Manifestantes bloqueiam aeroportos e estradas do Peru exigindo renúncia da presidente
Apoiadores do ex-presidente Pedro Castillo mantêm protestos mesmo após proposta da atual presidente de antecipar as eleições para abril de 2024
Apoiadores do ex-presidente Pedro Castillo tomaram brevemente dois aeroportos do país em menos de 36 horas e mantiveram os bloqueios em estradas, exigindo a renúncia da presidente Dina Boluarte, apesar da proposta da mesma de antecipar as eleições para abril de 2024.
Cerca de 1,5 mil manifestantes bloquearam hoje a pista de pouso do aeroporto de Arequipa, segunda maior cidade do Peru, com pedras, pedaços de pau e pneus em chamas. A polícia retomou o controle do local após três horas.
A Defensoria do Povo informou que a batalha campal deixou dois civis feridos. A iluminação da pista de pouso foi destruída. O aeroporto permanecia fechado, com dezenas de passageiros bloqueados.
Também em Arequipa, uma das maiores fábricas de laticínios do país foi ocupada por manifestantes, segundo imagens exibidas pela TV.
Castillo está detido por ordem de um juiz, após uma tentativa de golpe na última quarta-feira e posterior destituição por parte do Congresso. Ele foi substituído por Dina Boluarte, sua vice.
O anúncio da presidente Dina de que irá apresentar ao Congresso um projeto de lei para antecipar as eleições de 2026 para 2024 não acalmou os manifestantes, que exigem a libertação de Castillo, o fechamento do parlamento e novas eleições.
As estradas de acesso a várias cidades do país, como Arequipa, Trujillo e Cuzco, permaneciam bloqueadas.
Em uma tentativa de conter a onda de manifestações, o governo afastou hoje os 26 prefeitos regionais do país, nomeados pelo governo Castillo, sob o argumento de que eles "incitam protestos".
O escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos declarou-se "profundamente preocupado com a possibilidade de escalada da violência," que deixou dois adolescentes mortos e dezenas de feridos em todo o país. "Dado o número de protestos, incluindo greves, planejados para esta semana, pedimos a todos os envolvidos que exerçam a moderação."
Após informar que tentará "alcançar um acordo com o Congresso" para antecipar as eleições para abril de 2024, a presidente Dina decretou estado de emergência nas áreas onde são registrados protestos violentos.
Aumento dos protestos
As manifestações crescem desde ontem em várias cidades do norte e sul. Na cidade andina de Andahuaylas, o Ministério do Interior informou que duas pessoas morreram e 20 ficaram feridas, entre elas um policial, após confrontos ocorridos ontem durante uma tentativa dos manifestantes de invadir o aeroporto da cidade.
Segundo o escritório da ONU para os direitos humanos, que pediu às autoridades uma investigação, os mortos tinham 15 e 18 anos.
Milhares de pessoas se mobilizaram neste fim de semana em Cajamarca, Arequipa, Tacna, Andahuaylas, Huancayo, Cuzco e Puno, segundo a imprensa.
Em Lima, a polícia dispersou com gás lacrimogêneo, na tarde de domingo, uma manifestação nas proximidades do Congresso em apoio a Castillo. A capital do país sempre rejeitou Castillo, um professor rural e líder sindical que não tinha contato com as elites peruanas, enquanto as regiões andinas expressam apoio ao esquerdista desde as eleições de 2021.
Paralisação por tempo indeterminado
Sindicatos rurais e organizações camponesas e indígenas anunciaram "uma paralisação por tempo indeterminado" a partir desta terça-feira em apoio a Castillo, que vem de uma família de camponeses.
Eles exigem a suspensão do Congresso, a realização de eleições antecipadas e uma nova Constituição, assim como a libertação imediata de Castillo, segundo um comunicado da Frente Agrária e Rural do Peru, que reúne cerca uma dúzia de organizações. A Frente Rural afirma que Castillo "não praticou nenhum golpe de Estado".
Controlado pela direita, o Congresso aprovou uma norma que permite acelerar um julgamento penal contra Castillo, detido por sua própria equipe de segurança na semana passada, quando se dirigia à embaixada do México para pedir asilo político. O Ministério Público o acusa de rebelião e conspiração. Ele já era investigado por corrupção.
Eleições antecipadas
Nesta segunda, as atenções se concentravam na reação do Congresso à proposta de eleições gerais antecipadas, pois também implica a redução do mandato em dois anos.
Para reduzir mandatos populares, como o presidencial e o legislativo, é preciso fazer isso em duas legislaturas consecutivas. Este processo pode durar até um ano, conforme a lei peruana. E, para convocar eleições antecipadas, é necessária uma reforma constitucional.
“Tem que haver uma negociação política para que o Congresso faça as reformas políticas básicas necessárias para novas eleições”, disse à AFP a analista política Giovanna Peñaflor.
Dina Boluarte formou um governo com perfil independente e técnico, que tem o ex-procurador Pedro Angulo como primeiro-ministro.
A demanda por novas eleições está associada a uma rejeição esmagadora do Congresso. De acordo com as pesquisas de novembro, 86% dos peruanos desaprovam o Parlamento.