Justiça espanhola arquiva denúncia por cantos racistas contra Vinícius Junior
Jogador do Real Madrid foi chamado de "macaco" pela torcida do Atlético de Madrid durante partida em setembro
O Ministério Público de Madri arquivou a denúncia sobre gritos e cânticos racistas dirigidos a Vinícius Junior, atacante do Real Madrid, por torcedores do rival Atlético de Madrid durante clássico disputado em setembro deste ano. O órgão aponta que os atos "não constituiriam crime contra a dignidade da pessoa afetada", no caso, o jogador. Além disso, um representante do Ministério Público argumenta que os cantos não foram repetidos mais de duas vezes "e que duraram alguns segundos".
Apesar de o Ministério Público considerar que os cantos são "nojentos", "inadequados" e "desrespeitosos", o órgão entende que eles foram lançados durante a celebração de uma partida de futebol de "máxima rivalidade" juntamente com outros "depreciativos" ou "zombeteiros" marcados pela competição esportiva.
"Quem mata passa duas horas esfaqueando? Ou dois minutos? Isso é incrível" disse Esteban Ibarra, presidente do Movimento contra a Intolerância, o Racismo e a Xenofobia, que apresentou a denúncia em setembro.
O cerne da questão, para ele, é que a Polícia não forneceu dados e imagens, por isso, pede às autoridades que revejam como garantir a incorporação das gravações de áudio de eventos que ocorrem nas proximidades do estádio para que "os responsáveis possam ser identificados". A Lei contra a violência, racismo, xenofobia e intolerância no esporte considera o entorno dos estádios como um espaço de proteção e segurança que os clubes devem garantir.
"É perturbador que eles tenham tomado essa decisão e que ela não tenha sido suficientemente investigada. Isso abre as portas para a impunidade nesse tipo de evento em campos de futebol" concluiu Ibarra.
À época, a denúncia se deu após todos os setores, do esporte à política, condenarem unanimemente as ofensas racistas contra Vinícius. Os gritos de "você é um macaco, você é um macaco" valeram até a intervenção do Congresso — houve uma declaração institucional assinada por todos os grupos — e do Presidente do Governo, Pedro Sánchez ,que disse em entrevista que esperava uma resposta contundente do Atlético, seu clube do coração.
A La Liga, organizadora do Campeonato Espanhol, denunciou 24 mensagens ofensivas na partida, três delas racistas. E a Comissão Anti-Violência espanhola, pediu aos clubes que ajudem a identificar aqueles que espalham mensagens racistas no futebol.
Vinícius respondeu em campo
O Real Madrid venceu o "derby de Madri" contra o rival Atlético, que jogava em casa, no Estádio Metropolitano. Aos 18 minutos, os merengues fizeram 1 a 0, com o brasileiro Rodrygo, companheiro de Vini no clube e na seleção brasileira. Na comemoração, os dois brasileiros sambaram diante dos torcedores, que vaiavam o jogador no início da partida.
Mas a reação das arquibancadas veio logo: arremessaram objetos em campo e o juiz entregou ao delegado da partida, comunicando aos oficiais do estádio que a atitude foi um ato discriminatório, de acordo com a transmissão do Star+.
A dança não foi transmitida no telão do estádio e, mesmo assim, a torcida do Atleti chegou a gritar "Vinicíus, morra", de acordo com o jornal espanhol Marca. Durante a partida, um anúncio foi feito nos alto-falantes advertindo os torcedores da casa a agirem com respeito, após os arremessos dos objetos.
Aos 36 minutos, a estrela de Vinícius Junior brilhou de novo. Em passe na medida de Modric, o atacante recebeu a bola e chutou com o bico da chuteira no canto esquerdo do gol, mas a bola explodiu na trave. No rebote, Valverde não desperdiçou e estufou as redes: 2 a 0 para o Real. Na comemoração, todos os jogadores do clube se abraçaram, em um belo momento de companheirismo.
Na reta final do jogo, Hermoso descontou e a partida terminou em 2 a 1 para o time de Vinícius.