5G deve fazer setor de telecom alcançar investimento recorde de R$ 37,2 bi
Rede será antecipada para cidades menores e já atrai interesse de multinacional americana para setor de infraestrutura
A chegada do 5G no Brasil vai permitir que os investimentos em telecomunicações alcancem inéditos R$ 37,2 bilhões neste ano, uma alta de cerca de 5% em relação ao ano anterior. De acordo com a Conexis, associação que reúne as companhias do setor, o avanço deve continuar no mesmo ritmo em 2023 por conta da antecipação da implantação da nova tecnologia de quinta geração para além das capitais.
Atualmente, apenas as capitais contam com a rede 5G pura (standalone), que permite velocidade de até cem vezes superior ao atual 4G. Pelo cronograma original da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), outras 26 cidades com mais de 500 mil habitantes deveriam estar aptas a receber a nova tecnologia até janeiro. Mas, agora, esse número subiu para 420 municípios porque foram incluídas as áreas ao redor dessas localidades.
"Decidimos criar clusters com esse grupo de cidades por conta de uma otimização de recursos, que envolvem os custos para limpeza de faixa de frequência e comunicação à população local nesses locais. Com isso, esses mais de 420 municípios estarão aptos a receber o 5G.
A implantação vai depender da estratégia de cada operadora", disse Moisés Queiroz, conselheiro da Anatel, que também é presidente do Gaispi, grupo responsável por acompanhar a instalação da nova rede 5G.
Segundo ele, também poderá ser antecipado para antes de julho de 2023 a liberação da rede 5G em cidades acima de 200 mil habitantes. O grupo inclui mais de 150 municípios. "Esse grupo pode ser antecipado também. E por uma questão de concorrência o 5G vai chegar a mais locais do Brasil", afirmou.
Segundo Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis, o setor passa por um movimento de chegada de nova tecnologia e demanda crescente por internet, que ganhou ainda mais impulso desde o início da pandemia. Além disso, entre as operadoras, a nova rede tem impulsionado a ampliação das redes 4G e de fibra ótica.
"Vamos entrar em 2023 com boas perspectivas, mantendo os investimentos elevados. Se houver condições, as empresas vão antecipar a construção das redes até como forma de rentabilizar mais rápido os investimentos a seus acionistas", destacou.
Americana mira em infraestrutura local
O interesse na ampliação das novas redes é acompanhado de um consumidor cada vez mais propenso a consumir 5G. Ao longo desta semana, a Qualcomm, fabricante de chips, reúne fabricantes e operadoras para anunciar novos produtos como smartphones, óculos de realidade aumentada e soluções para games durante o Snapdragon Summit nos Estados Unidos.
Silmar Palmeira, diretor Sênior de Produtos da Qualcomm na América Latina, adiantou que a empresa vai selar uma parceria no Brasil com um fabricante de infraestrutura para produzir equipamentos de rede às teles e às empresas interessadas em construir redes privadas de 5G. A previsão, revelou, é fechar a parceria esse ano, e desenvolver a solução já em 2023.
"Isso vai permitir que uma nova opção de fornecimento e alternativa mais barata à importação de equipamentos. Só assim será possível conseguir escala. Vamos ainda usar esse investimento no Brasil como base de fornecimento para América Latina", afirmou Palmeira.
Segundo o executivo, a previsão é que até 2025 o 5G seja maioria no Brasil, já que o ritmo de avanço está sendo duas vezes e meio mais rápido que o 4G atual.
Pesquisa da Ericsson aponta que, embora a inflação ainda pressione o bolso das famílias, 69% dos usuários no Brasil atualizarão seus aparelhos para o 5G em 2023. Segundo a companhia, 24% já têm um dispositivo pronto para 5G. A previsão é que 50 milhões de brasileiros contratem planos 5G em 2023.
Teles prontas para antecipação
Na Vivo, por exemplo, metade dos smartphones vendidos hoje já são habilitados à nova rede. Por isso, a companhia vê com bons olhos a antecipação da antecipação da rede no Brasil pela Anatel. Segundo Márcio Fabbris, vice-presidente de Marketing e Vendas da Vivo, a empresa pretende investir entre R$ 8,5 bilhões e R$ 9 bilhões no ano que vem em infraestrutura. Estima-se que o 5G possa representar mais da metade desses aportes.
"A partir de agora o investimento em 5G passa a ser feito por demanda de clientes, seguindo um modelo orgânico. Hoje temos um sistema com o uso de algoritmos que analisa o consumo por antena e o número de clientes. E quando chega a um determinado nível, a gente investe", disse Fabbris.
Junto com o 5G, outras tecnologias também avançam. A Vivo vai ampliando a rede de fibra ótica, cuja meta é avançar de 22 milhões para 29 milhões de casas aptas a receberem fibra até 2024.
"Estamos chegando agora em cidade com menos de 10 mil habitantes. A conectividade não vai estar só nos grandes centros. Estamos mirando em serviços. Acabamos de criar um laboratório de realidade aumentada para explorar as novidades", afirmou Fabbris.
A TIM, que tem o maior número de rede instalada em 5G hoje com 2.900 antenas das seis mil no país, segundo dados da Anatel, já conta com 100% dos bairros cobertos no Rio, São Paulo, Curitiba e Recife. Para Fabio Avellar, vice-presidente Comercial da tele, a companhia está pronta para acelerar a cobertura.
A empresa pretende investir cerca de R$ 9,2 bilhões em 2023 e 2024. Esse ano, destinará R$ 4,8 bilhões na ampliação da rede. "Queremos estar onde estão os nossos clientes. Em 2023, vamos colocar 4G em todos os municípios do Brasil".
A Claro disse que "está pronta para ativar o 5G assim que as autoridades liberarem a ampliação". Além disso, a tele tem estimulado fabricantes a lançar cada vez mais aparelhos e dispositivos compatíveis com a quinta geração.
*O repórter viajou a convite da Qualcomm