SÃO PAULO

Tarcísio diz que nunca foi "bolsonarista raiz" e não cometerá o erro de "tensionar com Poderes"

Em entrevista à CNN, governador eleito de São Paulo afirma que não vai entrar em "guerra ideológica e cultural" e defendeu a necessidade de Bolsonaro "sair do casulo"

Tarcísio de Freitas - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta segunda-feira (5), em entrevista à CNN, que nunca foi "bolsonarista raiz", comunga principalmente das ideias econômicas do governo de Jair Bolsonaro (PL) e não vai entrar em "guerra ideológica e cultural".

— Eu nunca fui bolsonarista raiz. Comungo das ideias econômicas principalmente desse governo Bolsonaro. A valorização da livre iniciativa, os estímulos ao empreendedorismo, a busca do capital privado, a visão liberal. Sou cristão, contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra ideológica e cultural — afirmou o ex-ministro da Infraestrutura à CNN.

Tarcísio tem sido alvo de críticas por parte de bolsonaristas, que acusam o governador eleito pelo Republicanos de entregar o governo para Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, e antigos aliados do Ministério da Infraestrutura. O único aceno recente em direção à base foi o anúncio do deputado federal Capitão Derrite (PL) para a Secretaria da Segurança de São Paulo.
 

Como mostrou O GLOBO, o governador eleito já sinalizou apoio ao deputado estadual André do Prado (PL) para a sucessão da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) sem mesmo consultar seu próprio partido. Nomes como o deputado Gil Diniz (PL), um dos principais apoiadores de Bolsonaro na Casa, foram ignorados por Tarcísio, que deve optar pelo principal interlocutor de Valdemar Costa Neto na assembleia paulista.

Elogios a Barroso
À CNN, Tarcísio ainda fez críticas a Bolsonaro ao dizer que não cometerá o erro do governo federal de "tensionar com Poderes". Ele ainda elogiou o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo constante de críticas de bolsonaristas.

— Não vou fazer o que erramos no governo federal de tensionar com Poderes. Vamos conversar com ministros do STF. E Barroso é um ministro preparadíssimo, razoável. Sempre que eu, na condição de ministro (da Infraestrutura), precisei dele, ele ajudou o ministério. Sempre votou a favor das nossas demandas. Mas "os caras" me esculhambaram — afirmou o futuro chefe do Executivo paulista, para quem o país está "muito tenso e dividido" e, por isso, é necessário pacificá-lo.

Em outra crítica à sua base, Tarcísio citou o episódio no qual foi criticado por publicar uma mensagem de apoio em suas redes sociais à família de Luiz Antônio Fleury Filho, ex-governador de São Paulo que morreu neste mês.

— Depois, tinha um evento em que teve um jantar com ministros do STF, STJ, TSE, TCU. E, na divisão das mesas, me botaram ao lado do ministro Barroso. Queriam que eu me levantasse e saísse? Sou governador eleito de São Paulo. Vou conversar com ministros do STF — disse.

Bolsonaro e o 'casulo'
O ex-ministro defendeu a necessidade de Bolsonaro "sair do casulo", em referência às poucas aparições e declarações do presidente da República após derrota nas urnas. Tarcísio disse que Bolsonaro deve se posicionar como "liderança de centro-direita", atuar na sucessão da mesa e ser voz crítica, por exemplo, da maneira como a PEC da Transição foi apresentada.

Tarcísio ainda admitiu ser "difícil" o ministro da Economia, Paulo Guedes, aceitar fazer parte de sua gestão em São Paulo. Segundo ele, a tendência é que o ex-assessor de Guedes Samuel Kinoshita seja o secretário. O convite para Guedes foi relevado pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim.

Sobre a relação com Lula, Tarcísio disse que é "fundamental ter uma conversa com o governo federal".

— Obviamente, quando for chamado, depois da posse, vou lá sem problema nenhum . E quando entender que preciso recorrer a ele (Lula), também — afirmou ele, que ainda acrescentou: — Graças a Deus, São Paulo depende pouco, mas há muitas áreas em comum. Políticas de habitação são complementares, a saúde só funciona bem quando for complementar a atuação, tem sempre a questão da recuperação da saúde financeira das Santas Casas.

Sobre as câmeras nos uniformes policiais, medida que reduziu a letalidade policial e da qual foi crítico na campanha, Tarcísio disse que irá manter e ver que ajustes podem ser feitos.