São Paulo

Antes de nomear equipe de transição, Tarcísio tem encontro com Eduardo Bolsonaro

Aliados do presidente reclamam da proximidade do governador eleito com Gilberto Kassab

Tarcísio de Freitas - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Um dia antes de anunciar os escolhidos para a equipe de transição, o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez uma reunião nesta segunda-feira (21) com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O encontro ocorreu em meio a pressão do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos contra a aproximação entre Tarcísio e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, apontado como um dos principais articuladores políticos da futura gestão do ex-ministro. Os bolsonaristas afirmam que Tarcísio deve sua eleição ao capital político de Bolsonaro e reivindicam protagonismo nos principais cargos do governo. Apesar disso, desde que voltou de viagem dos Estados Unidos na semana passada, Tarcísio tem aparecido ladeado de pessoas próximas a Kassab, como Guilherme Afif (PSD) e o seu vice Felício Ramuth, também filiado à legenda.

Nas últimas semanas, assessores do governador eleito têm dito nos bastidores que ele não dará espaço para ala ideológica ligada a Bolsonaro em seu governo. No encontro com Tarcísio, Eduardo estava acompanhado do deputado estadual Gil Diniz (PL), um dos mais fiéis à família do presidente, e do vereador bolsonarista de São Bernardo do Campo Paulo Chuchu (PRTB). Para aumentar a influência de Bolsonaro no governo, Diniz quer emplacar um aliado da ala radical na presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Até agora, porém, essa articulação é vista com ceticismo por políticos experientes do estado. O grupo ligado ao presidente faz parte da bancada do PL, a maior do legislativo estadual, com 18 deputados. Deste total, há 11 bolsonaristas. Os demais são vinculados a Valdemar Costa Neto, que comanda a legenda com mão de ferro.

O vínculo com Kassab também provocou reclamação de outro cacique da política paulista. O presidente da Câmara dos Vereadores, Milton Leite (União Brasil), que é apontado como o mais poderoso da política no estado. O presidente da Câmara disse na sexta-feira ao jornal "O Estado de S.Paulo" que Kassab estava atrapalhando as alianças da base do governador. Leite é influente no setor de transportes, mas aliados seus na pasta devem ser desalojados sob Tarcísio.

Ao Globo nesta tarde, Leite suavizou o tom, disse que dará apoio a Tarcísio, como o fez no segundo turno, e que compreende que o governador deve ter liberdade para fazer suas escolhas por quadros de perfis técnicos. Ainda assim, fez um alerta:

— Ele (Tarcísio) tem que ter uma sensibilidade enorme para não perder qualquer voto na assembleia. Tem que ter esse cuidado técnico e político. São 34 na oposição (entre petistas, PSOL e outros partidos de esquerda) — afirmou Leite.

A reunião com Eduardo Bolsonaro ocorreu por volta das 17h no Edifício Cidade, no Centro de São Paulo, onde Tarcísio também se reuniu com assessores e integrantes da equipe de transição. Segundo interlocutores do governador, o encontro com o filho do presidente da República já estava previsto na agenda.