COP27 recebe Lula ansiosa por uma mudança da política ambiental no Brasil
Convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fatah al Sisi, Lula chegou na terça-feira no balneário de Sharm el-Sheikh
Após o intenso desmatamento registrado durante o mandato de Jair Bolsonaro, a COP27 recebe nesta quarta-feira (16) o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ansiosa por ouvir medidas concretas sobre a proteção da Amazônia.
"O Brasil está de volta ao mundo para debater a questão climática", escreveu Lula em sua conta no Twitter, seis semanas antes da posse.
Convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fatah al Sisi, Lula chegou na terça-feira no balneário de Sharm el-Sheikh.
Ele teve as primeiras reuniões durante a noite, incluindo encontros com o enviado especial para o clima do governo dos Estados Unidos, John Kerry, e com o principal negociador da China na COP27, Xhi Zhenhua.
"Fiquei feliz em encontrar ontem à noite (terça-feira) com o presidente eleito Lula e fiquei animado pela forma como ele falou, para enfrentar o problema de uma vez por todas, para preservar a Amazônia", afirmou Kerry nesta quarta-feira.
"Trabalharemos de forma diligente para alcançar este objetivo ao lado de nossos aliados, Noruega, Alemanha e outros países que estão profundamente comprometidos com isto há muito tempo", acrescentou.
Agenda movimentada
Durante dois dias, Lula participará de pelo menos quatro eventos públicos, incluindo um discurso nesta quarta-feira às 12H00 (horário de Brasília), além de reuniões com políticos, líderes indígenas e representantes da sociedade civil.
Durante os atos, ele deve falar sobre seus planos para a Amazônia, onde o desmatamento médio anual aumentou 75% na comparação com a década anterior durante o mandato de Jair Bolsonaro, que termina em 31 de dezembro.
Antes da viagem, a primeira ao exterior desde sua vitória no segundo turno de 30 de outubro, Lula enviou nomes de sua confiança para preparar o terreno, como as ex-ministras do Meio Ambiente Marina Silva (2003-2008) e Izabella Teixeira (2010-2016).
Marina Silva, cotada para retornar ao cargo de ministra, afirmou que a presença de Lula, antes de mesmo de assumir a presidência, é uma "grande mensagem" e mostra que o Brasil "recupera o protagonismo climático".
Ela destacou que o objetivo é alcançar o "desmatamento zero", com o qual o Brasil deseja dar um "exemplo" ao mundo.
Noruega e Alemanha anunciaram, após a vitória de Lula, que estão dispostas a retomar a ajuda financeira para preservar a floresta amazônica no Brasil, depois que interromperam o apoio em 2019, pouco depois da chegada de Bolsonaro ao poder.
A Noruega é o maior contribuinte do Fundo Amazônia e, segundo o ministério do Meio Ambiente do país, há atualmente 641 milhões de dólares disponíveis.
Grandes esperanças
O Brasil concentra 60% da Amazônia, um dos principais 'sumidouros' de CO2 do planeta, distribuída em nove países e essencial no combate às mudanças climáticas.
O desmatamento do lado brasileiro, segundo dados oficiais, atingiu o nível máximo em 15 anos no período 2020-2021 devido ao estímulo à mineração e atividades agropecuárias pelo governo Bolsonaro.
A devastação representa quase metade das emissões de gases do efeito estufa do país, segundo a ONG Observatório do Clima.
A deputada federal eleita e líder indígena Sônia Guajajara, que está em Sharm el Sheikh, fez um apelo ao presidente eleito para "pensar com a população as políticas sociais" do Brasil.
Ela pediu, em particular, para Lula concluir em seus primeiros meses de governo a demarcação de cinco territórios indígenas.
Marina Silva defendeu com veemência a criação de uma nova Secretaria Nacional para coordenar a ação climática entre vários ministério e destacou a meta de reflorestamento de 12 milhões de hectares.
Compromisso do G20
A COP27 também avança em suas reuniões para obter uma declaração final, com negociações intensas sobre a possibilidade de um novo fundo de perdas e danos provocados pela mudança climática.
A conferência da ONU termina oficialmente na sexta-feira (18).
Na reunião de cúpula em Bali, o G20 reafirmou o compromisso de manter a temperatura média do planeta em +1,5ºC, e destacou que prossegue com o compromisso de retirar os subsídios "ineficientes" aos combustíveis fósseis.