Cinema

Documentário mergulha na intimidade de Clarice Lispector, que faria 102 anos neste sábado (10)

"Clarice Lispector: A Descoberta do Mundo", de Taciana Oliveira, está em cartaz em salas de cinema do Brasil

Filme "Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo" - Divulgação

Se ainda estivesse viva, Clarice Lispector (1920-1977) completaria 102 anos neste sábado. A data coincide com a presença em salas de cinema do País de um novo documentário sobre ela. Dirigido pela pernambucana Taciana Oliveira, o filme promete um mergulho profundo na intimidade de uma das maiores escritoras da língua portuguesa.

“Clarice Lispector: A Descoberta do Mundo” costura entrevistas da própria autora e depoimentos de amigos e familiares, com a ajuda de documentos históricos, imagens de arquivo e adaptações de trechos da obra dela dramatizados por atores como Andrea Veruska, Jorge de Paula, Stella Maris Saldanha e Quiercles Santana. 

Longo caminho até Clarice
Até chegar às telas, o documentário enfrentou um longo caminho. Segundo a diretora, a semente de tudo foi plantada nos anos 1990, quando leu Clarice pela primeira vez. “Eu devia ter por volta dos 19 anos e, para mim, foi um impacto muito forte. Não conhecia nenhuma autora, na época, com a mesma potência da escrita dela”, diz Taciana, que teve seu primeiro contato com a escritora através do romance “Água Viva”.
 



De leitora voraz da obra de Clarice, Taciana passou a se interessar cada vez mais pela figura por trás do nome estampadas nas capas dos livros. “Juntou o amor pela escrita com a curiosidade de saber quem era aquela mulher. Foi quando também passei a ressignificar a passagem dela pelo Recife, que eu achava que precisava ser mais explorada”, afirma.  

Ucrânia, Maceió, Recife
Nascida na Ucrânia, Clarice viveu boa parte da infância na Capital pernambucana, entre 1925 e 1934, após um curto período em que sua família morou em Maceió. A ligação com o Recife está em destaque na primeira parte do documentário, que traz cenários da cidade pelos quais a escritora transitou. 

Para a construção do roteiro, Taciana contou com a parceria de Teresa Monteiro, uma das mais referenciadas biógrafas de Clarice. Foi a pesquisadora que descobriu uma entrevista concedida pela escritora ao jornalista Araken Távora para o programa “Os mágicos”, da TVE, em 1976. O material, praticamente inédito, traz revelações da autora sobre sua vida. 

Estão no filme depoimentos de familiares, como Paulo Gurgel Valente e Marcia Algranti, filho e sobrinha de Clarice Lispector, respectivamente. Também foram entrevistados amigos e admiradores da produção literária da autora, incluindo outros grandes escritores, como Ferreira Gullar, Nélida Piñon e Lêdo Ivo. 

Obra levou anos
Problemas com atrasos em editais de financiamento e um distrato com a antiga co-produtora do projeto atrasaram a entrega do filme em alguns anos. Desde as primeiras gravações de entrevistas, ainda em 2007, até a estreia do filme nas salas de cinema, o projeto precisou sofrer diversas modificações. 

A ideia era que uma atriz interpretasse Clarice. Com a desistência de Cássia Kiss, que havia aceitado o papel inicialmente, os planos mudaram. A autora passou a conversar diretamente com o público, já que sua voz permeia todo o documentário. 

“Na minha cabeça, eu precisava fazer um filme em que a Clarice falasse e que quebrasse aquela imagem de mulher inacessível. É óbvio que a Clarice tinha seus problemas, como qualquer outra pessoa, mas era também uma figura que recebia leitores em casa e adorava conversar. Meu maior desafio era acreditar que eu poderia contar essa história de uma forma leve”, aponta.