BRASIL

PSOL racha sobre adesão ao governo Lula e indicações para ministérios

Partido está dividido entre ter posição de independência para fazer crítica à esquerda ou aderir e participar da futura gestão

Um dos mais destacados defensores da proposta de construir uma aliança política de oposição a Jair Bolsonaro com outros partidos é Guilherme Boulos (SP) - Félix Zucco / Agencia RBS

O apoio do PT à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados e a falta de alinhamento em temas caros para o PSOL como o fim do orçamento secreto geraram um racha dentro da legenda.

No próximo dia 17, o partido chega dividido na reunião do diretório nacional que decidirá se ele irá compor o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou se optará pela independência e adotar uma postura se crítica à esquerda à nova gestão.

Atualmente, o partido tem deputados dispostos a ficar independentes do governo e lideranças já cotadas para figurar como ministros. Em meio ao embate, o presidente da sigla, Juliano Medeiros, que integra a equipe de transição de Lula, tenta mediar o impasse. No Twitter, ele afirmou que a sigla ainda irá debater o tema até a reunião, mas que “está certo de que o PSOL não irá virar as costas para o governo que ajudou a eleger”.

De um lado, a deputada federal e atual líder da bancada, Sâmia Bomfim (SP), lidera um grupo de parlamentares descontentes com os últimos posicionamento do PT e defendem a independência partidária. Do outro, nomes como Guilherme Boulos (SP) e Sonia Guajajara (SP), ambos cotados para ministérios do petista, prezam pelo apoio ao presidente eleito.
 

Sâmia afirma ainda ser contra correligionários ocuparem cargos no governo como pastas ministeriais. Ela avalia que compor o governo traria dificuldade para os parlamentares do partido que eventualmente desejassem se opor no Congresso a algumas medidas da futura gestão petista.

— Uma estrutura de governo acaba definindo posições e pode travar a liberdade de propor emendas. Por isso, minha ideia é manter a independência. Não defendo uma oposição ao presidente eleito, mas sim aos valores da extrema-direita que seguirá forte mesmo sem Bolsonaro — afirma Sâmia que conta na bancada com o apoio de Fernanda Melchionna (RS), Glauber Braga (RJ) e Erika Hilton (SP).

O posicionamento vai de encontro ao deputado eleito Guilherme Boulos, o quadro mais próximo de Lula no partido. Ele integra o grupo de transição e é um dos cotados para assumir o Ministério das Cidades. Boulos afirma não ter dúvidas de que o PSOL vai ajudar o petista:

— Defendo que o partido participe do novo governo, sem perder sua autonomia, para ajudar a superar o pesadelo bolsonarista, além de contribuir para puxar a agenda do país para a esquerda. Quem vai fazer oposição ao Lula é o bolsonarismo, e não estaremos ao lado deles — afirmou Boulos.

Na disputa, as duas alas enfileiram argumentos. Filiados demonstram preocupação com que a atitude de “virar as costas” para o PT agora prejudique o apoio de Lula a uma futura candidatura de Boulos à prefeitura de São Paulo em 2024.

Na campanha estadual, houve um acordo para que Boulos retirasse a candidatura a governador para apoiar Fernando Haddad e em troca receber o apoio petista em 2024. Já o grupo que defende a independência alega que, caso Boulos decida concorrer, o acordo com o PT já está selado e não seria prejudicado.

Além de Boulos, Sonia Guajajara é outra parlamentar do PSOL cotada para assumir um ministério, o dos Povos Originários. Para ela, o espaço representa uma importante conquista para o protagonismo da minoria:

— Os povos originários nunca foram prioridade de nenhum governo, por isso nossa missão é estar em todos os lugares onde nossas demandas precisam ser ouvidas.

Terceira via
Apesar de o partido enfrentar um racha, nem todos os parlamentares estão certos de qual caminho seguir. Eleito para voltar à Câmara, Chico Alencar (RJ) diz ainda estar dividido entre os argumentos.

— Vamos defender a posse do Lula, vamos apoiar as medidas do governo sem esperar cargo algum. Caso o presidente acredite que um de nós deva assumir um ministério, cabe avaliar.

Na divisão partidária, surge ainda uma terceira via. Parlamentares eleitos como Talíria Petrone (RJ) e Pastor Henrique Vieira (RJ) acreditam que o partido não deve ter cargos na Esplanada, mas deve compor a base aliada de Lula no Congresso.

— É uma questão estratégica: o PSOL pode contribuir mais no Legislativo. Temos uma bancada grande para ajudar Lula e impedir retrocessos — defende Talíria.