Artes Visuais

Oficina Francisco Brennand completa 51 anos; diretora artística fala sobre gestão da instituição

Júlia Rebouças integra o comando do equipamento cultural desde 2021

Júlia Rebouças, diretora artística da Oficina Francisco Brennand - Rodolfo Loepert/Divulgação

Lugar que durante décadas serviu de ateliê e espaço expositivo de um dos maiores artistas visuais pernambucanos, a Oficina Francisco Brennand completou 51 anos de existência neste mês de novembro. Desde que se tornou uma organização sem fins lucrativos em 2019, poucos meses antes da morte do seu idealizador, a instituição vem buscando ampliar o seu alcance, ao mesmo tempo em que luta pela preservação de um legado artístico inestimável.

Uma das profissionais à frente da missão de conduzir o instituto é a sua diretora artística, Júlia Rebouças. A curadora, pesquisadora e crítica de arte sergipana mantém fortes laços com Pernambuco, desde antes do seu vínculo com a Oficina. Durante a infância já visitava o bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife, onde está localizado o espaço cultural e onde sua família materna, de origem portuguesa, fixou residência há muitos anos.

“Meu pai é cearense e minha mãe é portuguesa, mas os dois se conheceram no Recife. Essa sempre foi a minha cidade de referência. Meu avô materno, inclusive, chegou a trabalhar na fábrica de cerâmica do pai do Francisco Brennand”, conta a diretora, que após ingressar na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) se tornou ainda mais íntima da Várzea e do monumento à arte que o bairro abriga.
 

As recorrentes visitas à Oficina durante o período da graduação em Jornalismo já demonstravam o interesse de Júlia em trabalhar com arte. Aos poucos, a estudante foi se aprofundando cada vez mais na pesquisa sobre a obra de Brennand e, em 2020, já com importantes curadorias e passagens por equipamentos culturais de renome no currículo, começou a colaborar com o instituto como consultora. No ano seguinte, seu nome já constava no lugar de diretora artística do local.

“Na instituição, a gente tem trabalhado com uma gestão compartilhada. Eu, a Gleyce Heitor (diretora de educação e pesquisa), a Ingrid Melo (diretora de finanças e operação) e a Mariana Brennand (diretora-presidente) tomamos todas as decisões em conjunto, seja em questões de captação de recursos ou de projetos”, explica.

Ao lado da venezuelana Julieta Gonzales, Júlia é uma das curadoras da exposição retrospectiva “Devolver a Terra à Pedra que Era: 50 anos da Oficina Brennand”, com cerca de 200 obras do artista e foi prorrogada até outubro de 2023. Sua ocupação na instituição, no entanto, envolve mais do que pensar em mostras.

“A gente se pergunta qual é a vocação desse lugar, de que maneira ele pode ter um impacto social, envolver a comunidade, trazer mais pessoas, se abrir para novos artistas, quais tipos de exposições podem acontecer lá dentro e quais ações de educação e de pesquisa vamos desenvolver. Isso tudo faz parte do trabalho da direção artística, para além de fazer exposições, pesquisa e cuidar do acervo incrível que o Brennand deixou”, comenta;

Os planos imaginados para a Oficina Francisco Brennand tiveram que contar com uma inesperada pandemia, que obrigou o local a fechar as portas ao público durante certo tempo. O momento agora é de se preparar para a tão sonhada expansão. Ao longo do ano de 2022, parte das dependências do espaço passou por requalificações, com o objetivo de comportar todos os projetos que o instituto tem para o próximo ano.

“Restauramos obras e cuidamos um pouco da manutenção infraestrutural, que é um trabalho fundamental. Teremos uma série de projetos para o próximo ano, inclusive uma nova exposição do acervo, uma do artista Ernesto Neto e outra do Brennand, com a vinda de um curador convidado”, afirma a diretora, que destaca ainda as visitas guiadas, ateliês de artistas, palestras e outras ações que ocupam a programação da Oficina.