Peru

Presidente do Peru anuncia gabinete para contornar crise política

Enquanto nova presidente negociava formação de novo governo, manifestações nas ruas exigiam novas eleições

Dina Boluarte, vice-presidente até a destituição de Castillo, designou o advogado e ex-procurador especialista em combate à corrupção Pedro Angulo como chefe de seu gabinete - Cris Bouroncle / AFP

A nova presidente do Peru, Dina Boluarte, apresentou neste sábado (10) seu governo, de perfil independente, enquanto manifestações exigindo novas eleições continuavam nas ruas, após a destituição do presidente Pedro Castillo.

Dina Boluarte, vice-presidente até a destituição de Castillo, designou o advogado e ex-procurador especialista em combate à corrupção Pedro Angulo como chefe de seu gabinete, formado por 19 ministros.

A embaixadora Ana Cecilia Gervasi será a nova ministra das Relações Exteriores. Já para a pasta de Economia e Finanças, Dina nomeou Alex Contreras. Na Defesa, foi nomeado Luis Otárola, que ocupou a pasta no mandato do presidente Ollanta Humala (2011-2016).

Entre os 19 ministros, oito são mulheres, mas ainda falta designar os responsáveis pelas pastas de Trabalho e Transportes e Comunicações. A incorporação de ministros com perfil mais técnico do que político, conforme demanda do Congresso, pode abrir espaço para a trégua solicitada por Dina.

"A presidente deve tomar decisões rápidas, como formar o seu gabinete, e decisões imediatas para sair de certas dificuldades e gerar confiança e tranquilidade", havia pedido mais cedo José Williams, chefe do Congresso peruano, dominado pela direita.

"Peço calma à população (...) É um momento difícil, mas tem que ser superado da melhor forma", declarou a presidente à rádio RPP, em suas primeiras declarações desde que o Congresso destituiu Castillo.

Dina Boluarte foi empossada como a primeira mulher presidente do Peru poucas horas depois de Castillo, que enfrentava uma série de investigações por corrupção, ser deposto em uma votação do Congresso.

Castillo tentou evitar essa votação, a terceira contra ele desde que assumiu o cargo há 18 meses, anunciando a dissolução do Parlamento e anunciando que governaria por decreto. Mas suas ordens foram ignoradas pelo Congresso e pelas Forças Armadas.

"A Constituição foi violada", disse Williams neste sábado, ao justificar a destituição de Castillo, detido por sua própria escolta enquanto se dirigia à embaixada mexicana para solicitar asilo político e colocado em prisão preventiva por sete dias na última quinta-feira. O Ministério Público o acusa de rebelião e, se for considerado culpado, pode pegar entre 10 e 20 anos de prisão.

Três dias de negociações
Dina Boluarte teve três dias de negociações com líderes das bancadas de partidos de direita no Congresso, diante da rejeição da esquerda a se unir às negociações. Sua decisão de governar até o fim do mandato de Castillo, em 28 de julho de 2026, está na origem de seus novos problemas.

A demanda por novas eleições está ligada a uma rejeição esmagadora do Congresso: de acordo com pesquisas realizadas em novembro, 86% dos peruanos desaprovam o Parlamento.

A lentidão de Dina em tomar decisões gerou passeatas e bloqueios de estradas exigindo novas eleições e a libertação de Castillo. Ela não descartou convocar eleições antecipadas em busca de uma solução pacífica para a crise política, e pediu calma à população.

Os bloqueios de estradas continuavam pelo terceiro dia no sul do país, onde Castillo, um ex-professor de escola rural, goza de maior apoio. O número de manifestantes não aumentou.

Em Lima, milhares de manifestantes que tentaram chegar à sede do Congresso nesta quinta e sexta-feira foram contidos pelas forças de ordem. A polícia usou gás lacrimogêneo para acabar com a mobilização, que deixou alguns detidos.

Os últimos acontecimentos levaram a polícia a anunciar a suspensão das férias e licenças de seus agentes até nova ordem. Na base da polícia onde o ex-presidente está detido por ordem judicial, dezenas de apoiadores de Castillo faziam vigília exigindo a sua libertação.