gordofobia

Companhia do Catar exige que brasileira compre passagens extras "por ser gorda demais"

Modelo paulista afirma que foi impedida de entrar em avião devido à gordofobia: "A empresa demonstra não querer fazer nada"

Modelo plus size, Juliana Nehme - Reprodução/ Redes Sociais

A companhia aérea Qatar Airways não chegou a um acordo com a modelo brasileira Juliana Nehme, que teve embarque negado para Doha, no Catar — país onde acontece a Copa do Mundo 2022 —, pelo fato de ser "gorda demais", como ela ouviu de funcionários no aeroporto de Beirute, no Líbano, onde se encontrava.

A embaixada do Brasil no Líbano tenta, desde a última quarta-feira (23), uma resolução para o caso, mas não obtém sucesso no diálogo que mantém com a empresa. O fato se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais desde que a influenciadora plus size revelou a discriminação em postagens no Instagram.

A modelo paulista de 38 anos afirma ter sido vítima de gordofobia pela Qatar Airways, ao ouvir, na fila de embarque, que precisaria comprar uma passagem extra por ser "gorda demais". Na manhã desta quinta-feira (24), a companhia aérea ressaltou que a brasileira só embarcará caso adquira mais duas passagens extras.

"O embaixador do Brasil no Líbano está me ajudando muito. Ele está fazendo de tudo para nos ajudar, mas falou que está muito difícil em relação à Qatar Airways. A empresa demonstra não querer fazer nada", comentou a Juliana, que sairia do Líbano rumo ao Catar, para tomar outro voo em direção a São Paulo, onde mora.

"Toda a repercussão na internet não valeu nada para a Qatar Airways. Ela não quer ceder de forma nenhuma, e não tem o que eu fazer", reclamou. "A embaixada me disse que terei que esperar, e que a Qatar não abriu mão, e que isso talvez não se resolva hoje. Está muito difícil", explicou a modelo.

Rayane Souza, fundadora do projeto Gorda na Lei, está em contato com Juliana para prestar apoio jurídico, mas explica que a situação é delicada: "Como a compra de passagem foi feita no exterior, não há nenhuma relação de consumo feita no Brasil, o que dificulta a atuação jurídica no Brasil", afirma.

Juliana estava no Líbano para conhecer parte da família da mãe. As duas esperaram cinco anos para economizar a quantia necessária para comprar a passagem para o local. "Graças a Deus nós estamos seguras e bem. Há pessoas maravilhosas nos ajudando", conta ela. "Gostaria de deixar claro que não quero ir para Doha porque quero ir para a Copa do Mundo. Gente, não gosto de futebol! Odeio futebol. Mas de Beirute não se vai direto para o Brasil", esclarece a modelo.

A seguir, leia o relato de Juliana sobre o caso:
"Estou no Líbano. Vim pela AIR France e foi tudo bem no voo! Vim de passagem econômica e não passei por nenhum constrangimento ou assédio. Comprei uma passagem de volta para o Brasil pela Qatar e chegando na hora de fazer o chek in uma aeromoça da Qatar chamou minha mãe enquanto a moça finalizava nosso chek in e disse pra ela que eu NAO ERA BEM VINDA PARA EMBARCAR PORQUE SOU GORDA. E eles não iam me receber no voo! Só se eu comprasse passagem de PRIMEIRA CLASSE.

Ela reteve as passagem da minha mãe, minha irmã, meu sobrinho e a minha! Depois de horas implorando, ela devolveu todas as malas que já tinha sido despachadas alegando que eu teria que comprar classe executiva ou não viajaria. Tentei até o final que me permitissem voar, já que estávamos em 4 pessoas viajando juntas, e ela SE RECUSOU ATÉ O FINAL a vender a passagem pra mim! Uma passagem que tem um custo de 3 mil dólares pra ser executiva. Eu paguei mil dólares. Fiquei por quase 2 horas implorando pra viajar. Minha mãe tentou de tudo.

Fui ameaçada. Ao tentar gravar o que eles estavam fazendo a moça do guichê me empurrou e nada adiantou. Fui amaçada se não parasse de gravar. Eu estou retida no Líbano. Eles queriam que minha mãe fosse embora e eme deixasse sozinha aqui no Líbano. Mas Não falo inglês nem árabe. Ela se recusou.

Minha irmã foi com meu sobrinho embora para o Brasil e ficamos aqui! Estou tendo gastos com hotel e táxi que não precisava! Não tenho dinheiro para me manter aqui por mais tempo. E eles disseram que eu tenho que pagar outra passagem pra minha mãe e o upgrade da minha pra executiva. Mas ninguém quis me vender! Fui extremamente humilhada na frente de todas as pessoas que estavam no aeroporto! Tudo isso porque sou GORDA! Que vergonha uma empresa como a Qatar permitir esse tipo de DESCRIMINAÇÃO com as pessoas! Sou GORDA Mas sou IGUAL A TODO MUNDO! Não é justo comprar minha passagem e ser HUMILHADA, AMEAÇADA E IMPEDIDA DE VOAR! PRECISO DE UMA SOLUÇÃO URGENTE!".