Entrevista

Juventude musical: Marcos Valle atravessa as décadas renovando seu som

Aos 79 anos e quase seis décadas na música, artista carioca segue atualizado e atento às novas gerações; confira a entrevista exclusiva para a editoria Cultura+

Aos 79 anos, Marcos Valle segue renovando sua música e buscando novas parcerias - Pedro Ladeira / Divulgação

Cantor, compositor, instrumentista e arranjador, Marcos Valle é um desses artistas que carregam na trajetória boa parte do legado da música brasileira. De volta aos palcos do Recife no último sábado (19), no Festival No Ar Coquetel Molotov, em entrevista exclusiva para a Folha de Pernambuco, comentou sobre como segue reciclando sua arte em parcerias com novos talentos e fazendo uso das novas tecnologias para produzir.

Aos 79 anos, quase 60 deles dedicados à música, o carioca despontou no cenário nacional na década de 1960, integrando a segunda onda da Bossa Nova no Brasil, seleto grupo que, ao lado do tropicalismo, deixou sua marca na cultura do País. Com dezenas de discos e EPs gravados, Marcos Valle nunca parou no tempo e segue tocando e estreitando laços com as novas gerações no Brasil e no fora do País - em novembro encerrou uma turnê de 12 shows na Europa. Já gravou parcerias com nomes como o inglês Tom Misch, o rapper Emicida, Nando Reis, Zélia Duncan, Joyce Moreno, Ivan Lins, entre outros, e recebeu encomendas de canções para os discos de Otto e Céu.

Como foi voltar a tocar no Recife e qual a sua relação com Pernambuco?
Já tem bastante tempo que não vinha ao Recife. Então, estou muito feliz com o convite. Eu sempre curti muito, desde cedo as minhas primeiras influências de música, o baião, o frevo. Tanto que eu cheguei a fazer dois frevos por gostar tanto. Muitas vezes misturei o frevo com outros ritmos.

O que abrange o repertório que você trouxe ao Recife e para sua última turnê internacional?
É um show muito interessante, acho eu, porque é uma mistura de diversas fases da minha carreira, mas é um show muito energético. Abrange coisas dos anos de 1960, 70, 80,90 e até chegar aos dias atuais, mas tudo com uma linguagem muito nova. A banda já toca comigo há muito tempo, são ótimos músicos. Então é um show realmente feliz, digamos assim. Tem coisas bem recentes e músicas novas, como “Vida”, uma música com a Liniker. 


Você tem se dedicado a interagir com artistas jovens? Como isso influencia na sua música?
Eu gosto muito dessa parceria com outras gerações e outros estilos. É muito bom e não é só muito bom para eles quando querem fazer parceria comigo, isso é muito bom para mim. É uma renovação e eu preciso disso. Estou sempre pensando no que vou fazer hoje e amanhã e isso para mim é vital. O tempo inteiro estou me reciclando. Recentemente, eu gravei com o Jovem Dionísio, uma música que se chama “O melhor do mundo”, que foi gravada como single. [No Coquetel Molotov] foi a primeira vez que tocamos isso ao vivo. 

Ao longo de quase seis décadas você acompanhou de perto a evolução do mercado da música. O que mudou?
Naquela época, a música tinha menos gente, não tinha internet, essas coisas. A música tinha mais espaço e os estilos não dependiam de competição e de gravadoras. Era uma coisa mais fácil. Depois tiveram várias fases quando a música ficou muito comercial e as gravadoras começaram a ditar um pouco o que seria tocado ou não - isso aconteceu lá por volta da década de 1990. E com a vinda da internet, a coisa mudou outra vez ao meu ver, porque da mesma maneira que você passou a ter um monte de coisa pra ver ao mesmo tempo, aí sim com uma competição grande, se permite que os artistas jovens possam formar seus públicos aos poucos, sem depender de gravadora ou mudar o seu estilo. Isso abre oportunidade para muita gente que não teria espaço.

Como as redes sociais fazem parte das suas produções?
Eu não sou um entendido total disso, mas eu utilizo. Gravei recentemente com Tom Misch, que é um grande artista de Londres, um garoto de 24 anos. Aí eu gravo daqui e ele grava de lá, e isso facilita bastante. Recentemente, eu também gravei com Ivan Lins e Joyce uma música chamada “Casa que era minha” e cada um gravou na sua casa. E a gente mixa junto. Essa facilidade de acelerar o processo de gravação e de mixagem e colaboração, principalmente com as novas gerações, eu uso ao nosso favor. Parcerias pelo WhatsApp, por exemplo, isso é muito bom. Poupa tempo e gasto.