BRASIL

Após leva de indicações masculinas, Lula planeja anunciar mulheres para assumir ministérios

Primeiros anúncios de Lula restritos à indicação de homens frustraram expectativa por valorização feminina

Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, está cotada para a Saúde, enquanto Margareth Menezes teria aceitado o convite para a pasta da Cultura - Reprodução

O anúncio dos cinco primeiros nomes para o Ministério sem contemplar nenhuma mulher aumentou a pressão sobre o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a respeito da representação feminina no futuro governo.

Das 35 pastas previstas, as mulheres devem ocupar pelo menos oito. Entre os nomes dados como certos está o da cantora baiana Margareth Menezes, que teria aceitado o convite para assumir a Cultura. Na Saúde e na Educação estão cotadas a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e a governadora do Ceará Izolda Cela (sem partido), respectivamente.

Outro nome forte para a Esplanada, a deputada eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP) é uma das que lamenta a falta de mulheres entre os primeiros nomes anunciados por Lula. O petista escolheu Fernando Haddad para ocupar a Fazenda; Rui Costa para a Casa Civil; José Múcio na Defesa; Flávio Dino à frente da Justiça e Mauro Vieira no Ministério das Relações Exteriores.
 

— Em pleno século XXI, onde as mulheres estão assumindo o protagonismo em diversas frentes de luta, era muito justo que já tivessem mulheres neste primeiro anúncio. Mas acho que ele vai anunciar mulheres logo em seguida. O presidente Lula não vai cair neste equívoco de desconsiderar esse momento que é de crescimento das mulheres em todos os espaços — disse Guajajara, cotada para o Ministério ou Secretaria dos Povos Originários, estrutura que ainda será criada.

A falta de mulheres entre os primeiros nomes apresentados por Lula foi explorada por integrantes do atual governo. “Não iam mudar o governo misógino?”, postou o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

O próprio presidente eleito se antecipou e levantou o assunto antes de anunciar seus primeiros ministros, na sexta-feira:

— Vocês devem estar pensando: “presidente Lula, não tem mulheres, não tem negros”. Vai chegar uma hora que vocês vão ver mais mulheres aqui do que homens e vocês vão ver a participação de companheiros afrodescendentes aqui em pé, como estão hoje os companheiros.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que apoiou Lula no segundo turno depois de ficar em terceiro lugar na disputa pelo Palácio do Planalto, chegou a pedir para que ele se comprometesse com a paridade de gênero na composição do Ministério, o que não ocorreu. A senadora é mais um nome cotado para integrar o primeiro escalão, na pasta de Desenvolvimento Social. Ela concorre com outra mulher, Tereza Campello, que ocupou esse posto no governo Dilma Rousseff.

Área econômica
Na área econômica, a expectativa é que mulheres ocupem a presidência de bancos públicos como a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. E, como adiantou a colunista Malu Gaspar, para o Ministério do Planejamento são cotadas a economista e ex-secretária de Orçamento Federal no governo Dilma, Esther Dweck, e a secretária de Fazenda de Goiás, Cris Schmidtt.

— Um time que tem um pouco mais de diversidade, seja na formação, no gênero ou em qualquer outra característica, é bom para trazer outras visões. Tenho expectativa de que o governo Lula vai prezar por essa diversidade e nomear mulheres para seu primeiro escalão — diz Cris Schmidtt.

Há uma disputa feminina no Meio Ambiente, onde a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) e a ex-ministra Izabella Teixeira são os nomes fortes.

Levantamento do GLOBO mostra que a presença feminina no primeiro escalão é historicamente baixíssima. Varia de menos de 2% — no governo de José Sarney (MDB), no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e na gestão de Michel Temer (MDB) — a 15,9%, recorde registrado no primeiro mandato de Dilma. O presidente Jair Bolsonaro indicou quatro ministras entre as suas mais de 50 nomeações. Dos 556 nomes escolhidos para ministérios desde a redemocratização, 34 foram mulheres, o equivalente a 6% do total.

Nos dois governos anteriores de Lula, a representatividade de mulheres ficou em 7,8%. Na primeira gestão, eram cinco em um universo de 64. No segundo mandato, foram três em 38 pastas.