COP27 inicia semana decisiva dividida sobre o financiamento da ação climática
O presidente eleito de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, marcará presença na conferência esta semana
A COP27 entra nesta segunda-feira (14) na semana decisiva de negociações com uma divisão persistente entre os países ricos, responsáveis históricos do aquecimento global, e os países em desenvolvimento, que reivindicam mais dinheiro para enfrentar os estragos da mudança climática.
As quase 200 delegações reunidas no balneário egípcio de Sharm el Sheikh estão debatendo a criação de um fundo específico nos quais os países mais ricos pagariam para cobrir os danos e perdas sofridas pelos países pobres, mais vulneráveis à mudança climática.
As partes têm até 2024 para criar eventualmente esse novo mecanismo financeiro.
"Resta muito trabalho pela frente se quisermos obter resultados significativos. É preciso mudar de velocidade", pediu nesta segunda-feira (14) Sameh Choukri, chefe da diplomacia egípcia e presidente em exercício da COP, ao fazer um balanço das negociações globais.
Choukri anunciou a intensificação das conversas para tentar deixar "poucos temas em aberto" na quarta-feira à noite, e entrar na reta final.
A COP27 se encerra oficialmente na sexta-feira, dia 18.
Não abandonar a luta
John Kerry, o enviado especial dos Estados Unidos para o clima, deixou claro que seu país, o segundo maior emissor mundial de gases do efeito estufa, não aceitará uma "estrutura legal" que seja sinônimo de "compensação" pela mudança climática.
Esse conceito faz com que os países ricos temam denúncias futuras dos países pobres na Justiça internacional.
"É uma boa solução criar um mecanismo específico? Pensamos que não é o caso", declarou à AFP uma fonte europeia, que prefere fortalecer os mecanismos já existentes.
No entanto, os países em desenvolvimento seguem empenhados.
"Não abandonamos a luta, é preciso empurrar e empurrar mais forte", assinalou Henry Kokofu, negociador de Gana, em nome do Climate Vulnerable Forum, que reúne quase 60 países.
Além da questão de perdas e danos, as nações em desenvolvimento denunciam que os países mais industrializados não cumpriram sua promessa de contribuir a cada ano com 100 bilhões de dólares para ajudá-las a se adaptarem aos efeitos da mudança climática e reduzir emissões.
Nesta segunda-feira, a presidência alemã do G7 e cerca de 60 países vulneráveis lançaram na COP27 um "Escudo Global" para lutar contra os efeitos do aquecimento, que, por ora, já arrecadou cerca de 215 milhões de dólares e terá a Costa Rica entre os seus primeiros beneficiados.
Lula, o esperado
O presidente eleito de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, muito esperado após a gestão de Jair Bolsonaro, marcará presença na conferência na quarta e na quinta-feira.
Lula tem pelo menos quatro atos públicos previstos para os próximos dias, para demonstrar, segundo a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, presente em Sharm el Sheikh, que "o Brasil volta ao protagonismo ambiental no espaço multilateral".
A exceção mexicana
Na conferência anterior, a COP26 de Glasgow, os países se comprometeram a manter a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris de 2015: conter o aumento da temperatura em +1,5°C até o final deste século em relação à era pré-industrial.
Esse compromisso envolvia aumentar as metas de redução das emissões de gases do efeito estufa antes da reunião no Egito.
Porém, apenas algumas dezenas de países o fizeram desde então, quando o planeta caminha para uma elevação de pelo menos 2,4°C de temperatura, segundo a ONU.
Na primeira semana não ocorreram anúncios nesse sentido, com a exceção notável do México, que aumentou de 22% para 35% sua meta de redução das emissões até 2030.
"Cada um parece estar agora esperando os demais, e considera que já fez sua parte", comentou Pierre Canet, da ONG WWF.
De acordo com vários observadores, a China, o maior emissor mundial, e a Arábia Saudita, potência petrolífera, manifestaram mais uma vez suas ressalvas de que a declaração final mantenha a meta de +1,5°C, e insistem em que se privilegie o objetivo principal do Acordo de Paris de conter o aquecimento global "claramente abaixo de +2°C".