Despedida

Milton Nascimento sobre seu último show: "A maior emoção que já senti na vida"

Cantor e compositor fala pela primeira vez após a apresentação com que encerrou a carreira nos palcos; depois do espetáculo, artista recebeu amigos como o rapper Djonga no camarim

Milton Nascimento veste manto inspirado na obra de Bispo do Rosário, assinado por Ronaldo Fraga - Divulgação / Marcos Hermes

“Essa foi a maior emoção que já senti na vida”, disse Milton Nascimento, ainda “aterrissando” após o último show de sua carreira, domingo (13), no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte.

"Reunir no palco pessoas tão importantes na minha vida como Marcinho (Borges), Lô (Borges), Toninho Horta, Samuel Rosa, Beto Guedes e Nelson Ângelo foi um acontecimento muito importante pra gente fechar esse ciclo. Ainda mais que essa turnê inteira foi muito especial. Meu filho, Augusto, conseguiu criar um projeto em que todas as pessoas envolvidas são grandes amigos. E isso fez toda a diferença. O carinho de cada uma daquelas 60 mil pessoas que estavam lá ontem (domingo, 13) vai me marcar pra sempre. Agradeço também aos 500 mil fãs que estiveram com a gente ao longo da nossa “última sessão de música”. Muito obrigado, eu amo todos vocês", disse ele ao GLOBO.

Festa no camarim

Assim que o cantor e compositor de 80 anos saiu do palco, uma festa tomou conta de seu camarim. E ele se manteve firme e forte. Varou a madrugada recebendo os cumprimentos dos amigos, que surgiam tomados pela emoção.

Era gente chorando, impactada por ter testemunhado a despedida dos palcos do autor de “Maria Maria” e “Nos bailes da vida”. O rapper Djonga, a filósofa Djamilla Ribeiro, o ator Daniel de Oliveira e o cantor Rogério Flausino foram alguns que o reverenciaram pessoalmente.

O celular de Milton também foi inundado de mensagens. A produção passou a noite toda informando o cantor sobre a enxurrada de posts que tomaram conta da internet enquanto o show era transmitido pelo Globoplay.

A apresentação antológica, que consumiu cinco dias de montagem, encerrou a turnê “A última sessão de música” e reuniu recorde de público da trajetória de Milton. Ao todo, foram sete meses de estrada indo aonde o povo está: 35 shows espalhados por dez países e que contabilizaram 500 mil espectadores.

Quando as cortinas do Mineirão foram abertas, Milton teve a real dimensão do que aconteceria dali para frente: seria acolhido por um público que cantou, chorou e gritou “Bituca, eu te amo” do início ao fim.

Ele, que devolvia com “eu amo vocês”, exibia a emoção no semblante. Foi às lágrimas várias vezes.

Uma noite para Gal

Milton dedicou o espetáculo no Mineirão “à querida amiga Gal Costa”, morta na última quarta-feira. Uma foto dos dois abraçados cobriu os dois telões ao lado do palco antes da performance. Em cena, ele também citou o parceiro Fernando Brant e Elis Regina, “o amor da minha vida”. Foi a cantora que definiu o timbre de Milton como “a voz de Deus”.

Quando a boca secava, ele bebia a água de coco em temperatura ambiente da caneca amarela apoiada numa mesa a seu lado. O fato de estar ao lado dos companheiros do Clube da Esquina — Lô Borges, Wagner Tiso, Toninho Horta e Beto Guedes foram convidados a subir ao palco — carregou ainda mais as tintas da emoção.

Com os parceiros do Clube, Milton cantou “Para Lennon e McCartney”. Aliás, ele foi para o Mineirão ouvindo Beatles no carro. Um vídeo com a cena foi postado no Instagram do artista. Nele, enquanto toca “Here, there and everywhere”, Milton comenta: “Não tem jeito, insuperável isso aí”. Será mesmo? Insuperável é Milton, que sempre ouviu a voz que vem do coração.