Luto

Isabel fez o vôlei se tornar profissional: "Foi meu espelho, um mulherão", diz amiga Jackie

Amiga de infância e parceira na praia e na quadra, Jackie lamenta morte do ícone do vôlei: 'Falava o que pensava e por isso eu a admirava demais'

Jackie e Isabel em passagem pela seleção brasileira de vôlei nos Jogos Olímpicos de 1984 - Reprodução

Jackie Silva mal conseguiu falar sobre a morte de sua amiga de infância, parceira nas quadras e no vôlei de areia. Muito emocionada atendeu O GLOBO dizendo que na segunda-feira havia ligado para Isabel Salgado, que faleceu na madrugada desta quarta-feira, e que ela não atendeu.

"Em seguida a Isabel mandou mensagem de texto dizendo que estava muito gripada e que me ligava quando melhorasse", conta Jackie, que começa a chorar. "Não esperava acordar com uma notícia devastadora dessas".

Jackie Silva conta que conheceu Isabel aos 9 anos, na escola Notre Dame, onde estudaram juntas. E desde então mantiveram contato:

"Ainda éramos crianças... Começamos juntas no vôlei, jogamos em todas as categorias da seleção e como dupla no vôlei de praia. Foi minha grande amiga, uma pessoa que nunca contei que fosse perder, porque sempre foi tão presente, com uma força absurda personificada nela. Tinha muita força nela", fala Jackie.

"Ela era um mulherão. Jogou vôlei no mais alto nível. Juntas a gente passou por muita coisa. Vivemos a época amadora e depois a transformação para o profissional. Nós nos transformamos junto também. Essa mudança permeou nossas carreiras. E ela era meu espelho, em quem mirava. Porque ela ia, fazia e tudo dava certo. Isabel era forte, falava o que pensava e por isso eu a admirava demais."

Jackie diz que Isabel "gostava de aprontar todas", era divertida, fascinante. Uma das cenas que não sai da sua cabeça foi quando a amiga, com barrigão de seis meses, queria se jogar no chão para defender bolas no treino e jogo.

"Com aquela camisa do Flamengo justinha... Consigo ver direitinho. Todo mundo queria segurá-la com medo. Ela nunca teve. Foi musa quando o esporte ainda não era nada. Uma pessoa intensa, com uma história linda dentro e fora de quadra."

Em quadra, as duas estiveram juntas nos Jogos Olímpicos de Moscou (1980) e Pequim (1984), quando a seleção brasileira estreava em competições de alto nível. E Jackie acredita que mesmo sem título mundial ou olímpico, ela tinha "pompa de campeã de tudo, olímpica e mundial".

"Representa mais do que muitas atletas que tiveram estas conquistas. Porque era Isabel. Tinha marca de uma campeã, era atleta forte, foi além de medalhas. É bom falar dela porque as pessoas precisam ter a dimensão de quem foi Isabel Salgado e o que ela representou para o esporte brasileiro", complementou. "Sinto uma triteza profunda de saber que não poderei conversar mais com ela. Isabel era companheira e amiga mesmo. Bom papo... Falávamos sobre tudo. Isabel foi uma matriarca, mãezona e que tem uma família tão linda quanto ela."

O velório de Isabel terá início às 11h desta quinta-feira, na capela histórica do seu complexo cemiterial do Crematório e Cemitério da Penitência, no Caju. Às 14 horas será realizada a cerimônia de despedida da ex-jogadora de volei, reservada aos familiares e amigos. Em seguida, o corpo será encaminhado à cremação.