COP27

Lula propõe a Amazônia como sede da COP de 2025

Em seu primeiro discurso na COP27, Lula declarou que apresentará a proposta ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres

Presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participa de uma discussão sobre a Floresta Amazônica na COP27 - Mohammed Abed/ AFP

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, propôs nesta quarta-feira (16) que a 30ª conferência do clima da ONU, programada para 2025, aconteça na Amazônia brasileira.

Em seu primeiro discurso na COP27, Lula declarou que apresentará a proposta ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, para que a reunião climática anual "aconteça no Brasil, na Amazônia".

Ele disse que há "dois estados aptos" para organizar o encontro, Amazonas e Pará.

Recebido com aplausos por centenas de representantes da sociedade civil em Sharm el Sheikh, cidade egípcia que é sede da COP27, Lula prometeu uma "luta muito forte" contra o desmatamento da Amazônia, que avançou com grande força nos quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro.

Vamos "acabar com o processo de degradação que nossas florestas tropicais estão vivendo", disse.

Durante o evento, organizado pelos governadores dos nove estados brasileiros da bacia amazônica, Lula afirmou que com seu retorno à presidência, a partir de 1º de janeiro, "o Brasil está de volta ao mundo", começando pela agenda climática.

"O Brasil não pode ficar isolado como esteve nos últimos quatro anos, com um governo que não fez nenhum esforço para conversar com o mundo", afirmou.

Lula também anunciou a criação de um ministério dos Povos Originários para que os indígenas "não sejam tratados como bandidos". E prometeu "conversar muito" com os povos indígenas para coordenar as políticas na Amazônia.

Durante o evento, o governador do estado do Pará, Helder Barbalho, leu uma carta conjunta dos governadores da bacia amazônica na qual pedem a Lula "maior celeridade na tramitação dos apoios internacionais".

“Faço um pedido em nome do Consórcio de Governadores e dos povos da floresta. Peço que ofereça a Amazônia para sediar a COP30, para que possamos levar o planeta a debater a Amazônia conhecendo a Amazônia. Para que, mais do que conhecê-la pelas redes sociais, pela distância dos livros ou do acesso à informação pelas redes, conheçam a Amazônia e o seu povo, com o pé no chão, olhando para nós, de frente, e construindo conosco uma Amazônia viva com sustentabilidade e com justiça social aos povos da Amazônia”, disse Barbalho.

O tema dos apoios internacionais é um dos pontos centrais da participação de Lula na COP27, depois que Noruega e Alemanha, os principais contribuintes do Fundo Amazônia, anunciaram a intenção de desbloquear os fundos congelados desde 2019 devido à política de Bolsonaro.

Lula se reuniu na terça-feira (15) à noite com o enviado do governo dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, que expressou o compromisso de Washington com a preservação da Amazônia e anunciou que trabalhará neste sentido com o próximo governo brasileiro e com Noruega e Alemanha.

Convívio democrático
Lula disse que conversará com governadores e prefeitos para que governem em comum acordo. Segundo ele, o Brasil voltará a conviver democraticamente com seus representantes, independentemente de partidos políticos e visões religiosas.

“Para acabar com a fome, com a miséria, com o processo de degradação que as florestas estão vivendo, com o sofrimento dos nossos indígenas, nós vamos ter de conversar muito e trabalhar juntos para que o Brasil seja motivo de orgulho ao mundo e não motivo de desespero como é hoje”, alertou o presidente eleito.

O combate ao desmatamento ilegal e o cuidado aos povos indígenas serão muito fortes durante seu governo, anunciou o presidente eleito. Para Lula, as riquezas da Amazônia devem ser exploradas, mas mantendo a floresta de pé.

“Se a Amazônia tem a importância que todos vocês e os cientistas dizem ter, nós não temos de medir nenhum esforço para que a gente consiga convencer as pessoas de que uma árvore em pé, uma árvore viva, serve mais do que uma árvore derrubada sem nenhum critério, sem nenhuma necessidade”, disse.

Para Lula, é precisa garantir recursos, de forma a ajudar as prefeituras a melhor desenvolverem um trabalho de base.

“A gente não vai evitar queimada se a gente não tiver o compromisso dos prefeitos. É o prefeito que está na cidade; que sabe de quem é a terra; e que sabe onde começou [o fogo]. Não adianta ficar discutindo de Brasília. É importante pactuar e saber que os prefeitos vão ter recursos para que a gente possa cobrar deles alguma coisa”, completou.

O presidente eleito viajou para a COP27 a convite do presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sissi. Foi também convidado para integrar a comitiva do consórcio de governadores da Amazônia Legal. “Não poderia ter sido convite mais representativo do que um convite feito pelos governadores da Amazônia”, disse Lula.

Amanhã (17), Lula tem encontros com representantes da sociedade civil, grupos indígenas e com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Na sexta-feira (18), viaja para Portugal, já no retorno ao Brasil.

A íntegra da Carta dos Governadores da Amazônia Legal.