Economia

Convidado por Lula para assumir Ministério da Indústria, Josué Gomes enfrenta dilema na Fiesp

Empresário ainda não aceitou o convite. Na próxima semana, parte dos afiliados pretende destituí-lo do cargo em reunião

Josué Gomes, presidente da Fiesp - reprodução/Fiesp

Convidado nesta quarta-feira para assumir o ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, vive um dilema e tende a recusar o convite, segundo pessoas próximas.

Por um lado, Gomes gostou de ter recebido o convite e seus aliados na Fiesp veem sua eventual ida ao governo como uma saída triunfal e vitoriosa dele da federação no momento em que sindicatos patronais aliados de Paulo Skaf querem derrubá-lo.

Por outro lado, Gomes ainda é quem toca pessoalmente o grupo empresarial de sua família e não tem, hoje, sucessor para indicar no curto prazo. O empresário é filho de José Alencar, que foi vice-presidente da República nos dois mandatos de Lula.

Há dias, Gomes e seu entorno vinham especulando sobre a possibilidade de um convite de Lula para que o empresário assumisse um cargo no novo governo. Entre as possibilidades, estavam ainda o ministério do Planejamento e até a presidência da Petrobras, uma vez que Gomes chegou a ser membro do conselho da estatal.
 

Integrantes da atual diretoria da Fiesp próximos a Gomes viam a nomeação como uma vitória do empresário da presidência da entidade na queda de braço que ele trava com dirigentes de sindicatos patronais que buscam derrubá-lo do cargo que assumiu há menos de um ano.

Esse grupo é formado majoritariamente por entidades de menor porte econômico mas com poder de voto e influência na Fiesp e é composto quase que exclusivamente por aliados do antecessor de Gomes na Fiesp, Paulo Skaf, que comandou a entidade por 17 anos.

Skaf escolheu Gomes como sucessor e trabalhou para que a chapa do escolhido fosse eleita. De fato, Gomes e seu vice, Rafael Cervone, foram candidatos em uma chapa única na Fiesp e só enfrentaram oposição no voto na disputa pelo Ciesp, em que Cervone se elegeu presidente e Gomes, vice. A relação do novo presidente da Fiesp com o antecessor, no entanto, azedou nos meses seguintes. Segundo dirigentes de entidades patronais, foi decisivo para o afastamento de ambos a postura de Gomes como articulador do manifesto empresarial pró-democracia.

O texto, elaborado em julho e lido publicamente no dia 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP, foi visto pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) como uma afronta. Na Fiesp, a atitude de Josué contou com a oposição de Skaf, que é bolsonarista, e de parte significativa dos afiliados da Fiesp.

O movimento a favor da derrubada de Gomes só ganhou tração após articulações feitas por Skaf com líderes de entidades insatisfeitos com o que consideram falta de abertura e diálogo por parte do novo presidente da Fiesp. Nos bastidores, é comum a queixa de que Josué não dá aos sindicatos pequenos o mesmo protagonismo dispensado a eles na gestão de Skaf.

No último fim de semana, os sindicatos críticos a Gomes que pedem uma assembleia para discutir a substituição do empresário na presidência da federação publicaram um edital convocando o encontro para o próximo dia 21 de dezembro.

Gomes tem do seu lado as entidades setoriais mais representativas e já se manifestaram em seu favor nomes como o ex-presidente da entidade Horacio Lafer Piva, Pedro Passos, fundador da Natura, e Pedro Wongtschowski, presidente do conselho de administração do grupo Ultra. Além disso, contratou o jurista e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior para defendê-lo na briga jurídica que terá contra o grupo adversário.

Uma eventual ida de Gomes para a pasta responsável pelo fomento à indústria o colocaria em uma posição-chave e mudaria o jogo na Fiesp, disse ao GLOBO um aliado do atual presidente. Isso porque o empresariado costuma ter receio de bater de frente com o governo. Membro do Conselho Superior de Relações do Trabalho da Fiesp e aliado de Gomes, o advogado Almir Pazzianotto está entre os que defendem que o presidente deveria aceitar o convite.

Hoje, porém, é tido como mais factível o cenário de que Gomes recuse o convite de Lula e indique algum nome para o presidente eleito. A maior motivação seria seu receio em deixar a administração de seus negócios, especialmente da indústria têxtil Coteminas (dona de marcas como M Martan e Santista). Gomes assumiu a gestão em 2002, quando o pai foi eleito vice-presidente, e acumula o cargo de presidente da companhia e do conselho de administração. A empresa tem capital aberto e suas ações preferenciais no último ano tiveram queda de 50,14%.