racismo

Justiça espanhola arquiva denúncia por cantos racistas contra Vinícius Junior

Jogador do Real Madrid foi chamado de "macaco" pela torcida do Atlético de Madrid durante partida em setembro

Vinicius Júnior, atacante do Real Madrid e da Seleção Brasileira - Oscar Del Pozo / AFP

O Ministério Público de Madri arquivou a denúncia sobre gritos e cânticos racistas dirigidos a Vinícius Junior, atacante do Real Madrid, por torcedores do rival Atlético de Madrid durante clássico disputado em setembro deste ano. O órgão aponta que os atos "não constituiriam crime contra a dignidade da pessoa afetada", no caso, o jogador. Além disso, um representante do Ministério Público argumenta que os cantos não foram repetidos mais de duas vezes "e que duraram alguns segundos".

Apesar de o Ministério Público considerar que os cantos são "nojentos", "inadequados" e "desrespeitosos", o órgão entende que eles foram lançados durante a celebração de uma partida de futebol de "máxima rivalidade" juntamente com outros "depreciativos" ou "zombeteiros" marcados pela competição esportiva.

"Quem mata passa duas horas esfaqueando? Ou dois minutos? Isso é incrível" disse Esteban Ibarra, presidente do Movimento contra a Intolerância, o Racismo e a Xenofobia, que apresentou a denúncia em setembro.

O cerne da questão, para ele, é que a Polícia não forneceu dados e imagens, por isso, pede às autoridades que revejam como garantir a incorporação das gravações de áudio de eventos que ocorrem nas proximidades do estádio para que "os responsáveis possam ser identificados". A Lei contra a violência, racismo, xenofobia e intolerância no esporte considera o entorno dos estádios como um espaço de proteção e segurança que os clubes devem garantir.

"É perturbador que eles tenham tomado essa decisão e que ela não tenha sido suficientemente investigada. Isso abre as portas para a impunidade nesse tipo de evento em campos de futebol" concluiu Ibarra.

À época, a denúncia se deu após todos os setores, do esporte à política, condenarem unanimemente as ofensas racistas contra Vinícius. Os gritos de "você é um macaco, você é um macaco" valeram até a intervenção do Congresso — houve uma declaração institucional assinada por todos os grupos — e do Presidente do Governo, Pedro Sánchez ,que disse em entrevista que esperava uma resposta contundente do Atlético, seu clube do coração.

A La Liga, organizadora do Campeonato Espanhol, denunciou 24 mensagens ofensivas na partida, três delas racistas. E a Comissão Anti-Violência espanhola, pediu aos clubes que ajudem a identificar aqueles que espalham mensagens racistas no futebol.

Vinícius respondeu em campo
O Real Madrid venceu o "derby de Madri" contra o rival Atlético, que jogava em casa, no Estádio Metropolitano. Aos 18 minutos, os merengues fizeram 1 a 0, com o brasileiro Rodrygo, companheiro de Vini no clube e na seleção brasileira. Na comemoração, os dois brasileiros sambaram diante dos torcedores, que vaiavam o jogador no início da partida.

Mas a reação das arquibancadas veio logo: arremessaram objetos em campo e o juiz entregou ao delegado da partida, comunicando aos oficiais do estádio que a atitude foi um ato discriminatório, de acordo com a transmissão do Star+.

A dança não foi transmitida no telão do estádio e, mesmo assim, a torcida do Atleti chegou a gritar "Vinicíus, morra", de acordo com o jornal espanhol Marca. Durante a partida, um anúncio foi feito nos alto-falantes advertindo os torcedores da casa a agirem com respeito, após os arremessos dos objetos.

Aos 36 minutos, a estrela de Vinícius Junior brilhou de novo. Em passe na medida de Modric, o atacante recebeu a bola e chutou com o bico da chuteira no canto esquerdo do gol, mas a bola explodiu na trave. No rebote, Valverde não desperdiçou e estufou as redes: 2 a 0 para o Real. Na comemoração, todos os jogadores do clube se abraçaram, em um belo momento de companheirismo.

Na reta final do jogo, Hermoso descontou e a partida terminou em 2 a 1 para o time de Vinícius.