POLÍTICA

Bolsonaro vai a jantar com senadores e deputados do PL em Brasília

Apoiadores do presidente hostilizaram o presidente da Câmara, Arthur Lira

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil - Evaristo Sá/AFP

O presidente Jair Bolsonaro participou na noite desta terça-feira (29) de um jantar com deputados e senadores do PL, em Brasília, no primeiro evento político após a derrota nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva, período no qual ficou recluso.

Ao comparecer na reunião com as bancadas, Bolsonaro atende a um pedido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de retomar a rotina na reta final do governo e se engajar na vida partidária. O dirigente ofereceu ao aliado um cargo de presidente de honra da legenda.

O atual chefe do Planalto chegou ao restaurante localizado dentro de um clube na Asa Sul de Brasília às 20h25 e ficou por uma hora. Segundo pessoas presentes ao evento, o presidente não discursou, apenas cumprimentou parlamentares e conversou rapidamente com aliados.

Além de parlamentares do PL, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), participou do jantar. Ao chegar, foi chamado de "omisso" e "traidor da pátria" por cerca de dez apoiadores de Bolsonaro que estavam do lado de fora do restaurante. Nesta terça-feira, o PT e o PSB declaram apoio à reeleição de Lira.

Ao deixar o evento, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (PL-TO), também foi cercado por bolsonaristas, que questionavam o resultado das eleições e o impediram de terminar uma entrevista.
 

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se recusou a dar declarações, alegando que só falará após o pai se pronunciar.

— Eu só falo depois do presidente, eu não quero antecipar nada — disse Flávio, sem dar previsão de quando Bolsonaro voltará a dar declarações. — É o tempo dele disse.

Valdemar, por sua vez, disse que o presidente deve falar com apoiadores que há quase um mês participam de atos antidemocráticos em que costestam, sem provas, o resultado das urnas.

— Ele vai (voltar a falar com os apoiadores). Ele melhorou muito da semana passada para essa semana. E a cara dele? Eu só o convidei por causa disso. Fui no Palácio, vi a cara dele e disse: "ué, o que aconteceu?". Ele está bem, está bem, está animado. Se levantou, passou o baque. Nós não esperávamos que acontecesse esse resultado e ai agora ele se recuperou. E vamos ver como ele vai se comportar, ele vai querer falar com esse pessoal que está na rua -- disse Valdemar

Cerca de 150 pessoas participam do jantar, entre senadores, deputados, governadores e convidados, como o ministro da Secretaria de Governo, Célio Faria, o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, e o advogado Frederick Wassef.

O evento desta noite foi convocado por Valdemar como um encontro de “confraternização” para apresentar parlamentares antigos aos bolsonaristas, que migraram para o PL junto com o presidente da República e têm conseguindo ditar os rumos da sigla.

A reunião, porém, foi uma tentativa de acalmar os ânimos após o partido ser penalizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com uma multa de R$ 22,9 milhões na semana passada por ter entrado com uma ação pedindo a anulação, sem provas, de votos no segundo turno das eleições. A ação do partido, que questionou, sem provas de fraude, a legitimidade das eleições, atendeu a uma pressão dos aliados de Bolsonaro, mas gerou críticas internas da ala mais pragmática.

Parlamentares presentes ao jantar disseram que temas políticos foram deixados de foram do discurso de Valdemar Costa Neto. As costuras políticas para a eleição na Câmara e no Senado dominaram as rodas de conversa. Arthur Lira, segundo parlamentares, aproveitou para pedir votos para a sua reeleição.

Eleição no CongressoValdemar Costa Neto confirmou para a quarta-feira da próxima semana uma reunião para oficializar a candidatura do ex-ministro e senador eleito Rogério Marinho (PL-RN) à Presidência do Senado.

— (É uma reunião) para anúncio do nome para ver se temos condições de ir para frente. E nós temos toda a condição do mundo de trazer... podemos ter que negociar alguma comissão, negociar alguma coisa para ter mais voto, porque temos melhores condições — disse.

O presidente do PL disse que Lira, que tenta a reeleição na Presidência da Câmara, tem o compromisso de apoiar a candidatura do partido no Senado. Valdemar afirmou ainda que negocia Presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ou a relatoria da Comissão de Orçamento.

— Na Câmara, vamos estudar se é CCJ ou relator do Orçamento. É uma ou outra posição — disse.

Valdemar Costa Neto disse que não é um problema ter o PT no mesmo bloco para a reeleição de Lira. O partido do presidente eleito Lula e o PSB declaram apoio ao atual presidente da Câmara nesta terça-feira.

-- Não (tem problema). Na presidência da Câmara não existe isso. Na presidência da Câmara existe interesse e a situação é diferente. Isso não quer dizer que amanhã a gente vai votar junto com o PT. Não quer dizer nada disso -- disse Valdemar.