BC vê "muita incerteza sobre cenário fiscal" e diz que momento requer "serenidade"
Ata do Copom cita "elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal" como um dos riscos que pode pressionar a inflação
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) disse em ata divulgada nesta terça-feira que ainda há "muita incerteza sobre o cenário fiscal" e suas consequências sobre inflação. Por isso, o momento requer "serenidade na avaliação desses riscos”.
A ata se refere às discussões que embasaram a decisão do comitê sobre a manutenção da Selic, a taxa básica de juros, em 13,75%, na semana passada.
"A incerteza sobre a dinâmica fiscal futura e suas consequências sobre a dinâmica de inflação foram discutidas, e julgou-se que a conjuntura incerta requer serenidade na avaliação desses riscos”, diz o documento.
O comitê listou três riscos para um eventual viés de alta da inflação, que devem ser monitorados pela autoridade monetária. O primeiro deles é uma maior persistência das pressões inflacionárias globais.
Segundo o Copom, há uma normalização nas cadeias de suprimento e uma acomodação nos preços das principais commodities, o que deve levar a uma moderação nas pressões
Por outro lado, o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho em algumas economias, "aliado a uma inflação corrente elevada e com alto grau de difusão, sugere que pressões inflacionárias no setor de serviços devem demorar a se dissipar".
Citou também a "elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos".
O governo eleito já disse que o teto de gastos - atual âncora fiscal - deve ser revisto e um novvo arcabouço deve ser implementado no ano que vem.
Por fim, o Copom mencionou "um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho".
Quanto a este último ponto, o Comitê observou uma redução no grau de ociosidade da economia no terceiro trimestre. Mas ressaltou que reforça sua expectativa de "desaceleração do ritmo da atividade econômica, o que deve se acentuar nos próximos trimestres".
O Copom citou dados divulgados entre julho e setembro, como queda dos indicadores de confiança e a desaceleração nas concessões de crédito, para embasar suas expectativas de um crescimento mais lento do PIB daqui para frente.
Para Stephan F. Kautz, economista-chefe da EQI Asset, a ata é um alerta para o próximo governo:
"Hoje, a gente já tem um hiato mais reduzido, uma dívida mais alta. Então, uma expansão fiscal mais agressiva poderia levar a uma dúvida sobre a sustentabilidade da dívida e/ou um estímulo para a atividade, que poderia fazer com que a inflação voltasse a subir", diz o economista.
Ele continua:
"É um alerta para o novo governo que está assumindo de como funciona a mandeira do Banco Central de pensar. Ou seja, (se houver) um estímulo que seja grande o suficiente para estimular a demanda, que feche o hiato rapidamente e eleve a inflação, não há outra opção para o Banco Central, que não reagir e subir a taxa de juros para conter essa deterioração."