"Frieza e menosprezo pela vida humana" acentuaram pena de Flordelis
Apesar da pastora ser réu primária, sentença considerou que houve "audácia extremamente reprovável, planejando execução brutal e fria" da vítima
O Conselho de Sentença do Tribunal do Juri de Niterói condenou Flordelis dos Santos à pena de 50 anos e 28 dias de prisão pela morte do pastor Anderson do Carmo, morto em 2019. Apesar da pastora ser réu primária, a sentença considerou "culpabilidade acentuada" dela em "verdadeira e bárbara execução, caracterizando uma demonstração explícita de ódio".
Na decisão é ressaltado que Flordelis tinha ciência da ilicitude da conduta e mesmo assim não se intimidou com a prática do crime, tendo "audácia extremamente reprovável, planejando execução brutal e fria" da vítima. O texto lembra ainda que o laudo no corpo de Anderson verificou 30 perfurações, resultadas de disparos concentrados em regiões vitais como crânio, tórax e abdome, enquanto a vítima dormia, na mesma casa de seus filhos, evidenciando ainda mais a "frieza e menosprezo" de Flordelis pela vida humana.
A juíza de Direito Nearis Carvalho Arce destacou também as consequências do delito, "desastrosas e demasiadamente graves", como os danos psicológicos causados a toda família. Danos para os genitores, que perderam um filho. E para os filhos, adotivos e "de criação", inclusive menores de idade. Além disso, o texto trata que o crime abalou toda a sociedade, ultrapassando as fronteiras do país. E foi um atentado contra o Estado Democrático de Direito.
Flordelis foi condenada por homicídio triplamente qualificado consumado, pela motivação torpe que é a "vingança vil e abjeta em razão de a vítima manter rigoroso controle das finanças do grupo familiar e administrar conflitos da casa de forma rígida", não permitindo privilégio das pessoas mais próximas à acusada em detrimento dos outros membros da família. A sentença também contou que o delito se torna ainda mais repugnante visto que a vítima "sempre se dedicou e foi essencial para o êxito da ré em suas carreiras, em diversos âmbitos, político, religioso e artístico".
Além da pastora, foi condenada sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues. Ela recebeu pena de 31 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. O Ministério Público afirmou que foi feita justiça com a condenação das duas.
"Flordelis é manipuladora, vingativa e assassina. Vamos apresentar os recursos contra a absolvição dos demais réus no prazo processual", contou o promotor de Justiça Décio Viegas.
Os outros três réus - Marzy Teixeira, André Luiz de Oliveira e Rayane dos Santos - foram absolvidos. Marzy e André respondiam por homicídio, tentativas de homicídio e associação criminosa armada. Já Rayane era acusada de homicídio e associação criminosa armada.
"Os jurados não fundamentam o motivo. Mas pelas perguntas que direcionaram a ela (Marzy), acredito que seja por relacionarem a uma certa dependência dela a Flordelis".
O assistente de acusação Angelo Máximo se emocionou ao lembrar dos familiares biológicos de Anderson do Carmo, que morreram após o assassinato do pastor:
"A família está satisfeita com a condenação de Flordelis e Simone. A absolvição é um veredito do Tribunal do Juri que irei respeitar e não vou recorrer", afirmou.