Bolsa aprofunda queda e dólar ganha força, após o anúncio de Mercadante no BNDES
Nome do ex-ministro não é bem avaliado pelo mercado, que teme a maior presença do banco no mercado de crédito
O anúncio do ex-ministro Aloizio Mercadante para o comando do BNDES, feito na tarde desta terça-feira (13) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), piorou o desempenho do mercado local.
O Ibovespa, que alternava altas e baixas antes da fala de Lula, caía 1,49%, aos 103.777 pontos, por volta de 16h30. O dólar subiu 0,05%, negociado a R$ 5,3146 após atingir a máxima de R$ 5,3337.
O câmbio não conseguiu acompanhar o movimento visto no exterior, onde a moeda americana teve fortes baixas contra divisas fortes e ante pares do real após a divulgação de dados de inflação nos EUA abaixo do esperado.
Por volta de 16h20, a taxa de juro do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 saltava 25 pontos-base, para 13,66%; e a do DI para janeiro de 2026 escalava 25,5 pontos-base, para 13,45%.
Já na véspera, os ativos locais - Bolsa, real e juros - sofreram forte pressão com os rumores de que Mercadante poderia assumir o banco público. O Ibovespa, por exemplo, caiu 2,02%.
Receios com a política de crédito
O nome de Mercadante não é bem avaliado pelos investidores. O receio é de que o ex-ministro, que comandou a pasta da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff (PT), leve o banco a retomar a política de crédito subsidiado e incentivo aos investimentos em grandes empresas de determinados setores.
Desde o governo de Michel Temer, o BNDES vem reduzindo sua participação no mercado de crédito e se desfez de participações em empresas importantes. Na visão do mercado, isso permitiu maior abertura para o mercado de capitais e maior eficiência na concessão de crédito.
Também há o receio de alterações na taxa de longo prazo (TLP), em vigor desde 2018 e que substituiu a taxa de juros de longo prazo (TJLP).
Com a TLP, o BNDES passou a cobrar juros aos moldes privados, sem exceções, considerando o nível de risco mais a inflação corrente. Dessa maneira, na visão do mercado, foi favorecida a competitividade e o potencial de crescimento da economia do país.
O economista André Perfeito avalia que é necessário ele vir logo a público explicar qual será a política de crédito do banco.
— Isso tem impacto no mercado de capitais, especialmente no crédito que o mercado aloca. Então, seria importante que Mercadante viesse a público dizer qual será a orientação do BNDES em sua gestão — avalia o economista, lembrando que juros subsidiados provocam distorções no mercado de crédito.
No governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o BNDES foi utilizado para direcionar crédito com juros abaixo do mercado, endividando o governo e trazendo mais preocupações fiscais.
Outra dúvida que a indicação de Mercadante traz é sobre uma possível mudança da Lei das Estatais. Aprovado em 2016 no governo de Michel Temer, o texto determina que é preciso ter experiência profissional mínima para assumir cargos nos conselhos de administração e diretoria das companhias públicas.
Segundo a lei, também é exigida qualificação acadêmica compatível com o cargo e “notório” conhecimento a respeito do setor. O texto veta a indicação para a presidência de quem atuou em estruturas decisórias de partidos políticos nos últimos 36 meses.
— Nesse caso, Mercadante poderia assumir? Esta é uma dúvida que o mercado tem. Na prática, a indicação dele já sinaliza uma má vontade com essa lei. A lei das Estatais foi criada para destravar o valor dessas empresas, sem que a administração seja enviesada politicamente — afirmou Perfeito.
Galípolo será secretário-executivo
Ainda nesta terça-feira, já havia sido confirmado o nome do economista Gabriel Galípolo como secretário-executivo do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O economista de 39 acumula experiências no setor público e privado, sendo reconhecido por ser uma das figuras chaves para intermediar a relação entre a campanha do então candidato Lula com atores do mercado financeiro, nas eleições deste ano.
A nomeção de Galípolo não tinha provocado reação tão negativa entre os agentes, como ocorreu com Mercadante. Segundo um gestor, os investidores ainda esperavam um nome mais alinhado ao mercado.
Para o sócio da Matriz Capital, Elcio Cardozo, o nome de Galípolo não chega a atender aos anseios do mercado.
— Sem entrar no mérito se as visões de Galípolo são certas ou erradas, ele entende que, com a piora da economia, os gastos públicos devem aumentar, em vez de reduzir, para que o Estado seja um indutor da economia. Parte do mercado financeiro discorda dele neste aspecto.