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Região opositora da Bolívia suspende protestos após 36 dias

Câmara dos Deputados aprovou a lei neste sábado e a enviou ao Senado para ratificação

La Paz, Bolívia - AFP

A região de Santa Cruz, reduto da oposição de direita e locomotiva econômica da Bolívia, suspendeu neste sábado (26), após 36 dias, os protestos para exigir um censo populacional, marcado pelo governo de esquerda para março de 2024.

O governo aceitou aprovar uma lei no Congresso para garantir a realização do censo nesta data, a distribuição de recursos econômicos e a redistribuição de assentos antes das eleições presidenciais de 2025.

A Câmara dos Deputados aprovou a lei neste sábado e a enviou ao Senado para ratificação, o que levou Santa Cruz a suspender os protestos.

Rómulo Calvo, líder do Comitê Cívico departamental, poderoso conglomerado civil-empresarial, destacou que “a partir deste momento fazemos um quarto intervalo, levantamos a greve e os bloqueios, sem suspender nossa luta”.

"Hoje é um dia histórico [porque] a democracia venceu", acrescentou em comunicado à imprensa.

A decisão, porém, gerou diversas reações nas ruas de Santa Cruz, próspera cidade de quase 2 milhões de habitantes.

"Isso (a suspensão dos protestos) para nós é um golpe baixo, um golpe baixo porque dá as costas a todo o trabalho que fizemos por 36 dias, sob sol, chuva, mau tempo e todos os desconfortos que levam a uma greve dessa natureza", disse Jorge, um engenheiro de 68 anos, irritado.

Por sua vez, Adolfo Villarroel, um vendedor de 46 anos, afirmou à AFP que a suspensão da medida “era algo que as pessoas já precisavam. Por todo lado você vê pessoas sofrendo, implorando por liberdade, implorando pelo direito de livre trânsito".

Santa Cruz iniciou os protestos em 22 de outubro com bloqueios de ruas, avenidas e estradas interdepartamentais para exigir do presidente Luis Arce um censo populacional para 2023. A distribuição de recursos públicos e a atribuição de assentos no Parlamento dependem do número de habitantes das regiões.

Durante mais de um mês de protestos, o transporte público foi paralisado e os mercados varejistas funcionaram esporadicamente um ou dois dias por semana.

Houve também confrontos de rua entre opositores e simpatizantes do governo que deixaram, segundo o governo, quatro mortos e mais de 170 feridos.

O Poder Executivo rejeitou o pedido de Santa Cruz, argumentando que era tecnicamente impossível organizar o censo para o ano que vem, e marcou para março de 2024.