CIÊNCIA

EUA anunciam "grande avanço científico" sobre fusão nuclear, a mesma energia que alimenta o Sol

Segundo cientistas, o processo produz menos lixo tóxico, gera menos emissões, traz menos riscos e pode usar materiais que são mais facilmente encontrados na natureza

Interior do reator de fusão nuclear do MIT, que também faz experimentos com fusão nuclear - MIT/Bob Mumgaard

O Departamento de Energia dos Estados Unidos informou neste domingo que anunciará um "grande avanço científico" ainda nesta semana, depois que o Financial Times noticiou que um laboratório federal alcançou um marco na pesquisa de fusão nuclear.

Segundo o jornal britânico, os cientistas do Lawrence Livermore National Laboratory (LLNL) da Califórnia obtiveram um "ganho líquido de energia" por meio de um reator de fusão nuclear experimental.

Seria a primeira vez que se obtém com sucesso mais energia em uma reação de fusão – o mesmo tipo de energia que alimenta o Sol e as demais estrelas – do que foi consumido no processo de produção, marcando um passo importante em direção à energia de carbono zero.

O Departamento de Energia e porta-vozes do LLNL disseram à AFP que não poderiam confirmar as informações do Financial Times, mas Jennifer Granholm, secretária de Energia dos EUA, anunciou que na terça-feira "anunciaria um importante avanço científico". Uma porta-voz do LLNL acrescentou que as "análises ainda estão em andamento" e que espera "compartilhar mais na terça, com o processo já concluído".
 

Avanços como este renovam a expectativa de que ela possa oferecer energia confiável na segunda metade do século.

- Se esse avanço na energia de fusão for verdadeiro, pode ser uma virada de jogo para o mundo - escreveu Ted Lieu, congressista do estado da Califórnia no Twitter.

Em janeiro, o laboratório JET (Joint European Torus), o maior reator do mundo, com sede no Reino Unido, quebrou seu próprio recorde mundial de produção de energia. Foram gerados 59 megajoules, o equivalente a 11 megawatts, por cinco segundos, o dobro do que havia conseguido 25 anos atrás, 'esmagando' dois átomos de hidrogênio.

Diferente da fissão nuclear, princípio da bomba atômica de Hiroshima, pelo qual se quebra o núcleo de um átomo, a fusão une os núcleos de dois átomos diferentes e produz muito mais energia do que a fissão deles, mas é preciso aquecer o átomo a altíssimas temperaturas. No caso do experimento do JET, os gases utilizados foram aquecidos a 150 milhões ºC, cerca de dez vezes mais do que a temperatura no centro do Sol.

Segundo estimativas, usinas de fusão nuclear em pleno funcionamento poderiam produzir até quatro milhões de vezes mais energia do que o carvão, o petróleo e o gás. Os cientistas apontam ainda que o processo produz menos lixo tóxico, gera menos emissões, traz menos riscos e pode usar materiais que são mais facilmente encontrados na natureza, como os dois isótopos de hidrogênio usados no JET, o deutério e o trítio. Isso no momento em que o mundo discute uma transição para formas mais limpas de energia para tentar limitar os efeitos das mudanças climáticas.