra você?
Flordelis: No início do nosso casamento era muito bom, foi um início muito bom. Quero ressaltar que estava casando por causa dos problemas muito fortes que tinha na época. Sempre tive costume de assinar documentos sem ler. Depois de casada, começou a me bater. Ele me batia. Depois ele parou com essa prática de me bater. Depois ele se tornou uma coisa assim, muito doída, muito sofrida.
Advogada de defesa, Janira Rocha: Alguém presenciou ele te batendo? Quem?
Flordelis: Sim. O Luan (filho afetivo Alexsander Felipe Matos Mendes), e algumas filhas entravam na frente. Depois do aconselhamento de um pastor, Abílio Santana, ele não bateu mais em mim. Nunca mais. Teve uma época que começou a ficar agressivo no ato sexual. Só sentia prazer se me machucasse.
Advogada de defesa, Janira Rocha: Presenciou algum episódio em Brasília com ele?
Flordelis: Quando eu saí do meu carro, ele estava saindo do quarto da Rayane. Eu perguntei o que ele estava fazendo aí e ele disse: vim me despedir da minha filha. Nesse dia, Rayane chorou o dia todo. Achei que ela estivesse brigada com o marido. Ela não me contou.
Perguntas dos jurados para Flordelis. Quem lê é a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce
Jurados: Pensando na sua vida, escreveria igualzinha?
Flordelis: Matar meu marido? Metade da Flordelis morreu junto. Eu morri junto
Jurados: O que falaria em sua defesa?
Flordelis: Eu não tenho que pagar pelos erros de ninguém. Há três anos e pouco, excelência, estou pagando por uma coisa que não fiz. Estou sendo chamada de mandante do assassinato da pessoa que eu mais amava nessa vida. Eu só tinha seis meses de mandato na Câmara, eu precisava dele para que meu mandato desse certo.
Jurados: Quando soube dos abusos?
Flordelis: Depois da morte dele. Eu posso contar uma coisa para a senhora? (Autorizada, ela continua) Depois da morte do meu marido, fui ajudar minha filha a arrumar as coisas dela para mudar para Rio das Ostras. Eu tive um choque muito grande quando abri a gaveta das roupas íntimas da minha filha e eram iguais às minhas. Eram idênticas. Eu tive um choque, fiquei calada. Desci pro meu banheiro e fui chorar sozinha.
Jurados: Por que pediu perdão a Siro Darlan?
Flordelis: Por vergonha.
Jurados: Por que disse ao André para dar um arrozinho (para Anderson) porque não podia separar para escandalizar o nome de Deus?
Flordelis: Essas coisas que estão falando não é verdade. Quando eu disse para dar a comida para ele, era porque meu marido estava doente. Ele tomava remédios. Tenho todos os exames. Ele só ia ao hospital obrigado.
Juíza: Mas a mensagem fala em separação
Flordelis: Olha, eu não lembro. Eu jamais imaginei a minha vida sem Anderson do Carmo.
Jurados: Houve relatos de filhos a seu favor e contra. O que tem a dizer em relação aos que são contra?
Flordelis: É doído pra mim falar isso, mas me sinto uma mulher agraciada por Deus. Dá a entender que são vários filhos que ficaram contra mim, mas foram seis ou sete. Tudo isso por dinheiro. Todo meu dinheiro foi roubado, desaparecido. Eu sempre trabalhei. Eu, como deputada federal, peguei empréstimo no Banco do Brasil e dependi de cesta básica.
Jurados: Sabia dos envenenamentos?
Flordelis: Não, senhora. Posso dizer pelo que vivia com ele. Meu marido pouco vivia em casa. Tinha uma padaria onde ele fazia reuniões, tomava café lá e almoçava. Ele comia muito mais fora de casa do que dentro. Eu não acredito (no envenenamento). Até porque quando meu marido morreu, eu estava cuidando dele.
Jurados: Relação entre não poder separar e dar arroz?
Flordelis: Na questão da separação, não, porque eu jamais me vi sem Anderson do Carmo. Está sendo muito difícil. Eu era dependente dele em tudo na minha vida. Jamais cogitei essa possibilidade. A questão do arroz, não sei. Não sei do momento da conversa.
Jurados: Quer falar mais alguma coisa?
Flordelis: Só queria dizer para a senhora e para os jurados que estão aqui que eu não, em momento algum, mandei ou pensei em matar o meu marido. Em momento algum tive esse pensamento, Estou na cadeia hoje pagando por algo que não fiz. Eu amava meu marido. Está sendo muito difícil, muito difícil a vida para mim.