Guerra na Ucrânia

A perigosa travessia do rio Dnieper com o frio e as bombas

Rio é atualmente a linha de frente da batalha

A perigosa travessia do rio Dnieper com o frio e as bombas - Anatolii Stepanov / AFP

Com o motor de seu barco frágil a toda velocidade, Oleksii Kovbasiuk atravessa o rio Dnieper a partir da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia.

A viagem é perigosa: ele vai buscar os habitantes que querem deixar as suas "dachas" (casas de campo) na margem esquerda do rio, para onde o Exército russo se deslocou há um mês, depois de ceder a outra margem e a cidade de Kherson às forças ucranianas.

O longo rio é atualmente a linha de frente da batalha.

As tropas russas não são visíveis da margem de Kherson, mas os militares ucranianos alertam que pode haver atiradores escondidos.

Os soldados de Kiev realizam rondas de reconhecimento com drones acima da área controlada pelo inimigo.

Na costa leste ocupada, rio abaixo de Kherson, a Ilha Potemkin abriga centenas de casas construídas nas margens do riacho Prohnii, que corta o sul da ilha. A maioria delas agora está vazia.

É para lá que vai Kovbasiuk, de 47 anos, com o objetivo de levar alimentos aos que desejam ficar e retirar os moradores que querem voltar para Kherson, agora libertada do ocupante russo.

Disparos
Navegar pelo rio não está isento de riscos.

"Já levei dois tiros no meu barco (...). Logo depois (os soldados russos) fugiram para a outra margem" na primeira quinzena de novembro, lembra Kovbasiuk, que trabalha, em tempos normais, na construção civil.

A área industrial e portuária ao sul de Kherson é regularmente alvo de disparos da artilharia russa.

Na semana passada, um projétil deixou uma cratera perto de onde seu barco está amarrado com cerca de trinta outras embarcações.

Durante a travessia do Dnieper, o ar é gelado e a água que espirra nas roupas congela instantaneamente.

Ao chegar à ilha, após quarenta minutos de navegação, Oleksii Kovbasiuk reconhece Oleksander Sokolik, um aposentado que também chegou de barco para levar três pessoas.

"Oleksii, estou tão feliz em vê-lo. Meu irmão!", grita o homem de 64 anos, envolvendo seu amigo em um abraço apertado.

Bombardeios
"Na cidade (Kherson), a situação parece melhor agora. Lá tem eletricidade. Aqui não tem luz já faz uma semana. Todas as noites ficamos no meio dos bombardeios. Da esquerda para a direita, da direita para a esquerda. Eles voam bem acima de nós", explica Sokolik, balançando as mãos acima da cabeça.

As autoridades planejaram realizar evacuações em grupo com balsas de 3 a 5 de dezembro, mas no final elas não aconteceram.

"Não podemos organizar transportes regulares pelo rio, porque os ocupantes (russos) não vão permitir", disse à AFP o governador da região de Kherson, Yaroslav Yanushevich.

"Infelizmente, não podemos garantir nenhuma segurança para essas pessoas" que atravessam o rio com barcos por conta própria.

Na terça-feira, enquanto viajava de volta para a margem direita com três moradores retirados da Ilha Potemkin, um projétil caiu bem em frente ao barco pilotado por Sokolik.

"Não sei de onde veio", admite, ainda abalado pela lembranç